sexta-feira, fevereiro 29, 2008

1988: Mico em Rezende

Essa é a última estória de micos. Não quero parecer nenhuma banda que promove o uso do álcool, como existem várias por aí. A Plebe sempre teve a postura de rejeitar essas fugas fáceis. Como disse, Keith Richards só existe um – graças a Deus! – e não precisamos de seus clones em nossos palcos tupiniquins.

Mas a carne é fraca e o álcool forte. Essa vez foi em Rezende, interior do Rio de Janeiro. Estávamos lá tocando no que seria uma comemoração da inauguração de uma fábrica, talvez da Coca-Cola, talvez da Heineken, não me recordo. Por alguma razão, a prefeitura estava envolvida, tipo mais arrecadação de impostos, então vamos comemorar.

Só sei que o mé corria solto e, não tendo mais nada para fazer, comecei a secar os copos. Multidão lá fora e a bebida descendo goela abaixo. O prefeito – ou dono da fábrica, não me recordo – estava me acompanhando passo-a-passo, ou melhor, gole-a-gole. A conversa foi ficando animada, a vontade de tocar aumentando e de repente viro para o colega e falo: “vamos começar essa merda!”.

Os dois, bêbados como gambás, subimos no palco, ele pega o microfone, faz um discurso e anuncia a Plebe. O público todo lá, na expectativa, só que não era hora do show, cabos ainda estavam sendo conectados, luzes sendo afinadas, em fim, a gente estava programado para subir uma hora mais tarde. Claro que o empresário, Pedro Ribeiro, irmão do Bi, saiu feito um louco a cata do restante da Plebe, que estavam curtindo o evento, tranqüilos, sabendo que o show seria bem mais tarde. E o bebum aqui no palco com o baixo esperando meus companheiros de banda.

De repente vejo o Pedro voar no palco, me agarrar, puxar para o camarim e pagar um sapo pelo acontecimento. Durante o show, não melhorou muito. Teve uma hora que queria aumentar o som do baixo. Tinha uma coluna que eu crente que era a caixa de som. Colo meu ouvido na coluna e começo a subir o volume – sem notar diferença nenhuma. Claro que o som grave aumentou à quinta potência, atrapalhando todos os outros. Só eu que não notava!

Dito tudo isso, hoje só toco sóbrio. A adrenalina e endorfina gerada naturalmente pelo corpo é suficiente para me deixar em estado de euforia durante um show. Tem também o lado de respeito pelo público, que não está lá, pagando seu dinheiro suado, para ver músicos bêbados e/ou drogados fazer palhaçadas. Eu respeito os plebeus que vêm aos shows e quero que tudo seja perfeito para eles.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

1986: Mico em Santos


Longe de mim promover ou incentivar o uso do álcool ou outros entorpecentes. Acho deplorável bandas que fazem uma bandeira do quão “loucos” são. O rock não precisa de clones de Keith Richards. A idéia aqui é contar alguns “causos” da Plebe on the road. Não tentem fazer nada disso em casa!

Em 1986, Siouxsie & the Banshees tocou no Brasil. Naquela época, nem mosquito estrangeiro se apresentava em terras tupiniquins, quanto mais uma banda que admirávamos. Nos convidaram para abrir os shows em Sampa e o Ira! os no Rio de Janeiro. Pegamos o filé, seriam duas apresentações em São Paulo e uma em Santos. Até hoje me lembro da frustração do Dado, querendo muito que a Legião tivesse sido convidada, mas sabendo que o Renato não queria dar shows....

Bom, lá fomos nós, esquema Vip e realizando um sonho. Particularmente para mim, que era seguidor assíduo da banda inglesa, conhecendo todas suas músicas, lados-bs e sessions do John Peel. Primeiro foi muito frustrante, pois os Banhsees não queriam papo nem contato com a Plebe. Quando eles transitavam back-stage, a gente tinha que ficar trancado no camarim. Os dois shows em SP correram assim, sem nem contato visual, a não ser deles no palco.

Logo de cara, nossa equipe se desentendeu com a deles. Coisa de roadie, de querer marcar território e, claro, tirar vantagem para a banda que representavam. Então, um empurrãozinho no amplificador alheio já é motivo de porrada. Tinha um roadie deles que vestia uma camisa listrada, um gorro e calças muito apertadas. Foi logo apelidado de Querele e o Fred quase saiu no tapa com ele. No entanto, era muito profissional.

