Janeiro de 1988, patrocinado por uma empresa voltada aos jovens, vários festivais nomeados de Alternativa Nativa são programados para acontecer nas principais cidades do Brasil. A Plebe Rude foi escalada para tocar no Maracanzinho, abrindo para a Legião Urbana. À época, eram as duas mais relevantes bandas de Brasília, sendo o perfeito line-up para a ocasião. Posters na rua, ingressos vendidos, o Naldo, nosso empresário na época recebe um telefonema da organização. “É o seguinte”, dizem, “a Legião Urbana bate o pé para tocar sozinha, não quer que ninguém abra o show, se não, não tocam.” Negociação vai, negociação vem, e o Naldo fechou um negócio que para ele foi muito bom, para a Plebe, tenho minhas dúvidas. Combinou o seguinte: a Plebe receberia para não tocar! E assim foi.
Quem tem um ingresso desse show pode verificar, o nome da Plebe Rude foi furado com pequenas perfurações, sendo impossível de ler. A Legião, por egoísmo, tocou sozinha. Esse show foi o primeiro grande depois do lamentável episódio de Brasília, onde, provocado pelo Renato, o público se revoltou e aconteceu a maior pancadaria. Talvez estivessem inseguros tocando com outra banda. O fato foi que, apesar do Renato sempre declarar que sua banda favorita era a Plebe, fomos limados. O Philippe acha que esse evento foi o começo do fim da banda. Lembro-me de assistir o show do backstage e confraternizar com os legionários depois. Não ficou mágoa, mas que foi esquisito, foi.
Amanhã, vamos fazer uma homenagem ao Renato Russo tocando Química na Fundição Progresso no Rio. A gravação vai virar DVD e especial Multishow. Por incrível que pareça, quase fomos limados novamente. Foi assim: a organização do evento não queria pagar passagens e diárias para o Clemente e o Txotxa, queriam que o Philippe e eu tocássemos com uma banda de apoio. Batemos o pé, conseguimos a presença do Clemente, sacrificando o Txotxa pelo bem do Renato e do evento. Mesmo assim, é estranho. A Plebe, além de conhecer e conviver com o Renato, tinha a sua admiração. No seu quarto, pendurado na parede, a capa do vinil promocional de Este Ano. E é justamente a Plebe que eles querem sacrificar. Detonautas, Pato Fu, Autoramas e outros que nem tiveram nada a ver com o Renato vão estar completos. A gente não.
Mas mesmo com essas adversidades, vamos fazer bonito.T