sexta-feira, fevereiro 04, 2005

RESUMO DA SEMANA

Leitura: Trinta Anos Esta Noite, de Paulo Francis e as matérias sobre a FEB na Segunda Guerra Mundial publicadas na revista Nossa História, nº 11, de janerio de 2005.

Música: "Destroy Rock and Roll" do Mylo, o CD "Despised" do Seaweed, os 12"s "Unreleased Remixes" do Brett Johnson, e "Daydream Nation" do Sonic Youth.

Comida: filé da arraia no forno com mandioca frita.

Programa Noturno: chutes da Ana e traktor.

TV: American Chopper

INFERNO CARTORIAL

Hoje fui obrigado a fazer uma das coisas que mais odeio nesse mundo: ir a um cartório. Em todo país civilizado, e também em vários incivilizados, aquilo que as pessoas fazem e escrevem tem credibilidade, é aceito como verdadeiro. No Brasil, não! Quando você assina um documento, tem que valer de um tabelião para dizer que, sim, aquilo é sua assinatura e tem validade. E quem dá esse poder ao dono do cartório? O governo. Aquele, formado por políticos que mudam de partido a bem querer; que gastam o dinheiro público como se fosse deles; que se escondem por trás de imunidades parlamentares para escapar dos mais escuzos processos. Daí vem o tal do tabelião e, se ele não comprovar que aquela cópia xerox de documento é igual ao original, ninguém aceita. É a sociedade Gerson, onde todos estão querendo enganar todos e se dar bem o tempo todo. Ainda bem que temos os cartórios para nos proteger dos vigaristas com os quais temos que lidar no dia a dia! Até conseguirmos erger um país movido pela confiança alheia, não vejo futuro para o Brasil. Que se multipliquem os cartórios!

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

PLEBE RUDE NO ANIVERSÁRIO DE SÃO PAULO

No último dia 25 de fevereiro, São Paulo, a capital, fez 451 anos e lá foi a Plebe Rude, versão 5.0, prestigiar a cidade. Não bem a cidade, mais a grande São Paulo, pois nos mandaram para o Sesc Taquera, meio longe dos cartões postais paulistanos, mas um lugar sensacional. Fico maravilhado como o setor privado funciona bem melhor que o público. O Sesc é mantido por empresários do comércio de bens e serviços empresários do comércio de bens e serviço e consegue suprir seus sócios com educação e lazer de qualidade. Se estivesse no setor público, seria uma tristeza.....

Viajo com o Txotxa, nosso novo baterista (o melhor que já toquei em minha vida! finalmente sei o quê é "seguir o bumbo"). Quando chegamos no local, Carmem Manfredini, irmão do Renato Russo tentando carreira solo, já está no palco. Para apoiá-la, convocaram uma penca de celebridades musicais ligadas ao irmão. Abro a porta do camarim e me vejo em frente do Dinho. Leva alguns minutos para a ficha cair, penso que está para prestigiar a Plebe. Claro que não! Vem cantar com a Carmem. Assim como o Kiko Zambianque, Paulo Ricardo, Bruno Biquini Cavadão e, pasmem, Philippe Seabra. Tá certo, é uma forma de prestigiar o cantor da Legião que já foi colega nosso. Não quero comentar muito a apresentação da Carmem e sua constelação de estrelas. Foi legal, mas talvez o local não tenha sido dos mais apropriados.

Também no back-stage o Phonopop, banda nova de Brasília que gosto bastante. Pena que tenha perdido o show deles que abriu os trabalhos do dia.

Depois de horas de improviso no palco, Dinho e Philippe tocando Ramones (one, two, three, four: ZZZZZZZZZZZZZZ!) e Smiths e Legião (arroz de festa em qualquer jam hoje em dia), foi nossa vez de subir e entreter os duzentos ou trezentos malucos que ficaram sobre a chuva forte para nos ver. E recompensamos eles bem! No lugar do saudoso Jander, Clemente, dos Inocentes. A sua participação na Plebe está tão boa que penso se é ele que está tocando com a gente ou a gente com ele. Divagações de um baixista............

O mais hilário é que nunca chegamos a ensaiar. O Clemente tirou as músicas de ouvido, deu uma passadinha com o Philippe e já fizemos duas apresentações. E ele vai gravar participação no novo CD! Como diria o Homer Simpson: o quê será cêra!

