sexta-feira, julho 07, 2006

O clipe da Ida para o Fantástico.

Antigamente, nos idolatrados e explorados anos 80s, não existia MTV. O máximo para um artista era ter seu clipe vinculado no Fantástico, aquele programa dominical da Rede Globo. Era uma coisa estranha, a emissora bancava um vídeo da banda, que era mostrado somente uma vez no programa e pronto, mais nenhuma exibição. Acontece que essa única aparição rendia um conhecimento nacional, tendo em vista a audiência do Fantástico.

A EMI certamente deve ter pago uma baba para a Globo fazer o clipe de A Ida para o Fantástico. Impossível aparecer no programa sem um jabazinho, isso eu tenho consciência. Mas o pior era que o diretor do clipe tinha todos os poderes para criar o roteiro, escolher o elenco e filmar. A banda não apitava nada. E assim foi.

Na época, o clipe que mais fazia sucesso era o Beat It do Michael Jackson (ou teria sido Bad, tanto faz), onde tinha uma luta de gangues interpretada por dançarinos, que faziam suas evoluções à noite, com neblina, em cima de um asfalto molhado. E não é que o diretor do clipe de A Ida para o Fantástico teve a mesma idéia? Coincidência pura! Então ficou assim: duas gangues, uma liderada por mim, outra pelo Jander. Cada uma formada por aqueles figurantes globais, vestidos com a visão roqueira dos figurinistas da Globo. Isso significava roupas com cores berrantes, estrategicamente rasgadas, cabelos cheios de gel e maquiagem carregada. Meio ridículo, resumindo. O Philippe ficava entre as duas gangues com seu violão, cantando. E o Gutje...... não me lembro, acho que fazia parte da gangue do Jander (chegou atrasado outra vez).

O local da gravação foi o porto do Rio de Janeiro, com o chão devidamente molhado e o ar cheio de fumaça geradas por aquelas máquinas fedorentas. Ficou horrível! Philippe Jackson não pega bem. Eu tinha passado o dia na praia e, por alguma razão, queimei só metade do rosto. Tinha uma linha divisória que passava entre os olhos e corria pelo nariz. Metade vermelho, metade branco-alemão. A maquiadora ficou puta, teve um trabalhão para deixar como o diretor queria.

Hoje, dou risadas com essa história, mas na época nos sentimos usados e manipulados.

quinta-feira, julho 06, 2006

Você deveria estar preocupado?


1. Você convidaria a Yoko Ono para elevar a moral de sua banda? E que tal o Romário ou Edmundo para formar uma equipe que precisa ser unida para vencer? Que tal incluir o Paulo Maluf num negócio, como sócio? Pois isso é o Hugo Chaves entrando para o Mercosul. Depois do que ele fez com a Comunidade Andina, como é que o frágil Mercosul irá sobreviver sendo mais um palanque do ditador venezuelano? Como que isso afeta você? Pode não perceber, mais graças ao pacto de livre comércio entre Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil, muitas das coisas do nosso dia-a-dia são bem mais baratos do que eram. Sem falar que o Brasil aumentou muito sua competitividade e exportou mais. O desemprego e inflação te preocupam? Deveriam.
2. Que tal trabalhar durante nove dias e receber equivalente a três meses de salário? Largue já seus estudos e se filie a um partido! Vá virar deputado, senador, rapaz! Como que isso afeta você? Quem paga a conta? De onde vem esse dinheiro? Da educação, saúde, segurança.....
3. Sessenta por cento do Distrito Federal é considerada Área de Proteção Ambiental, mais conhecidas como APAs. Isso se deve ao fato de que o eco sistema do Planalto Central ser extremamente frágil. As áreas de proteção foram criadas para não desestabilizar a natureza, evitando que se tornasse um deserto. Só existe um fiscal do Ibama encarregado de fiscalizar todas as APAs do DF. Seu maior inimigo: o governo distrital, que tem conluio com os grileiros disfarçados de empresários imobiliários e permitem a invasão e construção nesses terrenos. As APAs são de responsabilidade do governo federal, que não está nem aí. Claro, não dá voto. Como isso afeta você? Água mais cara, clima mais seco, mais calor de dia, mais frio a noite. Afinal de contas, você tem vocação para bedoíno?
4. Existe um movimento no âmbito do Congresso Nacional de investigar as ONGs que defendem a Floresta Amazônica. Querem difamar essas organizações, acusando-as de receber dinheiro ilegalmente. Claro que é promovido pelo lobby dos agricultores que estão cada vez mais invadindo a região, transformando floresta em mares de soja. Quem são esses congressistas que questionam de onde vem o dinheiro para defender o verde? Eu quero é saber de onde vem o dinheiro que alimenta as contas deles! Isso porque, nesses últimos meses, as ONGs têm sido muito atuantes, denunciando grilagens, invasões e desmatamentos. Óbviamente, incomodaram alguém. Como isso afeta você? Quando a última árvore tiver sido cortada, o último verde queimado, vão descobrir que não dá para comer dinheiro.
5. Não houve mais nenhuma notícia do lançamento do CD da Plebe nesse blog. Será que o André está sem notícias ou está segurando as boas para só serem divulgadas no hora certa? Como que isso afeta você? Pode ter uma surpresa em breve!

