terça-feira, janeiro 23, 2007

A Gravação do Concreto Já Rachou

Recentemente estava recordando as gravações do Concreto Já Rachou, realizadas no estúdio da EMI, em Botafogo, RJ, em novembro de 1985. No comando da produção, o Sr. Hebert Vianna, pilotando a mesa, Renatinho Luís. Essa dupla foi responsável pelo excelente som do disco, muito melhor do que tudo que estava saindo à época. Parecia até ter sido gravado e mixado lá fora.

A gente ainda era moleque, não tínhamos noção da importância de estarmos lá, gravando o primeiro disco. Estávamos maravilhados em estar hospedados pela gravadora num hotel em Copacabana (em frente ao Crepúsculo de Cubatão!), com tudo, menos bebidas alcoólicas, liberado. As gravações eram à noite, iniciando às 21 horas e esticando até umas três da madrugada. Seguindo essa rotina por mais de 45 dias, o corpo se acostuma e, de uma hora para outra, você está em horário japonês, só que no Brasil.

As seções eram bastante produtivas. Começamos gravando as baterias e o Gutje tirava de letra. Mais tempo era gasto procurando o som perfeito do que ele desempenhando o seu papel de baterista. Esse era o tipo de cuidado que o Hebert e o Renatinho tinham, nos detalhes. Por isso repito, são os “culpados” pelo som soberbo do disco. Os baixos vieram em seguida, também sem maiores problemas. Lembro-me que fica sozinho com o Renato na cabine de gravação, onde ficava a mesa, gravando minhas linhas, enquanto o resto do pessoal ficava dentro do estúdio jogando vôlei.

As guitarras, obviamente, receberam a maior atenção do nosso produtor Vianna. Cada noite ele apresentava uma guitarra nova para o Philippe e o Jander tocarem. Recordo de uma birra que o Philippe deu, antecipando que o Hebert ia querer que ele gravasse a parte do meio de Até Quando com uma Stratocaster, chegou ao estúdio armado para recusar. Que nada, o Hebert nem sequer cogitou essa idéia. As guitarras demandaram um tempo e carinho enorme para serem gravadas. Dá para notar no produto final.

Depois, as vozes. De novo, sem problemas, tirando o típico nervosismo do Philippe cada vez que tem que cantar no estúdio. Acho que é pela responsabilidade; o que ele cantar, será registrado para todo o sempre. Tinha vezes que todos saíamos do estúdio para deixar ele mais à vontade.

O maior problema eram as visitas. Na hora de gravar voz, a pessoa se sente muito vulnerável, precisando de uma atenção muito grande do produtor e apoio do resto da banda. A Plebe era (é até hoje) uma banda muito querida e de fácil acesso. O estúdio vivia lotado de amigos de Brasília, que viajaram especialmente para estar junto da gente nesse momento histórico, e do Rio, que incluíam membros do Black Future, Paralamas, Zero (que gravava ao lado), Kongo, entre outros.

No aniversário do Philippe, dia 4 de novembro, prepararam uma festa surpresa que quase acabou em desastre quando abriram espumante em cima da mesa. Foi uma bronca só do Hebert e, depois, a coisa ficou mais calma.

Finalmente, chegou a vez dos convidados especiais. O Hebert insistiu para o George Israel comandar o naipe de Seu Jogo. Achamos esquisito ter alguém do Kid Abelha, banda completamente antagônica à Plebe, no disco, mas ele insistiu e o resultado não comprometeu a credibilidade do Concreto. A Fernanda Abreu, ainda na Blitz, fez o backing em Sexo e Karatê, e ainda por cima arrancou suspiros da galera. Mas o grande triunfo foi o Jaques Morelenbaum no violão celo, fazendo a abertura clássica de Até Quando Esperar. Ele ainda viria a tocar com a gente nos próximos dois discos. Uma honra.

