segunda-feira, abril 24, 2006

Pop subversivo.


Muitos vão tentar me internar, outros vão achar que perdi a noção do ridículo, portanto acho bom sentarem antes de ler, porque vou falar bem de quatro conjuntos assumidamente pop dos anos 80s. Na verdade, à época, eu achava-os insuportáveis, escapismo barato, ópio para o povo. Gozado como as aparências enganam. Por trás das músiquinhas açucaradas e fáceis de assimilar desses conjuntos, rolava muito mais que aparentava.

Contextualizando, no início da década de 1980, o post-punk era a coisa mais excitante em termos musicais que havia. Conjuntos como o Pop Group, Slits, PiL, Magazine, só para mencionar alguns, debatiam e colocavam em prática a subversão do rock, tentando torná-lo mais político, sem ser dogmático; trazê-lo ao povo, sem ser popular; expurgá-lo dos clichês, sem deixar de ser divertido. Esses objetivos eram muito debatidos entre os músicos e na imprensa especializada. Mas falharam numa coisa: tornar o rock digerível e popular às massas.

ABC, Heaven 17, Associates e Scritti Polliti cresceram ouvindo o som do post-punk (e do punk também) e sendo bombardeado por essa retórica que era debatida nos bastidores. Quando chegou a vez deles tomarem as rédeas de suas composições, tentaram um caminho diferente. Ao invés enfiar goela abaixo um som difícil de assimilar, optaram por deixá-lo o mais doce e tragável possível, de criar um pop que todos assimilariam bem, mas que traria no seu coração as mensagens e subversão do post-punk. Para tanto, optaram pelo computador, pelo sintetizador, algo definitivamente post-punk, no sentido de exorcizar o “Chuck Berry” do rock n’ roll. Optaram por produções primorosas, disfarçando um conteúdo politicamente volátil como música descartável.

O ABC, vindo de Sheffield, a cidade industrial mais socialista da Inglaterra, adoravam as letras do Gang of Four, que conseguiam politizar até uma transa, como na música Natural Is Not In It. Muito letrados, fizeram uma série de letras no mesmo veio, falando de oferta e demanda, de contratos subliminares e da socialização dos papéis dos sexos. Só que na hora da música, pegaram o Trevor Horn, conceituadíssimo produtor, e falaram: torne nosso som tragável para as massas. Resultado: o primeiro disco, Lexicon of Love, se torna sucesso mundial. Só que ninguém tinha idéia do que estavam ouvindo.

O Heaven 17 começou com a separação do Human League em dois times. Quando o Martyn Ware e o Ian Craig Marsh deixaram a banda, formaram primeiro o British Electronic Foundation – BEF, que não era uma banda, mas sim uma corporação musical, que geraria uma série de afirmações musicais importantes. Conseguiram algo imaginável: assinar com a Virgin, uma mega-gravadora. Pelo contrato, tudo que produzissem teria que ser lançado, e o que estourasse teria que ser repetido. Primeiro, para não assustar os executivos, lançaram o Heaven 17, que foi um estouro. Tudo bem, você torce o nariz, mas veja o primeiro compacto: (We don't need this) Fascist Groove Thang, uma música alertando o mundo sobre as eleições simultâneas do Reagan, nos EUA, e a Thatcher, na Grã Bretanha. Um pop dos mais pops, tinha tudo para chegar no top dez, mas foi banido pela BBC, por ser político demais. Com o sucesso do Heaven 17, Martyn e Ian financiaram um monte de outros projetos, não tão pop assim.

Saca só a capa do primeiro disco. Para mim, estão tentando avisar que estão nessa como infiltrados no sistema, pegando o dinheiro e usando para algo mais nobre. Talvez os “robin hoods” do pop?

