Clipes promocionais de músicas de artistas surgiram nos meados da década de 1960, quando mega-bandas como os Rolling Stones e os Beatles se tornaram tão grandes que era impossível atenderem toda a demanda de aparição em TVs pelo mundo todo. A solução foi filmá-los fazendo mímica para seus últimos sucessos e mandar o clipe para àquelas estações que quisessem exibi-los. No seu formato inicial, eram bem toscos e ingênuos. No entanto, as raízes dos vídeos que conhecemos hoje podem ser traçadas para as seqüências musicais de filmes como Help! e Hard Days Night.
Mas foram os Monkees, aquela banda sempre acusada de copiar os Beatles, que, no seu programa televiso semanal, que cunharam o que viria a ser a programação de vídeos. No programa, sempre havia clipe para uma música da banda, mostrando, além dos músicos tocando (fazendo mímica) seus instrumentos, uma história que tinha a ver com as letras (ou não – o programa, um favorito deste que lhes escreve, era muito doido).
Não é a toa que a idéia da MTV surgiu da cabeça de um ex-Monkee, o Michael Nesmith, o mais sério do quarteto trapalhão. Quando deixou a banda, nos anos 1907s, ele começou a criar um monte de clipes para promover a sua carreira solo. Daí, para a criação de uma estação de TV que passasse exclusivamente vídeos musicais, foi um pulo.
Mas no começo, acreditem se puderem, a MTV não tinha acesso a grande número de clipes. Tinham que mendigar nas gravadoras para que liberassem os vídeos promocionais de graça, sem cobrar pela exibição. Não havia caído na cabeça obtusa dos executivos fonográficos (assim como hoje, são lentos para ver oportunidades) a força que isso teria nas vendagens de seus produtos.
À época, vendas de discos estavam em livre queda. As grandes rádios americanas baseavam os seus playlists em consultorias contratadas para planejar a sobrevivência das mesmas. Para tanto, aconselhavam, e elas idiotamente aceitavam, só tocar rock tradicional, antigo. Bem, se é antigo, é bem provável que o ouvinte já tenha o disco, então não comprava nada de novo. Acontece que essas bandas tradicionais, Lynard Skynard (eca!), REO Speedwagon (Deus nos livre!), Deep Purple, Sabath e outras dessa laia não tinham vídeos promocionais. Quem tinha eram as chamadas bandas New Wave – Elvis Costelo, Talking Heads, Thomas Dolby, Thompson Twins – que tinham uma base artística bem mais abrangente que a musical. Então, a MTV passou a tocar esses, por falta de outros clipes.
Foi a salvação da indústria! Onde tinha MTV, vendas de novos artistas começaram a subir, e muito. De uma hora para a outra, o canal parou de solicitar os clipes e passou a negociar com as gravadoras para tocá-los, com vantagens para o canal, claro. Foi o fim da novidade, da chance de mostrar novos artistas. Claro que as empresas fonográficas investiam naqueles que dariam o maior retorno, os velhos artistas, as Madonnas da vida, os mais maleáveis e vendáveis.
Uma história bacana – e triste ao mesmo tempo – é a relação do Devo com a MTV. Dois integrantes do Devo sempre foram defensores do vídeo clipe. O Casale e/ou Statler dirigiam todos os clipes da banda, tinham um acervo imenso dos hits devianos. A MTV chamou eles para uma reunião e literalmente implorou que deixassem exibir os vídeos de graça. Eles aceitaram, crente que seria para sempre um canal que apoiaria os novos diretores, novos conceitos e novas bandas, sem preconceito, sem jabá. Quando a MTV estourou, o Devo encaminhou o seu novo clipe, da música That’s Good. Qual a surpresa dos caras quando os executivos da MTV quiseram censurar a cena de uma batata frita passando por dentro de um donut – desculpa fiada para não tocarem o clipe. Como o Devo não tinha cacife para negociar, nunca tocou.
Achei interessante todos conhecer como funciona o mundo executivo-musical. Ninguém é inocente (talvez somente o Devo), não há almoço grátis. Fico imaginando o que poderia ser uma MTV vibrante, inovadora, independente. A brasileira dá de dez na americana, que é totalmente controlada pelas megas corporações. Ainda consigo assistir a nacional. E nossas VJs dão de dez nas gringas, he he he.
(Fonte da informação: MTV and the Second British Invasion, artigo escrito pelo Simon Reynolds).