sexta-feira, junho 17, 2005

Punk ou Punkeca?

A Plebe é punk? Vejo as duas mil e tantas pessoas da comunidade Plebe Rude no Orkut discutir o assunto. Muitos afirmam categoricamente que não!, nunca é, nunca foi. Outros defendem que sim, que as origens mostram ser cem por cento punk. O ser humano tem uma necessidade intrínseca de rotular tudo que o cerca. Ele precisa, porque precisa, nomear, apontar, apelidar, catalogar. Acho que o faz sentir mais seguro.

Lendo a coluna do Clemente no site da MTV intitulada “O Pai da Criança”, , outra discussão sobre o punk reaparece: quem inventou o punk tupiniquim: São Paulo ou Brasília? São temas recorrentes que vou tratar juntos, a seguir.

Primeira coisa: nos anos setenta não havia esse fluxo de informação em tempo real, nem a facilidade de comunicação que existem hoje. Não havia internet, as notícias chegavam atrasadas, eram filtradas pela imprensa escrita e falada. Para conseguir um LP importado, era um sacrifício! Não existia internet, nem celulares, nem TV a cabo, nem MTV, nem vídeo-clipes (sim crianças, tal época existiu não muito tempo atrás!). As tarifas DDD eram muito caras, ninguém ficava falando ao telefone em chamadas interestaduais. E mais: estávamos numa ditadura e existia censura!

Nesse cenário, não havia possibilidade de alguém em São Paulo saber do que se passava no underground brasiliense, nem vice-versa. Eu soube do começo do punk, lendo uma reportagem na extinta versão brasileira da Rolling Stone. Achei interessante. Quando o Fê Lemos, hoje baterista do Capital Inicial, foi para a Inglaterra, acompanhando o pai que estava lá para tirar seu doutorado, em 1976, viu a coisa acontecer. Sex Pistols, Clash, Damned e Stranglers foi onde tudo começou. E ele mandou fitas K7s que eu ouvia sem parar. De uma hora para a outra, meus discos do Led Zep, Deep Purple e Rush não faziam mais sentido. Aguçou a minha curiosidade política. Comecei a desconfiar dos mais velhos, não queria nada com a visão pós-hippy de minha geração.

Essa foi a semente, no DF, para o surgimento do Aborto Elétrico, da Bliz 64 e, mais tarde, dos Metralhas, entre outros. Adaptamos o punk à nossa realidade e, sim, fizemos uma diferença! Conseguimos converter um monte de pessoas e criamos um movimento cultural que até hoje é sentido em Brasília, não só na música, com também na fotografia, no cinema, nas artes, etc.

Simultaneamente, em SP, jovens vivendo outra realidade também foram contaminados pelo punk inglês. Também adaptaram o movimento e as idéias para sua própria realidade, bem mais dura e violenta do que a nossa. Esse processo todo o Clemente descreve bem em seu artigo.

O que quero mostrar aqui é que NÃO IMPORTA quem inventou antes. Foram os dois! Cada um sem saber da existência do outro. Me lembro que quando chegamos em São Paulo pela primeira vez para tocar no Napalm, viramos fãs e admiradores dos punks paulistas. Ratos de Porão, Inocentes, Fogo Cruzado, Olho Seco, Cólera – aquilo para a gente era o máximo! Nos identificamos muito com as idéias do João Gordo, do Redson, do Clemente. Para mim, esse trio são os verdadeiros intelectuais do underground brasileiro. Ouçam eles, meus jovens!

Voltando à comunidade Orkut: não vou ficar defendendo se somos ou não punk, não devo isso à ninguém. Só sei que me sinto muito punk, me orgulho de ter feito parte do movimento em Brasília. Não gosto da imagem do punk que a imprensa, principalmente a Globo, faz. Deve ser essa que esse pessoal tem como referência. Jaqueta de couro com um A nas costas, rosto coberto por um lenço e uma cabeça cheia de clichês. É assim que devem imaginar um punk. A Plebe Rude foi a única banda candanga que nunca renegou o rótulo. Me lembro de Legião e Capital se dizendo New Wave, um rótulo que carregava muito menos cobranças ideológicas do que o punk.