O Scritti Polliti e os Associates seguiram a mesma trilha, conseguiram colocar nas paradas músicas acessíveis, porém examinando mais de perto, altamente inflamáveis. O problema todo é que a fórmula pop que inventaram – sim, ainda por cima tinham um som característico – foi imitada por vários outros, a maioria manés, sem uma base conceitual, que faziam pop por fazer pop e levar a vida de pop-stars. Tudo que o punk e o post-punk lutaram tantos anos contra. Muito desses vocês conhecem: Duran Duran, Eurorythimcs, Culture Club, Simple Mindes, etc.

O ABC e o Human League se revoltaram contra isso e substituíram seus teclados por guitarras, suas baterias eletrônicas por bateristas de carne e osso. Eles perceberam que geraram uma geração sem conceito, nem base. Sendo antenados, previram que o pop voltaria para as guitarras, para as raízes. Mas seus fãs não acompanharam a mudança, preferindo ficar com os falsos profetas do novo pop, mencionados acima.

O lado ruim disso é que, para mim, pelo menos, a música continua sendo difícil de ouvir. Muito pop. Mas tiro o meu chapéu pelo maquiavelismo do esforço.

31 comentários:

CA®I0CA disse...

fala ANDRÉ!!! POSTOU 40 VEZES O MESMO ASSUNTO, ESTAVA ESPERANDO VC ARRUMAR RS RS RS ...
1ª VÍ UM VIDEO DO PROGRAMA LIVRE DE 91 O PHILIPPE CANTOU EXCESSÃO DA REGRA E NO MEIO DA MÚSICA ELE ACRESCENTOU UM TRECHO QUE NÃO SAIU DO DISCO, COMENTE ALGO;

2ª E NÃO ADIANTA VC NEGAR,OS BACKINGS DO MAIS RAIVA FOI VC QUE GRAVOU;

3ª VÍ O CLIPE LUZES COMPLETAMENTE DIFERENTE DO QUE PASSAVA NA MTV,EXISTEM DOIS CLIPES DESSA MÚSICA???

4ª O RENATO ROCHA EX BAIXISTA DA LEGIÃO ( O ÚNICO QUE SABIA TOCAR NA MINHA OPINIÃO NA BANDA) ELE ERA ESSE VILÃO MESMO , VC CONHECEU A FIGURA ????

André Mueller disse...

Cícero,

1ª. Não estou lembrado disso, mas é muito comum do Philippe enfiar trechos de outras músicas no meio das nossas. Atitutude que acho muito legal.
2ª. Sim, algumas são minhas.
3ª. Que clipe é esse? Desconheço!
4ª. Renato Rocha, o Negrette, é um maluco, mas totalmente CB (Sangue Bom!). Amigo das antigas. Nunca o vi como vilão, nem conheço ninguém que assim o ache.

CA®I0CA disse...

EXCESSÃO DA REGRA NUNCA ME CHAMOU A ATENÇÃO, MAIS DEPOIS DESSE TRECHO QUE EU OUVI DO PROGRAMA LIVRE PASSEI A GOSTAR MAIS DA MÚSICA,

SÓ PERGUNTEI DOS BACKINGS,PQ UMA VEZ VC FALOU QUE NÃO TINHA GRAVADO,MESMO CONSTANDO NA CAPA DO DISCO (QUEM TIVER ELE EM VINIL EU COMPRO!!!) SÓ TENHO EM CD.

EM 2000 O CLIPE QUE PASSAVA NA MTV ERA UM PARECIDO, SÓ QUE O MOLEQUE FAZIA OUTRAS CENAS (NÃO SER QUE ESSE DO VIDEOLOG É MONTAGEM DE ALGUM PLEBEU ???)

VÍ UMA ENTREVISTA DO RENATO ROCHA FALANDO DA ÉPOCA DA LEGIÃO E ELE FALOU QUE SEMPRE CHEGAVA ATRASADO(IGUAL O GUTJE) E SEMPRE O DADO E O BONFÁ METE O PAÚ NO CARA MAIS EU GOSTO DO ESTILO DELE ....

André Mueller disse...