terça-feira, julho 04, 2006

Sombras do Passado numa Esteira Automática



A MTV a palmos do meu rosto, e por mais que eu corresse, não adiantava, não conseguia me distanciar. A opção era descer da esteira, mas não é para isso que eu tinha acordado tão cedo nessa madrugada invernosamente cinza de terça-feira. O jeito foi aumentar a inclinação, ajustar a velocidade e assistir o programa LAB sem som. As academias modernas têm isso, além de querem arrumar nossos corpos, desconfio que possuem uma agenda oculta de obliterar nossa capacidade de raciocinar. Se não, como é que se explica a cacofonia multimídia que assombra os que se sacrificam para manter a forma? TVs de plasma estrategicamente penduradas nas paredes em ângulos que, não importa em que aparelho você esteja malhando, estará vendo pelo menos dois programas. Sim, dois, pois cada TV está sintonizada num canal – e não estou me referindo à TV aberta! Isso, com o volume desligado. São só imagens piscando num ritmo caledoscópico reduzindo os pensamentos dos atletas a nada. Como fundo sonoro, um tecno a - lá Jovem Pan dos infernos. Bate-estaca da pior qualidade. É um hipnotismo coletivo que tem como meta aniquilar qualquer vontade dos presentes a não ser uma: se exercitar. Mas é um exercício sem prazer, tipo vício em crack, quando a dose anterior não satisfaz mais. Minha proteção: um iPod, hoje munido com jazz bebop do Charlie Parker. Mas o fone de ouvido quebrou e fui obrigado a correr os seis quilômetros nas condições acima descritas.

Dois clipes foram exibidos, um após o outro, que me fizeram voltar ao passado e analisar meus gostos e, agora confessos, erros. Primeiro a data: 1987. Reynolds, no seu livro sobre o post-punk (melhor livro de rock de 2005, pelo NME), definiu o fim desse maravilhoso movimento como o ano de 1984. Portanto, os vídeos estão no calendário três anos após essa data. A Plebe estava lançando o Nunca Fomos e, por coincidência, as duas bandas que eu mais ouvia eram The Cult e New Model Army, que tinham colocado no mercado, respectivamente, os discos Love e Ghost of Caine.

Deu deja-vu vendo os clipes. Além disso, vergonha. Vergonha, vergonha, vergonha! Quero pegar todas as cópias do vídeo A Ida (não a do Fantástico, que também é uma merda, a outra versão, a oficial) e queimá-las. Jogar no reator de Angra I e reduzir tudo a átomos! Como que eu, uma pessoa esclarecida, pude, um dia, querer me vestir de Ian Astbury e Billy Duffy? Vendo o vídeo de Love Removal Machine vi o quão ridículos eram. Não só isso, o pior é que eles são traíras, vira-casacas, traidores.

