segunda-feira, fevereiro 14, 2005

BRASÍLIA: AME-A OU DEIXE-A. ONDE É A SAÍDA?

Meu caso com Brasília sempre foi de amor platônico, adoração completa e admiração total. Afirmava a torto e direito que não existe lugar melhor para alguém passar a adolescência, no sentido romano, que significa até os 32 anos. De um tempo para cá a ficha caiu. Como no despertar de um pesadelo, acordo me perguntando: “o quê estou fazendo aqui?” Como que louvar esse mar de marasmo, esse gerador de energia negativa, essa toca de vigaristas, larápios e usurpadores?

Talvez seja que somente agora, quatro décadas após a sua construção, a sociedade brasiliense tenha finalmente se cristalizada e mostra a sua verdadeira face. Estamos no faroeste, na terra de ninguém. A faixa de gaza tem mais moralidade do que esse quadradinho inserido no meio de Goiás chamado Distrito Federal. Gerações cresceram vendo o bem público sendo invadido, vendido, revendido. Grileiros que pousam de deputados distritais e empresários locais fazem a festa; viram deputados irem e virem, roubarem e rolarem. Juízes, presidentes, ministros e senadores deixaram péssima impressão. O, agora adulto, brasiliense acha que é normal dar carteirada, roubar, usar o bem público como se particular fosse.

E esses prédios suntuosos que nos cercam? Congresso, tribunais, ministérios e outros antros de aspones. Todos cobertos de mármore, vitrais e outros exageros? No mundo civilizado, prédios públicos são singelos, construções que não chamam a atenção. O quê chama a atenção é o serviço público prestado à população, não o palácio onde os barnabés trabalham. Em Brasília é o contrário. Oscar Niemayer, talvez inspirado na doutrina stalinista que tanto admirava na época, construiu verdadeiros taj mahais para a burocracia. Templos da ineficiência para abrigar nossos juristas e legisladores. Igualzinho na África e outros redutos atrasados do planeta.

Tem mais à caminho! Também na contramão do que é feito nos países decentes, novas obras de arquitetura estão sendo erguidas, décadas depois da construção de Brasília. Quem assina a planta do em obras Museu Nacional? Oscar Niemayer, novamente. Não houve concurso público, licitação, nada! Simplesmente contrataram o velhinho de novo, jogando fora a Lei de Licitações e impedindo qualquer outro arquiteto de receber algum reconhecimento. É uma retenção de mercado que deveria ser levado ao CADE! Até na França, país mais xenofóbico do mundo, quando vão construir um novo prédio público de importância, fazem um concurso internacional. Tanto é que o autor no anexo do Louvre é um chinês e do Pompidou é um inglês. Aqui não, estamos virando um parque temático do Niemayer, igual a Disneylândia. Vamos cobrar entrada.

Tudo isso reflete no comportamento do brasiliense. No trânsito, nas escolas, no lazer da capital. Não é um lugar agradável, meus amigos. Nossa Câmera Distrital já foi descrita na Veja como uma “casa dos espantos”. Pois é, pegaram leve. Motivo de comemoração na capital é a aprovação do bairro Noroeste, outra orgia imobiliária para um clube restrito de empresários e políticos. Denominam isso aqui “patrimônio cultural da humanidade”. Cultura é o que Brasília menos tem! Os artistas e músicos que fazem sucesso querem mais é distância! Ou você acha que a Legião, Capital e Cássia Eller moram no DF? Essa última, nem quis ser enterrada em solo distrital. Quando o Bolshói se apresentou aqui tinha político comendo Ruffles e falando no celular durante a apresentação. Temos que fazer um abaixo-assinado para a que a UNESCO retire essa calúnia de sua lista de cidades tombadas. Onde é a saída? Quero sair!

3 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo texto,mas não é dessa maneira que vamos resolver as coisas. Não vamos utilizar essa desculpa para um emocional abalado.

Anônimo disse...

Tb acho que não é dessa maneira que vamos resolver...
TACA FOGO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

"O ultimo a sair que apague a luz do aeroporto".

A merda de Brasilia é o seguinte: quando é para fazer uma obra que melhore esse projeto desatualizado e falido do Niemeyer, isso não pode porque Brasilia é "tombada".

Porém, quando a negada e os pilantras invadem terras publicas, para fazer favelas e condominios, quando o comercio da asa sul faz os puxadinhos mais escrotos do mundo, ou quando o paraiba chumba as rodas de uma kombi na calçada, aí tudo bem, o governo "regulariza".

De qualquer modo, o modernismo de Nyemeyer é tão falido quanto o comunismo stalinista mecanizado que o pariu. As obras de Niemeyer não valorizam a natureza local, são simplesmente paralelepipidos cercados por ruas sem esquinas e tapetes verdes de grama. As arvores não constam no projeto original.

As maquetes eram uma beleza, parecia ficção cientifica, mas na vida real coisa era bem diferente. Ninguem aguentava a secura, a grama careca cheia de insetos nocivos, aquela claridade que cegava... A devastação do cerrado fez muita poeira de barro. E assim Brasilia sempre foi artificial e melancolica.

Hoje a cidade melhorou um pouco por causa das arvores que cresceram.

Portanto, aquele sonho futurista de Brasilia acabou em cafonice brega. E tudo vai ficando cada vez mais sucateado, mais encardido de barro, mais abandonado e fodido. O transito cidade vai ficando cada vez mais estragulado pelas burrices do Lucio Costa, que na verdade desenhou cidade com a forma de foice e um martelo (avião porra nenhuma!)