terça-feira, janeiro 30, 2007

A Gravação de R ao Contrário

Podemos dividir a gravação de R ao Contrário em várias fases, cada uma com seus altos e baixos. Adiantando, acho o disco um dos melhores que já fizemos. Mesmo com as condições adversas – ou vai ver que por causa delas – as composições ganharam força, o núcleo central da Plebe se uniu e o resultado é um disco de primeira, 100% Plebe, mas com uma visão de futuro. Vamos às fases:

Fase 1

Poucos sabem, mas o R ao Contrário quase foi gravado pela formação original da Plebe, Gutje, Jander, Philippe e André. A turnê do disco ao vivo estava já na rapa do tacho, com poucos shows acontecendo. As músicas já haviam sido escolhidas: tinham umas que vinham da época do Daybreak Gentelmen, banda do Philippe em NY, outras de idéias saídas de jams no estúdio do Philippe, em Brasília. Tudo armado, Philippe e André em Brasília, passagens compradas para o Gutje vir colocar as bases, data marcada, as gravações começariam num sábado. O plano era gravar tudo, depois o Jander viria para fazer a sua parte. Coisas de banda cujos membros moram em cidades distantes um da outra.

Gutje fura. Pega as passagens e vai andar de windsurfe em Recife ou algo inexplicável dessa natureza. Morremos numa nota, pois tinham equipamentos alugados especialmente para a gravação. Quando falamos com o Gutje, ele dá umas desculpas furadas do gênero “não tinha entendido isso”. Não tinha entendido que parte? A de que as gravações do novo disco iam começar ou de que a gente ia colocar as bases primeiro? Foi um balde de água fria, a Plebe acabou, pela segunda vez, a menos de 24 horas de começarem as gravações do primeiro disco de estúdio em mais de dez anos.

Fase 2

Chamo essa segunda fase de Philippe Seabra solo. Durante esse período, duas coisas aconteciam. Primeiro, o Philippe não ficou parado e começou a gravar as músicas como sendo seu disco solo. Dei a maior força para ele fazer isso, pois eu estava completamente decepcionado com o acontecimento da Fase 1. O Jander, que já estava com um pé atrás com o projeto, com a desistência do Gutje, também pulou fora. Sobrou o Philippe, que estava ainda com alguma força para seguir adiante. A segunda coisa é que a Plebe ainda dava shows esporádicos, pois os pedidos continuavam a chegar ao escritório do Ivan.

Abro um parágrafo para tirar o chapéu para o Ivan, que mesmo no meio desse tumulto todo, nunca perdeu a fé na banda e continuou empurrando a gente aos trancos e barrancos.

A Fase 2 termina com uma conversa entre o Philippe e eu em seu estúdio. Ele tinha me chamado para ouvir as gravações das músicas e fazer uma proposta: voltar com a Plebe. Acha que as músicas têm a cara da banda, muito mais do que Philippe Seabra solo. Penso um pouco e recuso.

Fase 3

A Alice vem passar um feriado aqui em Brasília e me leva para assistir um filme chamado Escola de Rock. Parece bobo, mais foi esse filme que reacendeu a chama roqueira dentro de mim. Saí de lá com uma vontade incontrolável de voltar a tocar, subir nos palcos, sentir a pressão do baixo sacudir meu esqueleto. Liguei imediatamente para o Philippe e voltei atrás, sim vamos seguir com a Plebe!

A Fase 3 foi marcada pelos trabalhos meus e do Philippe em cima do disco. Retocamos algumas músicas já gravadas e, principalmente, compusemos outras juntos, para marcar bem a volta com canções novas. Dessas, destaco O Que Se Faz. As gravações aconteciam aos poucos em seu estúdio no Lago Norte. Mas sabíamos que teríamos que definir a banda. Ia ser um trio, com baterista convidado, tipo na época do Mais Raiva, ou iríamos partir para um quarteto, com duo de vozes de guitarras? Optamos por essa segunda formação.

O resto vocês mais ou menos conhecem: convidamos o Clemente, que aceitou prontamente com a famosa frase/brincadeira: tem cachê, tô dentro. O Txotxa foi o escolhido por ser o melhor batera com o qual já tocamos no período sem Gutje. Outro cotadíssimo foi o Uri, que chegou a gravar várias faixas do disco, mas como não mora em Brasília, inviabilizaria ensaios regulares.

Fase 4

Com o Clemente e o Txotxa, ajustes finais são dadas ao disco. O Clemente coloca suas guitarras e vocais com uma facilidade imensa. Em duas vindas para Brasília, está tudo no lugar e bem feito. O Txotxa contribuí bastante. Destaco a recauchutada que dá à bateria de Katarina, Mil Gatos e, especialmente, R ao Contrário.