O Death Cult estava bem envolvido na onda post-punk de destruir-para-reconstruir o rock. Tinham um hit importante, Fatman, que trazia tambores baseados nos índios norte-americanos, obsessão do vocalista. Tinha o look certo, tentando sair dos clichês do rock mainstream. Quando o pessoal do post-punk se vestia daquele jeito, ridicularizava os Poisons, Guns n Roses e Vipers da vida. A música era agradavelmente revolucionária, não no termo marxista, mas no sentido boêmio, inteligente, mas individualista. Daí, de uma hora para a outra, largam o Death, ficam com o Cult e fazem a pior paródia de uma banda de rock. Cabelos compridos lavados com galões de condicionador, calças de couro justinhas, jaquetas jeans rasgadas, bandanas (arg!), paredões Marshall (argh! arg!), gritinhos, solos chatos e letras despresíveis.

Eu vendo tudo isso sem som e pensando: que merda! que merda! Mas tiveram o fim que mereciam: o pessoal que gosta do rock tradicional os desprezou. Por que ouvir uma cópia mal feita do AC/DC, quando se tem o verdadeiro lançando não sei quanto discos (todos iguais) por ano? E, claro, os esclarecidos do post-punk abaixam os olhos quando passam pelos músicos do Cult, contendo uma risadinha e evitando contanto visual que pudesse acusar: traíras!

Em seguida, o New Model Army invadiu a tela de plasma com o excelente 51st State of America. Igualmente cabeludos, mas sem o creme rinse e as horas no salão. Cabelo comprido pela opção: ou gasto minhas escassas moedas num corte, ou vou tomar outra cerveja. A cerveja sempre ganhava. Mechas gordurosas, cheias de nós, cabelo normal. Roupas de couro, tudo bem, mas folgadas, provavelmente compradas de segunda mão, igualmente gordurosas, usadas para combater o frio, não pelo fashion. Dentes tortos! Um alívio para minha alma, não é que acertei em alguma coisa em 1987?

Clipe bonito, sem mega-produções, praticamente todo filmando fora da base americana na Alemanha. Letra consistente, dava para ver que eles acreditam naquilo que cantam. E não é que hoje eu tenho o CD do New Model Army, mas não do Cult? Ufa! Terminou a sessão da esteira, pude voltar para casa!

segunda-feira, julho 03, 2006

O prazer de torcer.


Onde estão nossos heróis? Na cadeia ou no cemitério. Então quem são aqueles aí? São uns covardes!

Não adianta, quem quer fazer história tem que sair na hora certa. Kafú, Roberto Carlos e Ronaldo deveriam ler mais Jack Kerouac. Talvez, se lessem, lembrariam da frase acima e sairiam de cena por cima da carne seca. Agora, não estando “presos ou mortos”, não são mais heróis no imaginário coletivo, mas sim, covardes.

E o que temos que aprender com a Argentina? Vejam a diferença: cinco mil argentinos receberam a sua seleção em Buenos Aires. O scratch dos hermanos foi recebido com vivas e tapinhas nas cosas. Tudo bem, não ganhamos essa, mas fizemos bonito e vamos ganhar as próximas.

Aqui, dezenas de mal intencionados fizeram plantão nos aeroportos internacionais do Rio e de São Paulo para vaiar os pouco jogadores que voltaram e a comitiva técnica. Tudo bem que o Parreira foi incompetente, mas classificou o Brasil nas eliminatórias e levou o time para o título em 1998. Não merecia fugir pelas portas do fundo do Galeão, como um bandido.

A turma gritava: Vergonha! Vergonha! Vergonha Nacional! Vergonha nacional é depositar todas as esperanças de uma nação em cima de um esporte. Ainda mais o único que não tem dedo do governo no meio. A Fifa é uma entidade cem por cento privada. Tem seus interesses. É mera coincidência que as seleções usam as bandeiras dos seus países. Teríamos muito mais para torcer se a imprensa desse o valor que outros esportes, pesquisa científica e vôos tecnológicos Made in Brazil merecem.

Bem vindos ao mundo real!