terça-feira, março 01, 2005

LONDON CALLING FAZ 25 ANOS

No último dia 25 de fevereiro, saiu um artigo no Correio Braziliense sobre os 25 anos do disco London Calling, do Clash. A pedidos, escrevi um complemento ao texto, que incluo abaixo.
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Imagine o cenário: Sheffield, cidade industrial no norte da Inglaterra, vizinha de Manchester, só que mais escura, mais sombria e suja. 1979, dois brasileiros, meu irmão Bernardo e eu, entramos numa loja de discos, depositamos nossas mesadas no balcão e saímos para enfrentar uma caminhada gélida com uma cópia do LP duplo London Calling do Clash debaixo de nossos braços. Assim que entramos em casa, o lado um do primeiro disco vai para a vitrola, antes de acender o aquecedor, antes de tirar as luvas e os cachecóis. Ouvimos consecutivamente os quatro lados até a hora de dormir. Um clássico instantâneo, um divisor de águas. O melhor disco de rock de todos os tempos? Sem dúvida, à época, nos pareceu que sim.

O quarteto Clash já era nosso herói punk desde a saída do Brasil, um ano antes. O primeiro disco, de 1977, trazia o ante-projeto do que seriam os anos 1980, o London Calling, cristalizou o conceito. Era um disco duplo que foi vendido, a pedidos da banda, por o preço de um. Eles abriram mão dos próprios rendimentos, isso tocava nossos corações. As músicas eram todas perfeitas e tiveram a coragem de fugir da camisa de força que o movimento punk estava forçando quanto a criatividade das bandas. Nos dois discos, tínhamos jazz, folk, funk, rock'a'billy e rock, tudo interpretado sob o ponto de vista do punk. A mensagem era que não tínhamos que ficar parados no tempo, que o movimento não era só um espasmo iconoclasta, mas sim uma reconstrução do rock n roll.

A faixa título, Brand New Cadillac, Jimmy Jazz, Lost in the Supermarket, nossa, só de escrever o nome dessas músicas consigo imaginar cada acorde, cada letra na minha cabeça. Sem o London Calling, talvez fossemos obrigados a ouvir GBH e Exploited durante o resto da vida, gritando clichês vazios em fórums sociais. O Clash nos ensinou a pensar e a lição principal está em London Calling.

Outro grande feito do disco foi ter aberto o mercado americano, e conseqüentemente mundial, ao punk e new wave. Não que seja necessário invadir a América, mas, sem isso, a banda estaria até hoje rezando para os convertidos, igual ao Fall, conjunto tão importante quanto o Clash, mas que não conseguiu produzir o seu London Calling (o quê? não conhece The Fall? tá esperando o que, a MTV te apresentar?).

E claro, sem o Clash, não haveria Plebe Rude. 25 anos depois, o disco ainda soa tão sensacional tanto. Só que agora, ligo o ar condicionado para ouvir.

Um comentário:

Anônimo disse...

O engraçado é que parece que o disco não foi muito bem recebido na época do seu lançamento. Só depois é que foram ver o que ele realmente representava.