quarta-feira, fevereiro 08, 2006

O dia em que fui tradutor para o Ian McKay

No mesmo ano em que o Jello Biafra esteve em solo tupiniquim, alguns meses depois, esteve também o Ian McKay, acompanhando o seu Fugazi. Para quem não tem noção, esse cara foi responsável pela formação do movimento Straight Edge, fundador do selo Dischord, que lançou os principais hardcores americanos da costa leste, líder do Minor Threat, sua primeira banda - é símbolo de independência no mercado fonográfico, até hoje o selo é gerenciado do quarto na casa dos pais. O cara merece que fiquemos de joelhos, façamos referência ao tempo que entoemos Caramuru, Caramuru!

O Ian deu uma coletiva para alguns fanzines – lembram de fanzines, o que aconteceu que sumiram?!?! – e eu fui o tradutor simultâneo. Foi muito divertido, especialmente quando um fanzinjornalista perguntou, todo sério: “tem um compacto de (esqueci qual banda que ele falou) que se chama Ian McKay e tem na capa a foto de um cu, isso foi homenagem?" Eu traduzi, me segurando para não rir. O Ian respondeu que o cara deveria ser doente por considerar que o nome dentro de um cu era homenagem. Todos riram pra caralho.

O show, de novo no Circo foi impecável. Fugazi é a banda que mais tem músicos competentes por metro quadrado de palco que eu conheço. Foi um bom ano, Jello e McKay, os símbolos vivos da indpendência, do DIY, do protesto unido à boa música.

Em 1998, o Fugazi veio tocar em Brasília, ninguém foi! Foi quando cheguei à conclusão que o rock brasiliense estava morto. Como é que uma banda dessas vem tocar aqui e ninguém se interessa e o Chiclete com Banana vem três vezes por ano e toca para públicos de milhares de pessoas? Realmente, hoje, Brasília é um mausoléu disfarçado de cidade. Só o Fugazi para provar isso.

14 comentários:

F3rnando disse...

Tá foda essa semana, hein Mr. X? Conta do dia qu tu dirigiu pro Reagan tb.

André Mueller disse...

E o pior é que já trabalhei para a Embaixada Americana, quando era universitário, na ocasião da vinda do Regan para o Brasil. Dirigi um opalão no comboio presidencial!

F3rnando disse...

Nem pra ter jogado contra um poste e ter salvo a humanidade...

André Mueller disse...

Mas meu carro era backup! Ia lá no final, só eu, a 140 por hora, seguindo o comboio. Como estava sozinho, no som do Opala rolava Gang of Four, Crass, Damned e 999. E ainda me pagaram por isso!

Anônimo disse...

Diga, se não foi o Phillipe que te colocou nessa...

André Mueller disse...

Não. Na verdade foi a embaixada que foi à Unb procurando estudantes bilingues que sabiam dirigir. Passei no teste e fui contratado. Aliáis, mais de uma ocasião. Pagavam bem,e quando vc tem 19 a 20 anos, qq graninha extra é o céu.

F3rnando disse...

Peraí..O carro que vc guiava era apenas pro caso de um dos carros da comitiva dar prego, é isso? Aposto que vc têve de responder aquele questionário idiota com perguntas do tipo "vc fez/faz parte de grupos terroristas?", "vc é adicto a alguma droga?" "vc já conspirou contra os USA?". Eles distribuem isso quando vc vai tentar tirar visto, uma palhaçada: Se vc for da Al-Kaida, do Talibã, do Hamas, vc vai responder que sim?! Povo patético esses americanos, mas pagam em dólar, então tá tudo bem :P

André Mueller disse...

Fernando, desculpe discordar. Uma coisa que admiro do pragmatismo americano é que a palavra de um homem vale, ao contrário na América Latina. Se você mentir no questionário, que à primeira vista parece inocente, você está cometendo um crime e pode ser processado só por causa disso. Lembra do Clinton, a razão que ele ia ser posto fora do cargo é porque mentiu, e não porque comeu a Mônica Lwvnsky. Se isso pegasse no Brasil, poderíamos fechar os cartórios, pois ninguém mais ia ter que autenticar nada, pois quando você diz que é, realmente é, até que alguém prove o contrário. E teríamos que aumentar os presídios, pois o número de deputados, senadores, ministros e até presidentes que seriam impeached e presos seria imenso.

Anônimo disse...

mas não tem aquela música da plebe que diz:

"Mas não há nada errado a não ser o que chamam de certo" ...

"Nosso instinto ainda tem razão
quebre a regra pela exceção
e mude o seu destino agora."

Então você contradiz! hehehe

André Mueller disse...

Anônimo, não entendi o porquê da contradição. Quero uma sociedade livre de leis onde a palavra de cada um tem valor. A letra de Exeção da Regra critica a situação atual, não a desejada.

F3rnando disse...

É verdade, André. É o Perjúrio contra a Lei de Gérson. Fruto de uma coisa que quando tiver pra todo mundo no Brasil a coisa muda: Educação.

Anônimo disse...

Entendi! caiu a ficha!

Anônimo disse...

CORREÇÃO:

5 shows do Chiclete com Banana por ano... 5...

O Rock de Brasília não morreu... mas subiu no telhado há tempos

Daniel - Plebe na Pele

André Mueller disse...

Além do Chiclete, temos que aturar uma horda de bandas de axé e sertanejo! Mas o brasiliense gosta, lota todos! Daí você vai aos shows das bandas locais e não tem ninguém. A grande mídia matou a cultura candanga.