segunda-feira, janeiro 31, 2005

O PESADELO DE DOM BOSCO

Reza a lenda que Dom Bosco, em 1893, antecipou, por meio de um sonho, a criação de Brasília. Na sua visão, o santo previu que “entre os paralelos 15º e 20º aparecerá aqui uma grande civilização, a terra prometida, onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.” Também anteviu que quando o mundo acabar, essa cidade sobreviverá, sozinha, para dar continuidade a raça humana na terra.

O sonho de Dom Bosco, na verdade, é o nosso pesadelo. Imaginem só a destruição de todos e de tudo, menos Brasília e seus habitantes. Quem vai estar aqui para guiar os sobreviventes, organizar essa nova sociedade abatida pelo holocausto final? Qual o grupo que tomará as rédeas da situação caótica dominante? Infelizmente, Roriz e sua facção. O governo continuará centrado na Assembléia Distrital, que se achará no direito de exercer a gerência da cidade e, se o sonho realmente tiver se tornado realidade, do mundo. Daí, nós estamos fritos!

Se hoje, com todo o controle externo e vigilância da imprensa, já roubam, usurpam o que é público e privado de acordo com suas vontades, imaginem nessa nova ordem mundial, onde essas barreiras deixariam de existir? Invasões ocorreriam a torto e direito. Já consigo até ver a Esplanada dos Ministérios invadida por barracos, a grama cortada por vias de terra, meninos barrigudos jogando bola, o gol pintado na fachada lateral do Ministério da Defesa. A informalidade seria a regra vigente. Vans piratas abarrotadas transportando os pobres para cima e para baixo. O comércio legal deixaria de existir, seriam destronados por camelôs gananciosos que se estabeleceriam em qualquer canto, dentro das quadras, dentro dos blocos! Os poucos comerciantes que conseguissem sobreviver entrariam na onda, estendendo os limites de suas lojas para além da área legalmente permitida. Seria o caos, onde nada é de ninguém, tudo é do Roriz, Estevão, Otávio, Tartuce, Edmar e outros da mesma corriola.

Benício Tavares, aproveitando a derrubada da hipocrisia da sociedade, estaria desimpedido para fundar seu harém de menininhas púberes e pré-púberes; podendo levá-las para passear em sua cadeira de rodas à vontade. Navegariam pelo Lago Paranoá sem serem importunados. Tartuce Vigão dominaria a distribuição de alimentos e outros mantimentos necessários aos sobreviventes lotados no Planalto Central. Claro que a um preço extra-inflacionado e de procedência duvidosa, mas quem vai contestar isso na nova comunidade que agora controlam? O monopólio da distribuição de combustíveis estaria na mão do dono dos Postos Cascão, mas com isso já estamos acostumados, não seria uma mudança tão radical. Os irmãos Passos tomariam não só conta da ciclovia do Lago Norte, mas a península inteira, quiçá a orla do lago.

A cultura seria dizimada a um conceito virtual. Para que escolas? a maioria dos distritais nem sabem para que servem mesmo. Livros seriam queimados em fogueiras públicas para aquecer os favelados nas noites frias da seca. Jornalistas seriam crucificados, os jornais fechados. O único tablóide a circular seria o Jornal da Comunidade, coisa que os criadores de hamsters agradeceriam, pois continuaria o fornecimento gratuito do pasquim. Direto da caixa de correio para a gaiola, para ser usada como forro.

Enfrentariam alguma oposição? Sem dúvida. É provável que os deputados estaduais e senadores, acastelados no Congresso Nacional, achem que o poder lhes cabe. Mas quem controla a polícia? Roriz e sua gangue! Logo acabariam com qualquer disputa pela governância do mundo. Quem se opuser, vai acabar encravado de balas num paredão qualquer. Tomados pela tsunami de pequi, calados, aceitaríamos nossa condição de massa de manobra dos gananciosos da Assembléia Distrital, novo quartel-general da autoridade.

Nem todos, é claro. Augusto Carvalho, Regufe, Chico Floresta e outros oposicionistas profissionais, não sabendo fazer mais nada, se refugiariam em cavernas, de onde partiriam pequenos atos de terrorismo contra o novo governo, buscando libertar as massas das garras do tirano Roriz. Regufe cansaria suas cordas vocais transmitindo mensagens de luta e levante por ondas de rádio pirata, que ninguém ouviria, pois estariam, por lei, ouvindo as estações oficiais: Radio Atividade, Jovem Pan e outras que pertencem aos Distritais. Talvez consigam roubar um avião para jogá-lo nas torres gêmeas do Congresso, mas não conseguiriam voluntário suicida. Ninguém da cúpula da oposição iria querer o trabalho, pois acham mais servia ficarem enfurnados nas cavernas xingando o governo e lamentando a falta de espaço de manobra. O povo, que a esquerda acha que deve se rebelar, estaria satisfeito recebendo os vales alimentação, leite, gás, escola, rede, dominó e outras formas de populismo barato. Para que se explodir num avião?

Só podemos concluir que Dom Bosco comeu uma baita feijoada, que resultou no pesadelo, e nos poupou dos detalhes macabros. Só contou a visão pela metade, que a terra de “riquezas inconcebíveis” virá, mas omitiu na mão de quem ficará esses tesouros. Por isso, quando o mundo acabar, espero estar num lugar mais decente e me juntar aos outros afortunados que não terão que participar desse mundo novo. Iraque ou Afeganistão, talvez.

2 comentários:

Anônimo disse...

O sonho (ou pesadelo) de Bom Bosco era algo muito comum entre os colonizadores. Eles levavam milhares de picaduras, de mosquitos e etc, e assim pegavam febres malucas. Então sonhavam com uma cidade maravilhosa.

Os espanhois chamavam essa cidade de "Eldorado". Muitos outros sonharam com isso. Até um amigo meu, que bebeu ayahuasca, sonhou com essa cidade tambem.

Anônimo disse...

Meu caro,
Pondere suas considerações! Se Dom Bosco morreu em 31 de janeiro de 1888 como ele poderia ter sonhado em 1898. Vossa Senhoria foi o intérprete psicografando? Por favor, peço que respeite a história de grande homem.