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

O MELHOR DISCO DE GUITARRA DE TODOS OS TEMPOS

A época, 1988, Ronald Regan no poder. Sua política conservadora, liberalizante em temas econômicos, conservadora em costumes, produzia uma névoa de desesperança que ofuscava nossa capacidade de pensar positivamente sobre o futuro. Os ricos ficavam mais ricos, os pobres mais pobres. Esse o cenário de fundo para a gravação do melhor disco de guitarra de todos os tempos da história do rock (e jazz e soul e qualquer outro estilo que use a guitarra elétrica).

Não estou me referindo a nenhum Clapton, Hendrix, Page, Beck, Fripp ou Satriani. Os guitarristas bem menos burocráticos dos que esses pseudo-mitos, são Thurston Moore e Lee Ranaldo, a banda, Sonic Youth, o disco Daydream Nation. A capa, um detalhe de um quadro do artista alemão Gerhard Richter, mostra uma vela tentando iluminar um ambiente sombrio e escuro. Sabemos que ela vai apagar, mas lutará até derreter sua última gota de cera contra as trevas. Assim como o Sonic Youth nada contra a correnteza do rock corporativo e da era Regan. Sabemos que não vai vencer, mas torcemos que faça um grande estrago.

Originalmente um LP duplo – hoje somente um CD simples – recheado com uma dúzia de músicas que levam a arte de tocar guitarra ao limite. Ouvimos acordes dissonantes, distorções que choram, microfonia harmônica e outros sons que até duvidamos serem extraídos de seis cordas. Difícil de ouvir, ainda mais se você comprou a falácia do grunge e rock “alternativo” patrocinado pela MTV. Esse disco requer um certo esforço de inteligência em descobrir o formato das músicas, as melodias, os temas. Requer atenção constante do ouvinte, que é recompensado com uma obra completa, séria e muito divertida, de uma forma nietchiana.

Mas as guitarras – as guitarras! O quê esses dois fazem é sublime, artesanalmente complicado, talvez até irreproduzível da mesma forma, do mesmo jeito, em outra tomada da mesma música. Uma maçaroca sonora linda de ouvir, que mexe mais do que a Marquês de Sapucaí em dia de desfile, mas de uma forma mais tensa do que a favela comemorando seus poucos dias longe da pobreza no carnaval.

O esforço criativo deve ter sido enorme, pois após esse disco, o Sonic Youth lançou somente trabalhos medíocres. Um marco.

O PIOR PRESIDENTE BRASILEIRO

Quem foi o pior presidente que o país já teve? Quem foi o dirigente do executivo que mais fez mal ao Brasil? Pergunta difícil de responder, a concorrência é acirrada. Collor, com certeza, está na ponta da língua da maioria, mas, analisando friamente e tirando suas cleptoloucuras, têm outros muito piores. Teve um tal de Arthur Bernardes que governou de 1922 a 1926 que vetou a participação de jogadores negros na seleção (desde de sempre o chefe do executivo acha que é também técnico do scratch canarinho). Foi o pior desempenho de nossa equipe numa copa mundial. Mas tirando sua capacidade racista esportiva, não afundou tanto a moral nacional como outros.

Na minha opinião, o pior, o mais nefasto ao Brasil foi José Sarney. Tudo bem, temos Itamar, que poderia ganhar o prêmio do presidente comédia, e os militares, que poderiam receber outros prêmios caluniosos, mas o presidente maranhense é au concour, ganha de braçada essa parada. Nem político ele é, pois não sabe fazer aquilo que é fundamental para qualquer bom político: tomar lado e defender seu ponto de vista. Sarney só sabe tomar um lado: aquele que está no poder. Defendia os militares, quando o barco da ditadura começou a naufragar, como todo bom rato, foi o primeiro a abandonar o navio e se arrastou para a chapa dos civis, pousando de vice do Tancredo. Azar nosso, o primeiro bateu as botas e o segundo assumiu. Sarney muda de time com mais freqüência e facilidade do que jogador de futebol em fim de carreira. Está no PMDB, mas age no PT, quer mais? Ele é maranhense e foi eleito pelo Amapá!

Se formos traçar um evento econômico que marcou mundialmente o Brasil no século passado e que produz efeitos negativos sobre a percepção de investidores até hoje, identificamos Sarney como o mandante. Refiro-me à moratória esdrúxula, totalmente sem necessidade ou embasamento técnico ocorrida em janeiro de 1987. Todo o esforço nacional de reconquistar a confiança externa poderia ter sido evitada, mas José teve que brincar de Scrooge.