Em Santos, o jogo se reverteu. A cidade era nossa praça favorita nos anos 80s. Quando a gente subiu no palco, o público veio abaixo. Foi uma de nossas melhores apresentações de todos os tempos. Tão boa que, quando os Banshees tocavam, o público continuava a gritar Plebe! Plebe! Isso impressionou os gringos, rendendo um convite para vê-los depois do show.

Eu estava com a adrenalina toda, conhecer seus ídolos já deixa uma pessoa numa espécie de “alto” natural. Ainda mais, no camarim, tinha duas garrafas de conhaque de champanhe, que eu e o Serverin cuidamos de secar. Esse mistura – excitação, adrenalina, endorfina e álcool – subiu que é uma beleza!

Chegando no hotel, de madrugada, não parava de importunar os hóspedes que fugiam de medo do músico doidão no saguão. Quando a equipe dos Banhees chegaram, contratei verbalmente o Querele para trabalhar para a gente, deixando os nossos roadies indignados. Lentamente, minha namorada, que acompanhava todo o mico morrendo de vergonha, conseguiu me enfiar no elevador.

O Nicolau, nosso fotógrafo número uno, fotografou tudo. Se ele estiver lendo e tiver uma foto desse vexame digitalizada, posta aqui. Se não, fica na imaginação de vocês.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

1986: Mico em Lins

O show era em Lins, interior de São Paulo. Fazia parte da turnê roubada do Nunca Fomos tão Brasileiros. Acho que já contei isso aqui, quando lançamos o segundo disco, um empresário picareta propôs uma turnê por todo interior do estado. Assim que chegou às lojas, já saímos de ônibus fretado para Piracicaba. O negócio dele não era promover a banda, mas sim lavar dinheiro. Não vimos praticamente nada, após 28 shows! Tentamos processar o cara, mas, como todo pilantra nesse país de tolos, não tinha nada no nome dele.

Mas a história não é sobre isso, mas sim sobre bebedeiras. Lendo o Hammer of the Gods, que conta a trajetória do Led Zeppelin, cheguei à conclusão que algumas baixarias da estrada devem vir à tona. Quem melhor que contar isso do que os envolvidos? Então vou divulgar algumas da qual participei, preservando o nome dos inocentes e culpados.

Voltando à Lins, show num clube, piso de madeira, palco baixo. Último show da turnê. Antes de entrar no palco, o Jander e eu dividimos uma garrafa de Johnny Walker Red, enchendo os respectivos copos até a borda. O desafio era: quem beberia o conteúdo primeiro. E assim entramos no palco, cada um com seu copo na mão, que depositamos em cima dos respectivos amplificadores.

O show foi correndo e, lá pela metade, o Jander aponta para um copo quase vazio em cima do seu amp. Crente que era o copo dele, olhando para o meu quase cheio, empolgado pela música e pelo público, viro tudo de uma vez, segurando para não vomitar. Pronto, tinha ganho do Jander! Virando para curtir da cara dele, vejo que tinha sido enganado! O verdadeiro copo do Jander estava escondido atrás do amp, aquele lá em cima sendo o de água. Agora já era, os efeitos começaram a surgir.

Lá pelo fim do show, pego meu baixo e dou de presente para um sujeito na primeira fila. O Fred, nosso roadie, quase tem que brigar com uma dúzia de pessoas para pegar o instrumento de volta. Partimos direto para uma churrascaria para comemorar o final da turnê e o Johnny correndo meu senso de ridículo. Quando chegamos no restaurante já estou mais para Mr. Hyde do que o Dr. Jeckle. Pego uns tomates inteiros e começo a atirar nas outras mesas, entre outras idiotices da qual me envergonho até hoje.

Como após a euforia vem a depressão, depois do jantar, todos vão comemorar em outro lugar. Sigo junto, mas para minha surpresa, o pessoal me joga no porta malas de um Corcel II. Deitado junto com o pneu estepe, o cérebro pedindo arrego, no escurinho, acabo dormindo.

De repente acordo com a maior música! É que ligaram o som do carro. Com os auto-falantes à centímetros de minha cabeça, parece que estou no inferno sonoro. Sem pensar, começo a puxar tudo quanto é fio e furar tudo quanto é papelão. Surgiu efeito, o silêncio prevaleceu.

Tem uma hora que me tiraram do meu leito, me enfiaram no ônibus, e quando acordo, já estamos chegando em Congonhas. Estou todo sujo, camisa amassada com um telefone escrito à caneta (para o qual eu nunca liguei, nem sei como foi para lá) e a cabeça pulsando mais que a Timabalada em um dia de sol em Salvador.

Nunca mais vou beber!, prometi, esquecendo logo em seguida.