terça-feira, março 20, 2007

1985 - Ultraje Não Invade Nossa Praia

O ano era 1985 e a cena em Brasília fervia. Plebe Rude, Legião Urbana, Escola de Escândalos, Elite Sofisticada faziam o som não só da tchurma, mas de todos os jovens brasilienses que, tendo em vista a história da cidade, pela primeira vez, tinham um marco cultural com o qual podem se identificar e se orgulhar: o rock de Brasília. Eram tempos incríveis, não havia MTV, nem rádio em rede para pasteurizar as cenas das cidades, que, por isso mesmo voltavam seus interesses musicais para a produção local. Não havia como ignorar a cena. Apesar de ninguém ter disco gravado, todos conheciam as principais musicas, iam para os shows, cantavam juntos, se divertiam.

Nesse contexto, era impossível para um contratante que realizava um show não considerar incluir na programação pelo menos uma das bandas locais. Assim, o Legião, ainda desconhecido, abriu para o Kid Abelha, que estava no auge. E foi pau a pau, de igual para igual. E foi dessa forma que a Plebe e a Legião abriram o show do estouradão Ultraje a Rigor no Ginásio de Esportes de Brasília. Foi um evento memorável para o rock-Br. O Ultraje mandando bem, a Legião prestes a ser contratada e a Plebe, batalhando pelo seu espaço. Foi nesse show que vimos que éramos tão bom, ou até melhor, que nossos camaradas paulistas, cariocas ou de onde quer que venham.

O legal desse show que disponibilizo aqui é a garra demonstrada pelas bandas brasilienses. O Philippe, Jander e Renato estão no seu pico de juventude entediada, querendo mostrar que são capazes de mais do que prestar um concurso púbico e mofar nos anais da burocracia estatal. São diamantes brutos pronto para serem lapidados – eta clichê!

A recordação mais forte desse show foi tocar para um ginásio lotado, pessoas realmente curtindo a prata da casa e o sabão que tinha usado para arrepiar meu cabelo derretendo e caindo no meu olho como lava quente. Ardeu, mas agüentei até o fim. O Ultraje veio invadir nossa praia, mas acabou comendo areia, há há há.

17 comentários:

Anônimo disse...

André,

Já que voce disse que gosta dos meus "debates", vou dar a minha participada básica.

Eu diria que havia uma grande admiração mutua entre paulistas e candangos. Os paulistas sempre recebiam muito bem as bandas de Brasilia ( e vice versa). O Clemente mesmo foi um bom exemplo disso, pois sempre estava lá, prestigiando e trocando idéias. Não foi atoa que ele acabou substituindo o Jander.

Quanto ao Ultraje invadir a nossa praia, Brasilia não tem praia! Tudo que eles conseguiram foi tomar um banho nas aguas turvas do lago Paranoá (hehehe).

André Mueller disse...

É isso mesmo! Mas pior é que Brasília tem surfistas, ha ha ha.

F3rnando disse...

O "nós vamo invadir sua praia" é uma bela coleção de pós-punk, instrumentalmente falando.

Anônimo disse...

Teve a música "Surfista de Brasilia", do Peter Perfeito.

Anônimo disse...

Andre,sensacional o show!essa gravaçao estava na exposiçao que teve em bsb em 2004 do renato russo?tinha umas gravaçoes da plebe la.Abraço

Anônimo disse...

...

Igor disse...

Legal, qual é o track list?
-
André posta o track list também nos posts...

Flw.

Anônimo disse...

Nossa, impressionante. Esse material é foda. A Legião no palco nessa época era imbatível...o set list destes shows, tanto da Plebe quanto da Legião é de afogar qualquer Ultraje. Obrigado André...como me faz bem ouvir isso.E vc disse bem...diamantes brutos a serem lapidados.......se bem que acho que preferia assim...Tenho uma dúvida...se puder responder....O que a Plebe achava da Legião como banda nessa época???

Anônimo disse...

o que acho interessante era o perfil da flu fm, que por mais que tivesse um certo "acento" local, também dava moral para tudo quanto era manifestação bacana vinda de outros lugares. para quem era mero público em formação, isso era uma maravilha. aprender a ouvir vários tipos de música com atitude sem preconceitos ou carregada dos viciosos clichês dos "especialistas" em "mercado".

cara, sério mesmo! é muito foda poder colecionar essas gravações. adoraria pensar que outras bandas poderiam fazer o mesmo em seus habitats (é assim que escreve?).

tô downloadeando...
abraços

Anônimo disse...

Este show esta mais documantado que voce imagina. No "acervo" no site da Plebe no ano de 1986 esta a seguinte pérola:

Legião e Plebe: Uma consagração
09/07/1985 - Correio Braziliense

Por Irlam Rocha Lima

Uma consagração. Foi isto o que occoreu domingo, no Ginásio de Esportes, com os grupos Plebe Rude e Legião Urbana. Até então o prestígio, a popularidade dessas duas bandas junto ao público jovem da cidade não podia ser aferido de maneira exata, de forma criteriosa, na medida em que os shows que realizaram ocuparam pequenos espaços, como a Sala Funarte ou o Teatro da Escola Parque.