Cícero, realmente, o Negrette sempre chegava atrasado nos ensaios, mas colaborava com o resto da Legião em tudo e nunca foi rato com a banda.

Anônimo disse...

Musicas pops atuais muito boas:
- Hung up- madonna
- Se ela dança, eu danço- mc leozinho
- ai, ai, ai- vanessa da matta

Anônimo disse...

Realmente, esse sinthy-pop do inicio dos anos 80, pra mim, é intragavel. Passei batido pelo que tinha de bom.
Essa versao de Excecao da regra é mais rapida e melhor que a gravada, que é a pior musica desse disco.
O Alex Antunes, critico paulista da Bizz nos anos 80, diz por ai que o Renato Rocha foi expulso da Legiao porque comeu a mulher de alguem da banda.

Anônimo disse...

Fernando, qdo eu falei que odeia, é o som da banda, eu sei que pessoalmente eles sao muito amigos, a plebe é amiga do pessoal do capital e da legião, mas nao gosta do som de ambos,...

Anônimo disse...

O andre é amigasso do fe lemos e o phlippe era amigasso do renato russo,..

Anônimo disse...

Fala André... blz?

Alguma banda no Brasil tentou usar o pop para o bem???
Alguma novidade sobre o show do Giraffas???

Abraços

Daniel - Plebe na pele

Anônimo disse...

Exceção da Regrea em 91 no Programa Livre. A Plebe já era um trio. Tocaram Até quando Esperar, Este ano e exceção da regra com um trecho da letra diferente que saiu no disco. O André, na época, disse ue era arquiteto. TEnho gravado esse programa. Um abraço.

CA®I0CA disse...

FABIANO QUERO UMA CÓPIA !!!!
ENTRE EM CONTATO
soofim@bol.com.br

Anônimo disse...

A versão de Luzes que esta no videolog, não foi modificada por mim, se ela é realmente diferente, pode ser que haja 2 versões deste clip. Sobre o clipe de Proteção tenho minhas duvidas também, vi o clipe na mtv ha um tempo atras, um que é preto e branco e não tinha imagens externas de repressão, diferente do que esta agora no videolog. A apresentação completa do programa livre de 1991 disponibilizei no google: video.google.com e também uma parte do show na concha em 2005 (primeira apresentação do Clemente em Brasília) e também partes do show do BMF em 2005. www.videolog.tv/pleberude
http://video.google.com/
http://www.youtube.com/ Procure por Plebe Rude

CA®I0CA disse...

NÃO ACHEI A APRESENTAÇÃO NO GOOGLE DO PROGRAMA LIVRE (QUERIA VER POR INTEIRO)
A VERSÃO DE LUZES DA MTV ERA DIFERENTE TINHA UMA PARTE QUE O MOLEQUE SUBIA AS ESCADAS DA GALERIA DO ROCK EM S.P.A BANDA POUCO APARECIA, O ANDRÉ NÃO ESTAVA COM A CAMISA DO VALDERRAMA.

Anônimo disse...

Realmente não esta aparecendo este do Programa Livre, vou arrumar isso. O do BMF quase completo já pode ser visto no video.google.com

Anônimo disse...

Falando de Pop
Mr.X:
1º Não conheço essas Bandas Pop, vou dar uma pesquisada;

2º O que pensa sobre o chamado "Pop Punk", bandas como Blink 182, Green Day e atuais como Simple Plan, Good Charlotte e Sum 41??

F3rnando disse...

Anônimo (...), não é meio incoerente (pra dizer o mínimo) tocar num tributo de uma banda que não se gosta, ou aparecer no DVD de outra banda só por amizade tb?

Acho que não é bem essa a praia da Plebe e do Mr.X . Existe um respeito mútuo e, como eles mesmos frisam, houve uma concorrência sadia durante uma certa época, o que só ajudou cada banda a ter sua identidade e sua importância na cena numa determinada época.

Não é mais festival de banda de escola, carissímo.