Outra coisa que me lembro foi que a gravação foi uma época de engorda. Não era para menos, no hotel tudo liberado, no estúdio, entregas de pizzas e massas toda hora, noite a dentro. Voltamos todos bem mais gordos, especialmente o Jander. Já no final das gravações, fui subir a Pedra da Gávea com uns amigos. Estava tão fora de forma, que desisti no meio. Aquilo me chateou tanto que, meses depois, mais magro, refiz o caminho, fazendo questão de ficar à frente do grupo.

Quando terminou voltamos para Brasília. Isso foi um anticlímax, pois saímos de um período onde éramos o centro das atenções, quando estávamos produzindo diariamente, para uma calmaria sem fim. Bateu uma deprêzinha em todos, que durou pouco, pois, em fevereiro saiu o Concreto. O resto é história. Um história que, infelizmente, está fora de catálogo. Acorda EMI!

22 comentários:

Anônimo disse...

Bacana a história André! Por falar em EMI, vc jah conseguiu aquela caxinha verde com os 3 primeiros discos?

Anônimo disse...

Quanto mais ouço “O Concreto” mais tenho a certeza do porquê ele é incomparavelmente considerado, pela maioria dos fãs, como o melhor da banda, e até uma fonte de reclamações dos fãs mais antigos: o disco vem com um som extremamente robusto, enérgico e com uma certa dose de irresponsabilidade da banda com uma possível notoriedade.

O som rude, áspero, cru das guitarras e do baixo aliado às sofisticações de produção do Hebert soou completo, sem defeitos. Os vocais sobrepostos com o tom de voz grave do Jander (às vezes até sombrio) casou-se perfeitamente com a do Philliphe. Exemplo típico é a faixa “Seu Jogo” (com certeza está no meu set list).

Não sei André, mas os dois álbuns seguintes da EMI parece que ficaram mais suscetíveis às influencias e opiniões da gravadora, que com certeza procurava vender a qualquer custo, numa linha totalmente avessa à filosofia da banda de total irresponsabilidade com o sucesso.

Anônimo disse...

Pois é...enquanto a EMI dorme, tenho uma coletânea da Plebe para escutar os hits de concreto (que é todo o disco, diga-se de passagem grande feito emplacar todo um disco de banda iniciante)e meu Concreto fica na frente da coleção de vinil, para não gastar e ser ouvido só em ocasiões especiais...

CA®I0CA disse...

AS MINHAS PREFERIDAS SÃO SEU JOGO E BRASÍLIA !!!

Anônimo disse...

Como é que faz pra repetir aquele som do "Concreto"? O grande problema das bandas brasileiras, até hoje, é que eles mixam a voz na frente de todos os instrumentos, uma mixagem estilo MPB. Rock não é assim. A Plebe andava com os caras do Black Future,(que aliás, estão armando um DVD sobre o disco "Eu sou o Rio") e tinha participações díspares no disco como Jacques Morelenbaun, Fernanda Abreu e George Israel. Grande dupla essa Herbert e Renato Luís.

André Mueller disse...

João, essa é a cara da Plebe. Do underground às celebridades, tem sempre gente que curte a gente, e, também, gente que a gente respeita.

Concordo quanto às mixagens nacionais. Por enquanto, o Concreto é a única exceção.

Anônimo disse...

Pois é, lembro bem daquele estudio B, com aquela antiga mesa dos Beatles.

Acho que foi nessa gravação, de voces, que o Herbert tomou um porre e vomitou o estudio inteiro.

André Mueller disse...

Anônimo,

Percebo que é um insider que não quer se identificar, tudo bem. Na verdade, quem estava no estúdio B era o Zero, a gente estava no A. Essa história do porre foi durante a gravação de Nunca Fomos Tão Brasileiros, que vai ao ar amanhã. Nessa gravação o Hebert nem tocava em álcool e estava super focado na produção, como atesta o resultado final.

Anônimo disse...