Domingo, porém, eles passaram pelo teste definitivo. Tocaram no enorme Ginásio de Esportes, onde foram assistidos e aplaudidos delirantemente por um público superior a 10 mil pessoas. É certo que parte da platéia esteve ali, também para curtir o som do Ultraje a Rigor, mas a maioria foi, mesmo, para canatr, dançar e trocar energias com Renato Russo, Gutje e seus companheiros da Legião e da Plebe.

Um momento bonito do espetáculo foi quando os brigões de sempre iniciaram uma refrega no centro do Ginásio. Imediatamente, Renato juntou à música que estava cantando a frase "parem de brigar", repetida enfaticamente até que a paz voltou ao concerto. Uma tarefa nada difícil para um artista que consegue fazer de "Geração Coca-Cola" o grito de guerra dessa juventude. É um ídolo que surge.

Jorge disse...

The best esse Blog. Viva a Plebe...viva os Plebeus.

Anônimo disse...

O Edgard do Ira ! explicou numa entrevista a boa receptividade as bandas de BSB em SP tinha um motivo : a beleza das meninas de BSB.

Anônimo disse...

continuando...

Em Brasilia existem muitas piscinas. É uma invasão muito complicada.

Esse problema aconteceu com Fucker e Sucker, que vieram até Brasilia para prender os corruptos. Então, percorreram todo o eixão rodoviário, mas não encontraram nada. Não haviam nem mesmo esquinas.

Deste modo, em Brasilia, que é uma cidade estranha e esquisita, que ainda dá tédio nas pessoas, a tentativa de invasão praiana do Ultraje não funcionou. Acabou no piscinão do Paranoá.

Anônimo disse...

porra, qto tempo nao ouço essas gravações. puta merda! que maneiro!
a plebe dispensa comments e a legião desta época era realmente um negócio impressionante. eu acho uma pena ele ter arrefecido seus ânimos (demônios internos?) com o passar dos anos, mas isso deve ser naturalmente em função dos acontecimentos da turnê do terceiro disco. eu era um moleque que colecionava todas as gravações deste tipo que me caíam à mão, até hoje sou um pouco assim. simplesmente me amarro em ouvir a "humanidade tosca" de bandas que curto, principalmente as que fizeram parte do início de minha formação. o interessante dessas gravações é ouvir todo o pessoal eletrizado, as músicas em speed. mas hj pra mim é ouvir isso é também perceber a inocência geral de bandas e das pessoas que as testemunharam. hj não dá pra ser assim, o que pra mim é até mais interessante e demonstra muito mais jovialidade do que grande parte das bandas de moleques com ânimo de velho que ouvimos/vemos hj. mas o que mais me irrita é pensar que o rádio era um veículo tão legal na minha juventude, onde eu ouvia todas essas gravações, e hj não significa lá grandes coisas, exceção feita aqui no rio apenas à empreitada do mv na oi fm, em especial às nossas sonhadas valladares sessions que parecem finalmente vir à tona. andorinha que adorna o céu de nosso verão! existe hj tb por aqui aquela pataquada de quem tenta reeditar o legado maldito da "maldita fm", capitaneada por gente da antiga e que dificilmente vinga porque é amparada em modelos velhos, caducos, como apelo de velhota baranga que se acha gatinha.

hj o padrão ilusório do pop espetacular acabou com a verdade que existia nas manifestações toscas que rolavam no rádio e nas internas dos que curtiam rock na época. hj tudo tem que ser bonito, soar polido, ter "atitude" rock envernizada de quem tem culhão de tricoteira. hj punk rock é trilha de comercial de iorgute em formato videoclipe e as bandas novas são reféns da própria imagem, que tem de ser palatável a ser iconograficamente viável à "posteridade descartável".

o interessante tb desses arquivos é saber que nem os próprios músicos envolvidos no lance sabem a porra dos nomes de suas próprias músicas. fala sério! isso é uma vergonha!

maurício, me chama pra tocar no seu programa e prometo me comportar, nem falar palavrão. só não abrirei mão de um milímetro que seja naquilo que concebi com minha criatividade. abraço

André Mueller disse...

Anônimo, sensacional o seu diagnóstico. Foi contundente e acertou no alvo em cheio. Quanto às músicas, não sou eu que estou editando seus nomes. Pego o que cai na minha mão e disponibilizo para download em seguida.

Anônimo disse...

beleza, divino!
legal saber que vc gostou do comment! sério mesmo!
a gente vive numa época em que "não se pode opinar" pq senão vc corre o risco de desagradar fulano ou sicrano!
ah que se fodam!
mas quero aproveitar o ensejo para convidar a minha banda para abrir o próximo show da plebe aqui no rio, a ser realizado em abril.
fechado?
ou portas fechadas? heheh
logo mais te envio um txt com minhas opiniões sobre o disco novo da plebe.
abraço
uarapumbara rou

Blog do Anderson disse...

Andre, eu estava lá! Tinha 14 anos e foi o primeiro show que fui na minha vida. Cara vocês foram demais!!!
Para mim a melhor de todas as bandas. A saida do Jander realmente foi e é lamentavel.
Estranho que procuro informacoes sobre ele na web mas nao acho nada :-(

O que esse cara faza hoje em dia? E porque voces nao voltam pow ?!?!?