Basta olhar para o Maranhão para sentir o câncer que é o Sarney e sua família. Consomem tudo, acabam com qualquer possibilidade de crescimento ou melhoramento do seu povo. Qual o único estado brasileiro a ver seus índices de desenvolvimento, crescimento, analfabetismo e mortalidade infantil piorarem? Maranhão! Claro que não na ilha dos Sarney! Aliais, eu acho hilário que cada vez que Rosana ou José adoecem, voam para São Paulo para serem tratados. Se houvesse justiça no Brasil, deveria ser internados em um hospital de Imperatriz. Daí, sim, talvez entrassem em contato com seus ignorantes eleitores.

Eu gravei a defesa que o José fez de sua filha, Rosana, no Senado, quando a polícia descobriu uma quantia absurda de reais sujos em seu escritório. Que pateta! Boto nas festas lá em casa para animar os convidados. Mais hilário do que qualquer Jerry Lewis! Se o PMDB tivesse um pingo de decência, essa seria a ocasião de dar um pé na bunda do bigodudo.

José Sarney, eu não compraria um carro usado desse homem!

segunda-feira, janeiro 31, 2005

DESTROY ROCK N ROLL

No final do ano passado, foi lançado na Inglaterra, um disquinho muito legal chamado Destroy Rock n' Roll, por um tal de Mylo. Coisa divertida de ouvir, que a gente gosta muito durante uma semana e depois não aguenta e não quer mais escutar. No entanto, a idéia da canção me fez pensar muito sobre nossas celebridades musicais. Mylo acusa uma série de artistas de destruirem o rock, pois dão mais importância às suas imagens do quê, necessariamente, suas músicas. Lista vários, desde Herbie Hancock, até o Duran Duran, passando por David Bowie, Madonna e Men at Work. A pena decretada: que queimem nos fogos da obscuridade para toda a eternidade, certamente uma condenação que faz qualquer artista ficar com pressão baixa, dor de barriga, ou uma combinação dos dois, e sair correndo para seu guru/psicanalista de plantão.

E no Brasil, sobraria quem? Wanesa Camargo, Kelly Key, KLB, Rouge, Caetano Veloso, Gilberto Gil, pagodeiros, roqueiros e outro musiqueiros que impestam as ondas de rádio e TV já estariam em brasas, caso a decisão fosse séria. Talvez um Chico Buarque, mas o esquerdinha sabe muito bem manipular aquela imagem de pegador-classe-média-garoto-tímido que tanto arranca suspiros de nossas avós. Lenine e Chico Cesar? Devem estar brincando, né? Eu nem conheço a música desses caras, mas consigo, infelizmente, visualizá-los. Charlie Brown, CPM 22? Em chamas! Los Hermanos? Num primeiro momento, talvez fossem salvos, mas aquelas barbas e camisas polo? Não, é tudo muito bem calculado, mais que a música que tocam. Fico na dúvida se alguém se salvaria.

O problema toda é fazer o quê com as cinzas resultantes desse tal "fogo da obscuridade". Se nem conseguimos nos livrar de nosso lixo atômico, como espera que lidemos com esse lixo, que é muito mais letal?

O PESADELO DE DOM BOSCO

Reza a lenda que Dom Bosco, em 1893, antecipou, por meio de um sonho, a criação de Brasília. Na sua visão, o santo previu que “entre os paralelos 15º e 20º aparecerá aqui uma grande civilização, a terra prometida, onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.” Também anteviu que quando o mundo acabar, essa cidade sobreviverá, sozinha, para dar continuidade a raça humana na terra.

O sonho de Dom Bosco, na verdade, é o nosso pesadelo. Imaginem só a destruição de todos e de tudo, menos Brasília e seus habitantes. Quem vai estar aqui para guiar os sobreviventes, organizar essa nova sociedade abatida pelo holocausto final? Qual o grupo que tomará as rédeas da situação caótica dominante? Infelizmente, Roriz e sua facção. O governo continuará centrado na Assembléia Distrital, que se achará no direito de exercer a gerência da cidade e, se o sonho realmente tiver se tornado realidade, do mundo. Daí, nós estamos fritos!

