sexta-feira, julho 24, 2009

Revista Pop salva os Andrés!


O ano era 1977, com tudo que isso simbolizava no Brasil: ditadura, censura, impossibilidade de importar coisas, dificuldade de obter informação. Boatos de que uns jovens da Inglaterra começaram um movimento cultural, voltado para os jovens, vendo o mundo como ele é, indo contra o atual establishment musical começavam a soprar em Brasília. Dois jovens Andrés, um Mueller, outro Pretorius, nem tinham ouvido ainda o som que era a bandeira do movimento, mas já gostavam do pouco que liam.

Para nossa surpresa, uma revista voltada para um rock insosso lança um LP chamado: Revista Pop Apresenta o Punk Rock. Era uma sexta-feira quando compramos nossa cópia. Fui passar a noite na casa do Pretorius, que na verdade era a Embaixada da África do Sul. Quando os pais dele foram dormir, saímos da parte de moradia do edifício e entramos na parte administrativa, totalmente às escuras naquele horário. Fomos direto para o escritório de embaixador, onde tinha um toca-disco.

Como o gabinete era longe de onde o restante da família estava dormindo, podíamos colocar na altura que quiséssemos sem atrapalhar ninguém. E ouvíamos alto aqueles primeiros acordes de God Save the Queen. Em seguida, Ramones, com Loudmouth (uma das primeiras músicas que tirei no baixo). Não acreditávamos o quão bom era, pura energia sonora! Duas pedradas seguiam, Jam, com In the City, e Eddie & the Hot Rods, com I Might be Lying. Foram momentos mágicos essa primeira ouvida. Se alguém acha que música não muda nada, não entendem de música, nem de humanidade.

Não sei quem fez a seleção musical, obviamente ninguém da revista Pop. Tinha Ultravox, Runways, London (boa múscia, nunca mais ouvi falar....) e a fraquinha banda francesa Stinky Toys. Não é que não conhecíamos esse som antes, mas as experiências anteriores foram umas fitas K7 que o Fê tinha mandado da Inglaterra, gravadas do rádio. Esse foi o primeiro contato de verdade.

Outra noite, surfando a net, achei um link para baixar o LP em MP3. Não perdeu a força! Vou atrás do LP original. Ouvindo novamente, me fez ver como a gente era inocente e isolado do mundo. Hoje, qualquer um pode ouvir qualquer música quando quiser. Não sei se terão uma lembrança dessas no futuro; “ah, o dia que eu baixei o primeiro disco do Oasis mudou a minha vida”. Não bebíamos, nem usávamos drogas. Era água, invasão de espaço alheio e punk rock! Ouvimos o disco dezenas de vezes, tirávamos as letras, escrevendo-as em papeis com o timbre da embaixada. Diversão pura!

8 comentários:

Fernando Rocha disse...

André: lendo este seu relato, lembrei-me da primeira vez que ouvi o Lp "O concreto já rachou", estava com uma amigo legionário, após o término da última faixa, ele falou: "Tem mais coisas em Brasília"

Paulo disse...

Lembro de quando morava na 203 norte, um dia voltando de sei lá onde, pela L2 norte, subindo a quadra para meu prédio que ficava de frente para o eixinho. Era tarde de sábado e eis que acho no chão um exemplar da revista Pop. Isso era 1982, a revista Pop não existia mais. Toda surrada, levei pra casa e me dei bem num poster PB de Mr. Rotten.
esse disco da Pop foi histórico para o Brasil inteiro, pois já vi relatos aqui em Sp, Porto Alegre e BH do quanto ele mudou a vida de muita gente.
Mais que o link, valeu a foto!
abs

Anônimo disse...

André,
Vc tem algum contato com a família do Petrorius ou com algum outro membro da tchurma que não era brasileiro?

André Mueller disse...

Fui obrigado a excluir um comentário que não estava ligado ao assunto e fazia insinuações sobre pessoa não ligadas ao blog.

Não tenho contato com ninguém da família do Pretorious.

Ralah Ricota Cover disse...

Fez bem, X!
A web tá virando a maior INSALUBRIDAD
abs

Ricardo Schott disse...

Eu tenho esse vinil! Comprei numa loja aqui em Niterói por 5 paus e o cara que me vendeu não fazia a menor ideia do que estava vendendo. Conhecia o disco por causa de entrevistas da Plebe e do Edgard Scandurra, que também vivia citando o mesmo álbum.
Na conracapa, os créditos para "coodenação geral" vão para Claudio Condé. Sobre ele, tem esse link aqui: http://pedroalexandresanches.blogspot.com/2007/05/indstria-das-ruas-vol3-fraude.html

Anônimo disse...

Opa André,gostei bastante do seu post,eu não era da epoca mas sou punk mais na "filosofia" sabe?!

Então,é só pra sanar uma pequena dúvida,fiquei sabendo no orkut que você postou no blog fotos de você no colegial como Andre Pretorius.

Isso é verdade?Pois procurei aqui enão achei...

Grato!

Marcos disse...

Sem sorte cara,eu já morei lá perto do setor de embaixadas e já ouvi falar nesse Pretorius.

Boa parte dos Pretorius ligados a família do André e seu pai já estão mortos.

A única pessoa mais próxima do cara era a Virginie Rio Branco (e nem sei se ela está viva!),mas talvez,por sorte,alguem ache um primo do Andre vivo,por exemplo...