O punk paulista e o brasiliense certamente seguiram caminhos diferentes. Os primeiros foram para o hardcore, tiveram contato com o punk escandinavo. Nós seguimos uma linha mais experimental, mais sombria. Mas as origens foram, como não poderia deixar de ser, a mesmas.

Fim de conversa!

19 comentários:

Anônimo disse...

A Plebe é punk nas origens, nas concepções da banda. No som é mais ligado ao que se convencionou chamar de pós-punk. Porém, porém, qualquer punk de São Paulo daria um braço para ter composto "Sexo & Karatê". As Mercenárias, banda anos 80 legal, estão naquela coletânea inglesa sobre a cena paulista. A coletânea que citava a Plebe no release é de um selo alemão, Man Records.

André Mueller disse...

Quando o punk oficialmente começou, em 1976, tinha o Suicide. Já ouviu, dois malucos e um sintetizador. Era punk. Television, do Tom Verlaine, era punk, mesmo com aqueles acordes leves e lentos. John Cooper Clarke, um poeta que recitava a 100 palavras por segundo, também era considerado punk. Só depois, outra geração depois, é que surgiu GBH, Exploited e outros que criaram o "rótulo" punk. Punk nunca foi som, mas sim atitude.

Anônimo disse...

Certo, punk é atitude, assim como o rock. Não disse que a Plebe não era punk. Por isso falei das concepções da banda, ou seja, a atidude punk. Afinal, vocês começaram impulsionados pelos Pistols e toda aquela turma. Mas a Plebe não é aquele punk straight que muitos acham que deveria ser no "som". Punk's dead, viva a Plebe Rude. E repetindo, qualquer punk da cena paulistana daria um braço pra ter composto "Sexo & karatê".

André Mueller disse...

Concordamos, então!

Anônimo disse...

é, eu vi essa discussão no orkut e achei uma besteira, o pessoal já tava levando pro lado pessoal, mas pô, n sei se tô errada, mas talvez isso nem seja importante, definir se é punk ou não, e até O QUE é punk, é muito complexo. Beijos p vc andré!sou sua fã

Anônimo disse...

A maioria das pessoas, que dizem se punks, hoje em São Paulo, são pessoas que acham que ser punk, é anadar uniformizado e dar porrada. Estou com o André, nasci em 82, logo, não vivi a época, mas quando comecei acurtir as ditas músicas punks, resovi entender o que era aquilo. Percebi que apesar de gostar e viver aquela filosofia, não usaria o rótulo por dois motivos; não precisava me rotular para seguir uma filosofia, segundo o nome estava sendo usados por garotos que nem sabiam o que era aquilo.

André Mueller disse...

Denise e Aleks, vocês mataram a charada. A mais importante de todas as premissas do punk é: "faça você mesmo". Logo, quem faz por si só, não imita, não quer ser parte de um exército uniformizado, nem receber rótulo classificando-o com outros. Claro, hoje em dia, punk não quer dizer nada. Os punks de segunda geração criaram regras de comportamento, de som, de como se vestir. Partiram para o lado ignorante da coisa, o lado superficial. Um fato que ilustra tudo:
Quando o Kurt Cobain morreu, foram entrevistar o John Lydon (Rotten), o maior responsável pelo punk, e perguntaram para ele sobre o Kurt, dizendo que para muita gente o Cobain era o Johnny Rotten dos 90s. O Lydon respondeu: "só que tem uma grande diferença entre ele e eu: ele tem uma bala na cabeça, eu não." Disse tudo!

Anônimo disse...

O Punk deixaria de ser punk se soubesse o que é ser rotulado como punk...

Anônimo disse...

A Plebe é a vida... a Plebe é o oposto... a Plebe é a contradição... a Plebe é o gosto pela perfeição... a Plebe é o impulso contra o comodismo... a Plebe não se rotula... e Plebe é abrangente...
Todo poder para a Plebe!!

Daniel - Plebe na pele!

Anônimo disse...