O Philippe foi o grande produtor desse disco. Não teve muito trabalho, acho, pois as gravações ocorreram de forma diluída, sendo ele o ator principal. Fez um excelente trabalho também de técnico, basta ouvir as gravações. Repito, são coisas diferentes, mas que muita vezes confundimos. O técnico é quem capta os sons, o produtor é o diretor, o que entende o conceito do disco. È a figura mais importante no estúdio. Está nas mãos dele transformar as músicas brutas em um disco coeso.

Fase 5

Fase que parecia interminável: a negociação do lançamento do disco. O Ivan foi o grande player dessa fase, que vocês acompanharam dia-a-dia nesse blog. Devido à demora, o disco foi até apelidado de “Chinese Democracy”, numa alusão ao disco do Guns n Roses que até hoje está sem lançamento. Mas saiu e estamos satisfeito. Um pequeno passo para a Plebe, um grande passo para nosso futuro.

17 comentários:

Anônimo disse...

Só a título de ilustração, em dezembro passado ouvi a introdução de “O que se faz” em uma reportagem sobre ciclismo apresentado pela TV Gazeta de São Paulo no seu tradicional programa de esportes “Gazeta Esportiva”.

André, vc poderia nos contar agora as curiosidades das gravações dos clipes da Plebe, principalmente os primeiros.

CA®I0CA disse...

AS MELHORES DO ALBUM EM MINHA HUMILDE OPINIÃO:

O QUE SE FAZ
MIL GATOS ...
REMOTA POSSIBILIDADE

Anônimo disse...

R saiu, agora os fãs do rock aguardam ansiosamente o chinese democracy.
E ae andre? As gravações do dvd estão se encaminhando p. onde?

André Mueller disse...

As gravações do DVD estão caminhando para....... as gravações do DVD!!! Aguardem.

Anônimo disse...

Fala André!
Aqui quem escreve e Junior tudo bem com vc?
Estava lendo seus comentários sobre a história da Plebe, sobre os discos a luta e tudo mais, fico muito feliz pela chance de estar com vocês: trabalhando, aprendendo e crescendo no meu trabalho e o mais importante de vocês e o respeito que vcs tem por nós e pelos fãs da banda. Então e isso grande abraço e nos vemos em breve no próximo show vida longa a PLEBE RUDE abraço Junior Roadie Plebe Rude.

André Mueller disse...

Fala, Júnior! Grande roadie! Cada vez que algo dá errado com meu baixo, basta olhar para trás que o Júnior resolve. Abraço!

Anônimo disse...

Eu diria que o tecnico apenas conhece o o estudio. O tecnico nunca conhece a banda que vai gravar ali. Cada dia tem uma nova, um dia é pagode, outro dia é evangélico, outro dia é rock...

Já o produtor deve conhecer bem a banda. Além disso, o produtor deve saber guiar e mandar o tecnico fazer a coisa certa.

Se o tecnico fosse um motorista, o produtor saberia mostrar o caminho correto. Se o produtor não disser para onde quer ir, o motorista não vai chegar ao lugar certo.

Por exemplo, fazendo uma analogia, o musico fala para o produtor: "quero ir na festinha do zé mané". Então, o produtor vira para o tecnico e diz: "leva a gente para o Lago Norte, na SHIN QL tal e tal..."

Agora, sem fazer nenhuma analogia, o musico fala para o produtor: "eu quero uma guitarra igual do Black Sabath", o produtor então vira para o tecnico e diz: "liga uma Gibson SG, pega um Marshall valvulado, coloca o pedal tal, faz isso, faz aquilo..."

Muitos musicos se metem a produtor, mas nem todos tem o embasamento tecnico do produtor, e assim não sabem orientar o tecnico. Dizer direto ao tecnico que quer uma guitarra "igual do Black Sabbath" é o mesmo que dizer para um motorista de taxi: "me leva na festinha do zé mané" (aonde mora o zé mané?).

O trabalho do produtor é dificil porque ele precisa saber o que a banda quer e saber traduzir isso para o tecnico. O produtor é a ponte entre os desejos da banda e as ações do tecnico.

Anônimo disse...

X,
a gravação do DVD será em BSB, SP ou Rio?
Somente para convidados? (idem ao EATNV)

- Pouco me arrependo das coisas que faço na vida, mas das que não faço, essas sim, machucam!!! Um dos arrependimentos foi não ter ido a gravação do CD ao vivo, tive prova do vestibular. Queria seguir uma profissão totalmente oposta a que pratico hoje, ou melhor, até mesmo a que me formei - isso é a vida!!! Como não me tornei Fonoaudiólogo, talvez, se tivesse ido à gravação, teria ganhando mais... Participado de uma obra de pessoas que muito admiro.

OBS – em alguns dos discos vcs tiveram a idéia de chamar o T.Capone?

Gunther Hofner
Belo Horizonte/MG

Anônimo disse...

