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Gravamos O Concreto Já Rachou no final de 1985. Fazíamos parte de um projeto novo da EMI que queria lançar um novo produto no mercado: um disco com menos músicas, que chegaria ao público mais barato. Só que esqueceram que aqui é o Brasil, onde impera a Lei de Gérson, ou seja, saiu um LP com menos músicas, que o lojista vendia a preço de LP normal. Em fim, entramos nessa junto com Zero, Lado B e Musik (acho). Só uma notinha, conseguimos graças ao apoio e força de duas pessoas fundamentais: primeiro, o Hermano Vianna, que divulgou a Plebe no Rio por meio de reportagens e, segundo, seu irmão, o Hebert.
Eu ainda estava na faculdade. Consegui um atestado que estava com uma terrível doença junto a um fãzão da Plebe que a gente conheceu no Rio, o Fábio Killing Joke. O Philippe recém saído do segundo grau, assim como o Gutje. O Jander já havia abandonado o colégio. Gravamos tudo em um mês, sempre à noite. Dormíamos de dia, no estúdio à noite. Todos engordaram horrores, pois a gravadora não dava diária, mas sim liberava o consumo de comida no hotel. Lembro-me do Jander e do Negrete, na época baixista da Legião, pedirem cinco milkshakes cada – de uma só vez! Inocentes, não sabíamos que a conta seria debitada de nossos royalties.
O disco saiu no começo de 1986. Os primeiros shows resultantes do lançamento foram uma comédia. Saímos todos animados para Salvador, seria o primeiro show fora do eixo Rio-SP-BSB, o primeiro por causa do disco, num tal de Teatro Villa Velha (ou será Vila Lobos?). Claro que deu tudo errado. O nosso roadie, o Freddy, estava fazendo a sua primeira viagem de avião, onde serviram feijoada (sim, nos anos 80s, serviço de bordo era legal). Encheu a cara de uísque e a barriga de feijoada. Acabou vomitando tudo nele e nos dois passageiros ao seu lado! O público compareceu em massa, mas os baianos, sempre eficazes, ainda estavam montando o palco, ligando os cabos, sem pressa nenhuma na hora marcada de abrir as portas. Resultado: furiosos, os roqueiros baianos (são os mais revoltados – imagine morar na Bahia, gostar de rock e ser obrigado a agüentar axé!) derrubaram as imensas portas, passaram literalmente por cima dos seguranças e lotaram o teatro. Fizemos o show sem passagem de som e sem estar tudo pronto. Mas valeu, até hoje encontro gente que esteve lá e descreve a noite como “memorável”.
Depois fomos tocar em Marataízes, Espírito Santo. Esse estado dá um azar danado para a Plebe. Toda vez que tocamos lá algo dá errado, muito errado. Fomos quase lixados uma vez lá, mas isso é outra história. O show era um festival de rock. Quando chegamos, não havia mais hotéis, botaram a gente no Motel Surf, onde a cama era cimentada no chão! Pedi uma batata frita em saco e o cara respondeu que lá só havia saco de outro tipo. Philippe e eu num quarto de motel de segunda, foi uma noite terrível. Antes da gente, uma banda metal que fazia homenagem à intragável Janis Joplin. Fomos subir no palco, que tinha uns dez metros de altura!, bem de madrugada, e ainda perdemos o avião para o Rio, nos obrigando a ficar um dia inteiro no aeroporto de Vitória.
Na época pensei para mim mesmo: se isso é o que é ser roqueiro, vou voltar à faculdade. Mas as coisas melhoraram. Partimos para uma maratona de shows por todo o país. O Concreto estourou e o resto é história.