Se hoje, com todo o controle externo e vigilância da imprensa, já roubam, usurpam o que é público e privado de acordo com suas vontades, imaginem nessa nova ordem mundial, onde essas barreiras deixariam de existir? Invasões ocorreriam a torto e direito. Já consigo até ver a Esplanada dos Ministérios invadida por barracos, a grama cortada por vias de terra, meninos barrigudos jogando bola, o gol pintado na fachada lateral do Ministério da Defesa. A informalidade seria a regra vigente. Vans piratas abarrotadas transportando os pobres para cima e para baixo. O comércio legal deixaria de existir, seriam destronados por camelôs gananciosos que se estabeleceriam em qualquer canto, dentro das quadras, dentro dos blocos! Os poucos comerciantes que conseguissem sobreviver entrariam na onda, estendendo os limites de suas lojas para além da área legalmente permitida. Seria o caos, onde nada é de ninguém, tudo é do Roriz, Estevão, Otávio, Tartuce, Edmar e outros da mesma corriola.

Benício Tavares, aproveitando a derrubada da hipocrisia da sociedade, estaria desimpedido para fundar seu harém de menininhas púberes e pré-púberes; podendo levá-las para passear em sua cadeira de rodas à vontade. Navegariam pelo Lago Paranoá sem serem importunados. Tartuce Vigão dominaria a distribuição de alimentos e outros mantimentos necessários aos sobreviventes lotados no Planalto Central. Claro que a um preço extra-inflacionado e de procedência duvidosa, mas quem vai contestar isso na nova comunidade que agora controlam? O monopólio da distribuição de combustíveis estaria na mão do dono dos Postos Cascão, mas com isso já estamos acostumados, não seria uma mudança tão radical. Os irmãos Passos tomariam não só conta da ciclovia do Lago Norte, mas a península inteira, quiçá a orla do lago.

A cultura seria dizimada a um conceito virtual. Para que escolas? a maioria dos distritais nem sabem para que servem mesmo. Livros seriam queimados em fogueiras públicas para aquecer os favelados nas noites frias da seca. Jornalistas seriam crucificados, os jornais fechados. O único tablóide a circular seria o Jornal da Comunidade, coisa que os criadores de hamsters agradeceriam, pois continuaria o fornecimento gratuito do pasquim. Direto da caixa de correio para a gaiola, para ser usada como forro.

Enfrentariam alguma oposição? Sem dúvida. É provável que os deputados estaduais e senadores, acastelados no Congresso Nacional, achem que o poder lhes cabe. Mas quem controla a polícia? Roriz e sua gangue! Logo acabariam com qualquer disputa pela governância do mundo. Quem se opuser, vai acabar encravado de balas num paredão qualquer. Tomados pela tsunami de pequi, calados, aceitaríamos nossa condição de massa de manobra dos gananciosos da Assembléia Distrital, novo quartel-general da autoridade.

Nem todos, é claro. Augusto Carvalho, Regufe, Chico Floresta e outros oposicionistas profissionais, não sabendo fazer mais nada, se refugiariam em cavernas, de onde partiriam pequenos atos de terrorismo contra o novo governo, buscando libertar as massas das garras do tirano Roriz. Regufe cansaria suas cordas vocais transmitindo mensagens de luta e levante por ondas de rádio pirata, que ninguém ouviria, pois estariam, por lei, ouvindo as estações oficiais: Radio Atividade, Jovem Pan e outras que pertencem aos Distritais. Talvez consigam roubar um avião para jogá-lo nas torres gêmeas do Congresso, mas não conseguiriam voluntário suicida. Ninguém da cúpula da oposição iria querer o trabalho, pois acham mais servia ficarem enfurnados nas cavernas xingando o governo e lamentando a falta de espaço de manobra. O povo, que a esquerda acha que deve se rebelar, estaria satisfeito recebendo os vales alimentação, leite, gás, escola, rede, dominó e outras formas de populismo barato. Para que se explodir num avião?

Só podemos concluir que Dom Bosco comeu uma baita feijoada, que resultou no pesadelo, e nos poupou dos detalhes macabros. Só contou a visão pela metade, que a terra de “riquezas inconcebíveis” virá, mas omitiu na mão de quem ficará esses tesouros. Por isso, quando o mundo acabar, espero estar num lugar mais decente e me juntar aos outros afortunados que não terão que participar desse mundo novo. Iraque ou Afeganistão, talvez.