Vejo que a Plebe finalmente chegou a um equilibrio. Antes, com o Gutje e o Jander, havia muita polarização. Mas agora o poder politico está dividido apenas entre André e Phillipe, e assim as coisas ficam mais faceis de serem decididas.

Acho que toda a banda de rock deveria seguir a formação original. Sou contra a expulsão quando isso é por causa de disputas de poder. Mas quando neguinho não quer mais tocar e nem aparece para gravar, então tem sair mesmo.

Portanto, acredito que agora as coisas vão correr mais facilmente. Tudo depende do André saber segurar o ego do Phillipe, pois esse sempre foi o mais vaidoso da banda.

Mas me parece que hoje o Phillipe está mais maduro e bem domesticado, ele não vai mais se tornar autoritário e intransigente. O Phillipe pode até ser um pouco egocentrico, mas, justiça seja feita, o cara tambem é muito trabalhador, competente e esforçado.

Então, agora com o estudio que ele montou, o Phillipe se tornou uma peça fundamental. A verdade é que o André precisa do Phillipe e vice versa. E assim as coisas vão funcionar melhor.

Anônimo disse...

Achei demais os posts com a história da discografia da Plebe! Ótima iniciativa André!
Só te peço uma coisa: Mantenha o Clemente na Plebe até o último disco de vcs! Abraços.

Reinaldo/SP

Anônimo disse...

Este disco é mesmo 100% Plebe Rude. Essência bruta. Agora tenho certeza.

Anônimo disse...

hoje em fia esta cada vez mais facil fravar um disco mas ao mesmo tempo é cada vez mais dificil lança-lo com o apoio e divulgaçao necessarios, a demora foi recompensada por um belo álbum, embora eu particularmente ache que a ordem das musicas não foi a ideal, talvez por ser o oposto da formula de sucesso atual, que coloca as mais lentas pro fim do disco
por fim essa parceria entre voce e o phillipe é algo fantastico, o que se faz é uma música que impressiona qualquer um que ouve independente de gosto musical.

Anônimo disse...

Andre, Philippe tinha razão quando numa entrevista brincou dizendo que o seu blog falava demais das entranhas da Plebe. Mas essa iniciativa é louvável. Muito boas essas informações sobre as gravações dos discos.

Sinto falta do vacilão do Gutje e do desestimulado Jander, mas não dá pra negar que Txotxa e, principalmente, Clemente, com sua super presença de palco, mantiveram o pique da banda.

Abraços a todos os plebeus, victoRude.

Anônimo disse...

Uma parada complexa, vai aí uma sugestão para algum proximo assunto, coisa que eu gosto de debater com musicos, são os novos tempos digitais.

Hoje em dia, está muito mais facil gravar e fazer um CD. Eu diria que o computador e os racks do Phillipe, de hoje, esses podem gravar igual ou melhor que os velhos 24 canais da antiga EMI-odeon.

Isso seria otimo se não existisse a pirataria e o mp3. Apesar de ter ficado mais facil de gravar, hoje ficou muito mais dificil de ganhar grana com isso.

Por um outro lado, a pirataria e mp3 divulgam muito mais, espalham as musicas pelo mundo todo, coisa que melhora o reconhecimento e cria mais publico para os shows.

Realmente, a pirataria é muito pior para as grandes estrelas milionarias, que já são conhecidas, do que para os independentes do underground.

Muitos procuram formas de driblar a pirataria e o mp3. Já existem discos e arquivos protegidos. Outros migram para o DVD, que é um pouco mais trabalhoso de piratear... Tem a onda de lançar primeiro em vinil, para o mercado DJ... Mas acho que tudo isso é tapar o sol com a peneira.

A minha opinião é que essa tecnologia ferrou com as grandes corporações e ajudou os pequenos independentes. Acredito que o musico moderno precisa se adaptar a pirataria e o mp3. A solução é vender musica barata, ou distribuir gratis, para que o pirata sofra concorrencia e não tenha lucro.

Para mim, os CDs e DVDs hoje em dia se transformaram em material de divulgação, que deve ser distribuido gratuitamente. A grande fonte de grana são os shows. O grande é o trabalho e a imagem reconhecidos

Mas enfim, gostaria de saber o que o nosso nobre André X pensa sobre a pirataria e o mp3. Isso ajuda ou fode com os Plebeus? Qual é a sua visão sobre o futuro? Para o ponto de vista do musico, quais seriam as soluções possiveis?

Anônimo disse...

O grande CAPITAL é o trabalho e a imagem reconhecidos.

Anônimo disse...

Pra galera do ORKUT que volta e meia fica pedindo um Acústico MTV !!!! A boa é essa : a MTV juntamente com o Circo Voador fizeram uma parceria e gravaram em dezembro os DVDs do Matanza e do Ratos de Porão . Acústico pra q ....se a Plebe é bem melhor ao vivo e no talo !!!

guilhermebsb disse...

Andre . Quanto dvd ,poderia ter participaçoes especiais.