Anônimo disse...

Não acho que seja incoerente e foi exatamente isso que aconteceu.
O proprio andre chamou a legião de banda "aspirina" e varias vezes falou que nao gostava do capital. O phlippe uma vez falou que tb nao gostava de legião.
Agora, ca entre nós nao da pra imaginar o philippe e o andre, escutando e cantando "natasha" e "sem cansar" em casa,....

André Mueller disse...

Olha, sou fã da Legião, tanto como as pessoas que fizeram parte, como da música. Não é o que eu costumo ouvir em casa, mas dá de mil em qualquer outro rock nacional - underground ou mainstream, atual ou do passado.
Também gosto do Capital, apesar de pop, eles acharam um caminho e estão seguindo direitinho a trilha que escolheram.
Difícil separar a pessoa do som, eu acho. Se gosto de alguém que toca numa banda, é bem provável que goste da sua música.

F3rnando disse...

Taí, já que o tópico era o famigerado "pop"...

Anônimo disse...

Legal,

Achei um vídeo da rede Globo, provavelmente de 86, da Legião Urbana com o Renato Russo usando uma CAMISETA DA PLEBE.

http://www.youtube.com, procure por
Legião Urbana. Clique em "Legião Urbana - Ainda é cedo (ao vivo)"

Era o programa com a apresentação do Chico Buarque e Caetano Veloso.

Anônimo disse...

Prezados,
mesmo não tendo nada a ver, visitem o blog do Jamari França, está rolando altas discuções sobre a bendita carteira de estudante. André, vc como músico o que acha dessa de 50% para estudantes, que na verdade não tem nada de desconto.
Abraços,

Gunther Hofner
Belo Horizonte/MG

Anônimo disse...

segue o endereço do J.frança sangue bom http://oglobo.globo.com/online/blogs/jamari/Default.asp

Anônimo disse...

MANUEL BARBOSA / SALGADO-SE

Olá amigos, acho que essa coisa de estilo musical é relavante, acho que toda música seja ela qual for o estilo, tem que ser tocada com IDEOLOGIA. Aqui na cidade que moro tenho também um projeto musical e fazemos músicas próprias mas com muito cuidado para não cair em desgraça o que acontece com muitas bandas de hoje em dia. Pra encerrar a gente pra falar de alguma banda ou estilo musical primeiro nós temos que conhecer bem a banda ou o estilo pra que não aconteça nenhuma injustiça.
EXCESSÃO DA REGRA É UMA DAS MELHORES MÚSICAS DO ROCK BRASILEIRO. QUE VIVA A PLEBE!

Anônimo disse...

EU QUIS DIZER RELEVANTE.
MANUEL.

Anônimo disse...

leva a mal nao mas esse negocio de ideologia é jmaior papo furada, musica é musica, nao é existe certo ou errado, existe bom ou ruim...

Anônimo disse...

O Jander esta em Brasília, vocês se falam pessoalmente quando ele passa por Brasília?

Anônimo disse...

André, lendo esses posts de videos lembrei que vi uma vez, na casa do Buticão, uma entrevista da Plebe no programa Clip Clip, da Globo. ALguém já viu isso?
Muito engraçado, todos nervosos, sentados no chão...
Era uma vhs...

André Mueller disse...

Me lembro dessa entrevista. A gente foi jogado aos leões, sem nenhuma experiência nesse tipo de situação. Mas achei bacana.

Anônimo disse...

É ISSO AÍ CADA QUAL COM SUA IDEOLOGIA.

Anônimo disse...

É ISSO AÍ CADA QUAL COM SUA IDEOLOGIA.

F3rnando disse...

Paulo, eu lembro desse Clip-Clip, assisti quando era mulequinho, num sábado à tarde. A Plebe atacava um trecho de "Bichos Escrotos" na versão funky de "Proteção", com direito à apitos (piii) pq a música era censurada (isso foi em 86...Era assim que funcionava.)