Falando em Suicide Machines... Pressão Social foi inspirada em alguma música deles?

Anônimo disse...

Sendo o punk o lema "faça foçe mesmo", "do it yourself", não se pode rotular ou associar apenas à musicalidade.
Punk é muito mais que jaquetas de couro (como rotulam...), músicas fora dos padrões da época, fundos políticos, etc...
Se é "faça vc mesmo", todas as pessoas de atitude são punk, esteja ela de terno ou detro de um iglu.
Pena que as pessoas acham que o punk é aquele que põe óleo no cabelo, anda de preto e com pulseras esquisitas, além de usar intorpecentes e não ter nada na cabeça, pois é um revoltado com o mundo e não sabe que não vai mudá-lo.
Pelo contrário!!!! No momento em que as pessoas compreenderem que "faça você mesmo" serve para todos, sem exceção, tudo mudará, a postura das pessoas quanto a sua situação atual, etc ...
O povo está acostumado a aceitar tudo de todos, é muito passivo, só é ativo na hora de reclamar(baixinho), quando é para arregaçar as mangas ... cadê o do it yourself ???
O "pré-conceito" é mais evidente que a compreensão. É mais fácil rotular do que refletir e compreender algo maior do que uma simples visão distorcida de uma idéia que não se é capaz de entender.

André Mueller disse...

Anônimo,

Não conheço a banda Suicide Machines, é legal? Me referia ao Suicide, banda de Nova York no começo do que foi chamado de punk. Pressão Social foi inspirada na história do grego Demóstenes, que aprendi na faculdade durante a aula de Introdução à Sociologia.

Anônimo disse...

"há uma espada sobre a minha cabeça" - é essa a referência ao Demóstenes?
Por falar em punk, a Plebe poderia voltar a usar as pulseiras e cintos de couro com tachinhas que usava no início da carreira.

Anônimo disse...

O nome da música da banda Suicide Machines ao qual fiz a comparação com Pressão Social é Sometimes I Don't Mind a introdução é a mesma, só que a música é do ano 2000, descobri agora, foram eles que se inspiraram na Plebe para compor essa música... Plebe é Plebe!!!

Eduardo Raggi disse...

Recomendo a todos (se o André ainda não o fez) a leitura dos dois volumes da excelente Mate-me Por Favor by Legs McNiels, lançados no Brasil pela L&PM POCKET, à venda nas livrarias do seu shopping. Legs era punk antes dele mesmo saber. Ele sabia que o fanzine que ele queria editar tinha que ser diferente e antagônico a tudo que ele considerava lugar comum - década de 70 - , vide hippies, glitter...Foi ele que adotou a xingamento Punk (desocupado, arruaceiro, irresponsável, etc.) para ser o nome do seu fanzine. A primeira entrevista da Punk foi com Lou Reed no meio de um show dos Ramones no CBGB's. Barbiturizado, Reed se limitou a ofender McNiels furiosamente, conteúdo que coube como uma luva para a recem nascida Punk. Leiam Mate-me Por Favor e parem com essa patética guerrinha de quem sabe mais sobre Punk.

Anônimo disse...

É, vai ter mais dicussão, pois o glitter influenciou o punk.

Anônimo disse...

Mueller. Cara, tô que nem louco procurando Fred Banana Combo e não acho nada. Apenas achei um mp3 de uma música de ensaio, um blues sem letra... tipo brincadeira de ensaio. tu tens algo da banda?
abs

André Mueller disse...

Excelente dica, essa do Mate-me Por Favor. Leitura obrigatória antes de qualquer debate sobre o punk.

Paulo, não tenho, mas vou tentar arrumar virtualmente.

Abraço.

Anônimo disse...

Andre, the band Suicide Machines is a great power pop band that has been around for a while that has roots in punk. The song 'I Don't Mind' is a great tune about the guy's dog. This song was a nominal hit on the college, indie circuit. This song is also very special to me because I happened to hear it around the time I had to put Rigel down. Listen to the lyrics. If your a dog owner you can't help but be moved. Eu adoro teu blog meu amigo!