Reproduzo o texto, abaixo, como foi publicado. Não sei onde tiraram que era fã de heavy metal, mas tudo bem...
As agruras de três plebeus pelos subúrbios cariocas O Globo - 22/12/1991
Por André Mueller - André Mueller é baixista da Plebe Rude e fã de metal, quadrinhos e filmes de terror.
Sábado, 07 de dezembro. A Plebe Rude se reúne para mais um show, desta vez em Jacarepaguá, ao ar livre, no estacionamento de um shopping. Expectativas altas. Oba! Que legal! Um show grátis pros fãs!!
Chegando perto do local do show notamos um certo movimento no estacionamento, mas não na frente do palco e sim atrás!!! Gente correndo, arrancando os cabelos, andando pra lá e pra cá... saímos do carro – Olha , o show vai demorar um pouco pois tentamos puxar a eletricidade através de um “gato” de rua por um fio muito fino... e, bem... não deu muito certo. Aguardem alguns minutos que vocês já vão tocar – dizem.
No dia seguinte demos o show. Meia música, pois choveu e como o palco não tinnha cobertura o público debandou. Mas tudo bem. Domingo que vem tem show na Cidade de Deus, bancado pela prefeitura.
Chega domingo, dia 15. O asfalto derrete sob as botas enquanto aguardamos nossa condução para a Cidade de Deus. Chega a kombi e alguém diz:
- Bem, o show foi transferido para Inhaúma.
- O quê!!!? – brada a Plebe em uníssono.
- É que a última banda que tocou por lá foi assaltada quando terminou a apresentação – nos explicam – e o chefão do crime local não gosta de movimento de fora para não atrapalhar os “negócios”, por isso mudamos de última hora. Vocês não querem perder os instrumentos, né? Mas fiquem tranqüilos. Vocês vão tocar com Dona Ivone Lara.
- O QUE!?!
E lá vamos nós discutindo sobre o Fla x Flu até Inhaúma derretendo aos poucos dentro dos jeans pretos. Chegamos. Nos avisam que o show começará em quinze minutos. Primeiro Ivone Lara, depois nós.
Oito chopes e duas horas depois Ivone Lara entra no palco, que não era bem um palco e sim um caminhão. Mas pelo menos era coberto. E lá vai o samba! O povo animado balançando a praça e a gente pensa: “Pô, vão nos odiar”.
A Plebe entra em cena. De repente, do nada, o espaço na frente reservado aos VIPs (não tinha nenhum) é invadido por punks ! Sim, legítimos punks gritando “Hardcore! Hardcore!!”. No meio deles, Tatu, vocalista do Coquetel Molotov.
A gente ataca com “Proteção”. Um sucesso! A praça balança. Pausa. Os punks gritam “Hardcore!! Hardcore!!”. Tudo bem, tocamos “Sexo e Karatê”. É a revolução na praça. Os três seguranças tentam fazer uma barreira humana (de três!?!) para afastar o público ensandecido. Philippe ri tanto que erra a entrada.
Termina o show, bis e tribis. Somos cercados pelos nativos. “Me dá uma palheta?”, “Me dá um autógrafo?”. Um garoto me enconsta na parede e diz:
- Me dá sua camisa!?
- Não! – Digo.
- Pôxa, você é rico! Me dá a camisa! – Insiste.
E começa a arrancar minha camisa Harley Davidson. Grito por socorro.
- Me dá! Te dou 500 cruzeiros, mil, dois mil, três mil...
- Não! Não!!
Chega o nosso empresário, Ivan e sai no tapa com o sujeito. Saio fora. Enquanto isso Gutje está no palco para jogar uma baqueta (a única que sobrou) para a multidão. Joga. Um sujeito pega. Os outros ficam revoltados e resolvem atacar o sortudo. A zona recomeça:
- Vamo catá o cara! Quem mandou pegar a baqueta?! Pau nele!!!
Voltamos para o Rio satisfeitos. Tocamos bem e, apesar de atípico, é compensador fazer shows assim.
- Só que tem um problema – nos diz o representante da prefeitura.
- Qual? – perguntamos.
- O cachê só vai ser liberado em 20 a 30 dias.