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Todos sabem do plano do Malcom McLaren de acabar com o rock n roll, criando a antítese da banda roqueira, os Sex Pistols. Todos eram monitorados e controlados pelo empresário, que criou a imagem negativa associada, à época, ao Johnny Rotten. Aproveitando uma ida do Malcom aos Estados Unidos para encontros com gravadoras, o Johnny conseguiu escapar dos olhos vigilantes do escritório e aceitou gravar um programa especial para a Capital Radio, chamado “O Punk e Sua Música”. Isso foi em meados de 1977.
O interesse da população britânica estava no pico. Ele só era conhecido por causa da entrevista do Bill Grundy, na TV, e algumas histórias inventadas pelo Malcom e vazadas para os jornais. Nem entrevistas ele tinha liberdade de fazer. Para o espanto de todos, o John Rotten que se apresentou no programa era um homem culto, com um gosto musical refinado! Não tocou os óbvios Iggy Pops e MC5s que já eram clichês em citações de outros punks. Tocou reggae, Captain Beefhart, Peter Hammil, Can e outros grupos e estilo de música que tinham como denominador comum o experimentalismo sonoro. Falou um inglês educado, refinado e deixou claro que para ser rebelde, não é necessário ser/fingir ser burro e ignorante. Pelo contrário!
Hoje esse programa de rádio é considerado a espinha dorsal do que viria a ser o post-punk, o movimento musical mais interessante da história do rock n roll, mas também o mais ignorado. Com o final dos Pistols, os punks se dividiram em duas linhas. Primeira, as bandas que colocaram uma camisa de força no estilo, ditando regras de comportamento e sonoridade. Sham 69, Cockney Rejects, Angelic Upstars, GBH, Exploited e outros. Foram caindo nas próprias armadilhas de patrulhamento ideológico e fizeram uma música repetitiva e chata.
Já a outra linha levou adiante o experimentalismo. Nada era proibido. Claro que todos abominavam o rock tradicional, odiavam o Chuck Berry, considerado o pai do rock chato (com razão!) e não queriam nada a ver com as amarras que o punk tradicional estava impondo. Foi uma época muito criativa, na qual semanalmente havia lançamentos importantíssimos e a gente não podia perder um. Au Pairs, Gang of Four, Killing Joke, Magazine, Pere Ubu, Devo, Pop Group, Slits, só para mencionar alguns.
Foi nesse clima que a Plebe Rude foi formada. Isso corre no nosso sangue até hoje. Para uma pesquisada visual desta época, veja o filme Urgh! – Music War. Não é difícil de baixar no e-mule. Quem sabe inglês, vale muito a pena a leitura do livro Rip It Up and Start Again, do Simon Reynolds (vejam o site do autor ) . O post-punk foi tudo!
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