O som da bateria, nos dois primeiros discos é realmente de tirar o chapéu. Mas nunca gostei da forma como Gutje tocava e o que mais me incomoda nestes discos é o som do chimbau fechadinho, principalmente na hora de uma dinâmica maior, quando claramente se pedia uma chaleira, ficava lá o chimbau fechadinho...

Anônimo disse...

André, quantos "Andrés" integram a banda, fiquei sabendo que são dois, justamente os fundadores. Verdade???

Anônimo disse...

Pois é André,

O estudio B era muito pouco usado, acho que nem gravavam nada lá. Sei que voces gravaram no estudio A, mas eu cheguei a ver voces ensaiando no B.

Disse que lembro bem do estudio B, da mesa dos beatles, porque era lá que o pessoal fumava (ele vivia vazio).

Quanto a vomitada do Herbert, sei que o cara era quase careta, não curtia droga. Se fosse pau d'gua não teria nem vomitado.

Eu não lembro quem era que estava gravando com naquele dia, não sei se era Paralamas, Legião, Finis ou voces, por isso perguntei.

Sei que quando passei pelo corredor do da EMI, a porta do estudio se abriu e, nisso, vi o Herbert dando um puta vomitadão. Então passei batido, para não vomitar tambem.

Anônimo disse...

Outra coisa,

Para voce nao se confundir, eu só postei o papo do estudio B/ vomitadão. Os outros assuntos anonimos não fui eu que postei

Anônimo disse...

Bem, já que voce gosta de histórias do "concreto já rachou", tem uma que voce não deve lembrar, porque estava tocando no palco.

Foi um show na esplanada dos ministérios, em que no fundo do palco havia o congresso nacional.

Por coincidencia, o congresso estava em obras, cheio de andaimes na frente. Então, o Phillipe ficava cantando essa musica enquanto apontava para a obra.

Aquilo, pelo menos para mim, foi uma cena muito interessante, deveria ter sido filmada.

Outro evento, que para mim foi histórico, foi a inauguração do Food's. Acho que voces e o Captital iriam tocar nessa inauguração, logo após o campeonato de skate.

Porém, já no meio do campeonato de skate, a garotada, que lotava o estacionamento do Food's, começou a travar uma guerra de sandalias havaianas.

Na época era moda usar sandalia havaina virada ao contrario, e todo mundo estava usando isso. Então, começou aquela guerra de sandalia. Era uma chuva de havainas que eu nunca vi na vida. Parece que o show foi até cancelado.

Anônimo disse...

Nesse show do Food's, teve uma das cenas mais engraçadas que já vi.

Enquanto rolava a guerra dos chinelos, um organizador do show subiu no palco para pedir para que o pessoal parasse com aquilo. Porém, enquanto estava falando no microfone, o sujeito levou uma tremenda chinelada na cara, e desceu do palco rolando.

Anônimo disse...

A EMI vacila feio em não relançar os álbuns ou fazer um box-set com o making-of desse álbum mais aquele show do BEM BRASIL em 2000 . Outras gravadoras já fizeram algo : a Warner com caixa c/3 dvs do Barão , a Sony/bmg vai lançar um box c/ dvd do RPM....ah tem tbm os Titãs que prometem o Cabeça Dinossauro remasterizado mais cd com a demo e dvd da turnê . As gravadoras são burras pois querem majorar o preço mas a partir que vc elitiza a coisa vem alguém que oferece uma alternativa mais em conta ,mas nesse caso o público alvo seria o colecionador ...aquele que se preocupa com detalhes - por falar nisso , alguns encartes só com lupa para enxergar .

CA®I0CA disse...

ESSE SHOW DE BEM BRASIL DE 2002 DÁ UM EXCELENTE DVD,DETALHE É QUE PHILIPPE E JANDER NEM SE OLHAVAM !!!!

www.soofim2005.blogspot.com

André Mueller disse...

Vomitadão,

Estou curioso, quem é você? Certamente alguém da equipe da Plebe, mas quem?

