quinta-feira, novembro 03, 2005

A turnê de Nunca Fomos Tão Brasileiros

Dizem que o segundo disco de uma banda é um marco especial, é o teste, o divisor de águas que a indústria usa para ver se vale a pena investir mais, ou abandonar como peso morto. A Plebe vinha de uma temporada vitoriosa: dos mini-LPs lançados pela EMI, foi o que mais vendeu, indo a disco de ouro. Duas músicas estouradas nacionalmente: Até Quando Esperar e Proteção, além de uma turnê non-stop por todo território nacional. O ano era 1988 e acabávamos de lançar Nunca Fomos Tão Brasileiros.

Esse era um disco muito especial para nós, pois seria o primeiro álbum mesmo, ao contrário do primeiro, que era um mini-LP, e apresentaríamos as primeiras músicas compostas na estrada, fora de Brasília (A Ida, Nada e Mentiras Pro Enquanto). O Naldo, nosso empresário veio com uma notícia ótima: tem um empresário de São Paulo que quer fazer uma turnê do interior de São Paulo, trinta dias na estrada, um monte de shows. Ficamos eufóricos! Viajar num ônibus próprio – coisa rara nos 80s – tocando em várias cidades, uma turnê organizada. Vamos nessa!

A turnê começou em Brasília, depois descemos até Uberlândia, onde começou a sair dos trilhos. Por alguma razão, ficamos cinco dias parados nessa cidade mineira, no hotel, sem porra nenhuma para fazer a não ser jogar bola e dormir. Ninguém dava nenhuma informação do que estava acontecendo, de quando seria o próximo show. Finalmente, prosseguimos. Entramos em São Paulo e saímos tocando. Só que a gente chegava nas cidades e não tinha divulgação. Conseqüentemente, os shows estavam vazios. Tinha lugar que nem cartaz na rua tinha! A gente começou a achar muito estranho.

A equipe do contratante era muito esquisita. Tinha um tal de Hércules, cujo nome a gente usou para apelidar a turma de Herculóides. Quando entravam no ônibus a gente gritava “Os Herculóides”, igual no desenho animado. E cada um tinha seu apelido, que também era gritado quando apareciam: Zandor, Tundra, Blip, Blop, etc. Eles não tinham a mínima idéia do que a gente estava falando, preferiam ficar quietos e nos taxar de excêntricos.

Depois de vinte e oito dias, retornamos frustrados ao Rio. Resultado: ninguém ganhou nenhum dinheiro, pois o cara alegou falência! Aliais, o único que recebeu alguma coisa foi o Gutje, que conseguiu um adiantamento logo no começo para pagar uma geladeira. O Naldo ainda tentou processar o cara, mas vocês conhecem a justiça brasileira, não? Ele passou todos os bens para o nome da mulher e não deu em nada. Eu acho que ele nos usou para lavar dinheiro, ou então embolsar alguma grana de patrocínio.

O primeiro mês de um disco é fundamental, pois a divulgação feita nesse período empurra as vendas e nas rádios. E onde estava a Plebe? No interior de São Paulo, tocando a troca de nada, sumido da imprensa, das TVs. Nem os shows serviram para divulgar alguma coisa, pois tocávamos sem ninguém saber que estávamos na cidade. Foi um desperdício. E imaginem os ânimos da banda, as diferenças ficaram mais fortes, a tensão aumentando a cada show frustrado, a cada cachê zerado. Mais um capítulo de “o que não fazer no rock em roll”.

6 comentários:

Anônimo disse...

André... é bem bacana apos quase 18 anos, conseguir refletir sobre o passado e, de uma certa forma, conseguir enxergar erros... E admiro mais ainda sua atitude, assumindo os próprios erros, diferente de outras bandas (leia-se Capital Inicial), que colocaram a culpa no mercado e depois se venderam para o mesmo...

Abraços

Daniel - Plebe na Pele

PS: Vc foi no show do Fábio Júniro tb?

Anônimo disse...

Acho muito legal esses posts com as hitórias da Plebe. Daria um ótimo livro pra mostrar pra galera nova de banda que tudo é feito com muito suor! E que tem que ter muita força de vontade pra seguir em frente!

Abraço André!

Anônimo disse...

Eu fui nesse show em Brasília da turnê do Nunca fomos. Tinha um cara que ficou na ponta do palco e acho que tocou teclado em certa parte do show.
E me lembro muito bem de entrevista na Bizz do André dizendo sobre essa turnê: "quebramos a cara, fizemos shows pra 200 pessoas". Esse Naldo é o que o Jander cita na música "2ª feriado". Que roubada, Naldo!!!

André Mueller disse...

Pois é o que a gente falou para ele: que roubada, Naldo! E o pior, se ele viu que estava indo ruim, porque não parou no meio? Mas, apesar desse mal começo e do Sarney, que destriui a economia da época, conseguimos emplacar A Ida.

Anônimo disse...

André, gostaria de saber o real motivo do cancelamento do show que a Plebe faria no pontão do lago, isso foi em 2002, o que aconteceu?

CA®I0CA disse...

ANDRÉ DESSE MONTE DE COLETÃNEA QUE A EMI LANÇA DE VCS( SÓ MUDA A CAPA E A ORDEM DAS MÚSICAS) VCS RECEBEM ALGUM $$$$ POR DIREITOS AUTORAIS ???
NA MINHA OPINIÃO A COLETÃNEA PREFERENCIA NACIONAL É A MELHOR E MAIS COMPLETA ...