Suas lembranças são precisas. Porém de uma época pós Concreto.

Abraço.

Anônimo disse...

O BB é de 2000 e o Tia Anastácia abriu para a Plebe

F3rnando disse...

Gravadora é burra pq começa não valorizando o próprio catálogo...

CA®I0CA disse...

DESCULPE BEM BRASIL DE 2000

Anônimo disse...

André,

Hoje sou velho acabado e eremita recluso, mas tive uma juventude muito social e agitada.
André,

O primeiro show de rock brasiliense que assisti foi "A Nata" e "Tellah", em 77.

Então, conheço a Plebe desde o começo. Lembro muito bem das plebetes Ana e Marta (sua ex-esposa), que inclusive eram lindas. Nunca me conformei com a saida das plebetes.

Não fui da equipe da Plebe, não sou Cris moleque nem Fred careca (tinha tambem um tecnico de som, lá do Rio... Seria o Joca?)

Andava na EMI porque um amigo gravava por lá tambem. Andei em quase todos os estudios do Rio. Assisti a gravação do Black Future, na RCA, em copacabana (Fui amigo de Tantão, Omar e Satanésio). Andei muito na Polygram tambem, na Barra.

Mas, enfim, fui apenas amigo da galera. Tambem toquei em bandinha... Voce sabe quem sou eu, me conhece muito bem. Só não digo o meu nome aqui porque odeio expor a minha privacidade. Gosto do anonimato (mas se voce quiser mesmo saber quem sou, me peça que eu coloco um link aqui, para voce descobrir).

Já a estória (história) do Food's é muito anterior ao "Concreto Já Rachou". A inauguração do Food's foi nos primórdios, quando eu ainda andava de skate. Acho que a Plebe e Capital ainda nem existiam. Isso foi no final dos anos 70.

Acho que nessa época voce já tocava, mas em outra banda (XXX?).

Uma vez, depois da inauguraçao do Foods, acho que vi voce tocando com a sua antiga banda, na Arena da UnB. Nesse show haviam outras bandas malucas, tipo "os Metralhas" e etc. Esse evento foi muito legal. Nunca vou esquecer.

Gosto de lembrar desses showzinhos do começo, da nossa juventude dourada, pois esses shows sim tinham o verdadeiro espirito punk. Gostava muito daqueles shows no meio da rua, na praça, no gramadão... Tivemos tambem showzinhos interessantes no teatro da ABO (616 sul), Radicaos...

Anônimo disse...

Lembrei, como se fosse ontem, do epsodio do vomitadão do herbert, observada sob o meu ponto de vista:

Fui na EMI encontrar alguem. Nisso fiquei sabendo que a Plebe estava lá no estudio. Pensei: "que bom que os plebeus estão lá".

Na saida, passei pela porta do estúdio. Andava, desavisado, pelo corredor da EMI quando a porta do estudio se abriu.

Essa é a cena que vi: o Phillipe segurava o Herbert, tentando tira-lo de dentro do estúdio. O Phillipe nem olhou para mim, estava desesperado, tentando tirar o Herbert de dentro do estudio.

Nisso, ainda sem conseguir sair de dentro do estudio, o Herbert deu outro vomitadão.

Em seguida, o Herbert olhou para mim, olhou para o Phillipe e sorriu. Disse "Oh Yeah". Nisso eu pensei: eca... olha o arroz com batata frita, que ele comeu no almoço!" O cheiro de manguaça tambem era nauseabundo.

Olhei para dentro do estudio e vi que aquela não teria sido o primeiro, haviam outras poças repugnantes pelo chao do estudio.

O Phillipe ainda tentava arrastar o Herbert para fora do estudio. Pensei em ajudar, mas, quando olhei direito aquela poça de vomito...

Então, passei batido, fingi que não conhecia. Enquanto saia, ainda ouvi muitas gargalhadas, do pessoal lá de dentro do estudio (acho que um deles era voce).