quinta-feira, fevereiro 09, 2006

O dia em que entrevistei o Johnny Ramone

Em 1992 os Ramones estiveram no Brasil, fazendo shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por algum motivo, os brothers estavam de birra com a imprensa e não queriam dar entrevistas. Meu amigo Tom Leão, do Globo, responsável pelo sensacional Rio Fanzine, negociou com o empresário deles se falariam não com um repórter, mas com um músico. Aceitaram, e esse músico fui eu.

Lá fomos nós, o Tom e eu, para o Canecão assistir a passagem de som. Nos informaram que após a passagem, o Johnny ira conversar com a gente. Dito e feito, terminou a passagem de som, nos levaram até um quarto vazio, só com duas cadeiras dentro, sem janelas, onde ficamos esperando o guitarrista. Após alguns minutos entram no recinto o Johnny, com cara emburrada, demonstrando tédio, deixando claro que queria estar em outro lugar. Perguntou quem era o músico, me identifiquei. Ele sentou numa cadeira, eu na outra e o Tom foi obrigado a ficar de pé, num canto, sem interferir na conversa.

Papo vai, papo vem, o cara foi se abrindo. Para tornar a coisa mais interessante para ele, não me fixei em perguntas óbvias, tipo que guitarra ele usava, se conhecia música brasileira (odeio quando fazem essa pergunta!) ou sobre a história dos Ramones. Começamos falando sobre a música R.A.M.O.N.E.S. que o Motorhead tinha gravado. Ele se mostrou satisfeito com a homenagem, mas, quando perguntado se iria retribuir, respondeu: de jeito nenhum!

Teve uma hora que uns funcionários do Canecão entraram no quarto com quentinhas na mão, o almoço deles. Johnny quis saber que era aquilo. Expliquei um pouco sobre o que era PF – prato feito. Ele pediu para ver, dentro tinha arroz, feijão, macarrão, bife acebolado e uma saladinha básica de tomate e salada. Ele adorou! Reclamou que era isso que queria comer, não a comida “chique” que a produção estava providenciando. Respondi que em qualquer pé sujo ele acha PFs.

Falamos de beisebol, sua paixão, de Reagan, que ele idolatrava, e me confessou cansado de estar na banda, entediado. Na época, ainda era casado com minha primeira esposa, que estava aguardando minha filha. No final do papo dei uma de fã: estou esperando um filho, o nome que você der é o que vou dar. Ele riu, agradeceu, mas se recusou. Ufa, respirei aliviado!

O show naquela noite por pouco não termina em tragédia. Um skinhead soltou uma bomba de gás lacrimogêneo dentro do Canecão e o público, em pânico, saiu feito um estouro de manada. Consegui me salvar pulando de mesa em mesa rumo à saída. O Vital (aquele da música dos Paralamas) não só foi pisoteado, como um skin o agarrou na confusão e começou a dar socos no coitado. No final, salvo no lado de fora, teceu a grande frase: eu vi a morte, e ela era careca.

16 comentários:

Anônimo disse...

André... deu algum CD da Plebe pra ele??

Daniel - Plebe na pele

F3rnando disse...

As pessoas nunca imaginam as coisas que se passam nas internas de uma banda, só vislumbram a ponta do iceberg. Nos bastidores o pau tá comendo solto, mas na hora da sessão de fotos, parece propaganda da colgate. Até hoje eu não entendo como um cara extremamente direitista como ele foi admirado por músicos que são declaradamente liberais. Só a paixão pelo rock explica mesmo. O que vc achou do 'End of a Century', Mr. X?

F3rnando disse...

Ah sim...Alice poderia se chamar a essa altura Judy, Sheena, Suzy.

Ou Nancy (a do Reagan, não a do Sid).

André Mueller disse...

Eu não vi esse filme dos Ramones, mas li a autobiografia do Dee Dee e fiquei chocado como eles se odiavam. Fiquei mais ainda quando descobri que em muitos discos eles nem tocaram! Muito triste a história dos Ramones. Nada de happy family.

Anônimo disse...

Jello Biafra... Joey Ramone... Meu, como é que você se metia nessas? Eu, mortal, só conheço o Tião trompetista, rsssssss

Anônimo disse...

Essa série "o dia em que eu" tá excelente. A cereja do bolo foi a revelação do André ter trabalhado na comitiva do Reagan.

Anônimo disse...

Cara,

Eu ficaria chocado se os Ramones tivessem tocado em todos os discos deles. Eram tantos vícios (drogas e álcool) que me surpreenderia vê-los lúcidos e tocando seus instrumentos - acho até que eles não fariam o tipo de música que fizeram se estivessem lúcidos. Então, eles faziam as músicas e pediam para algum adolescente cheio de espinhas tocar. Provavelmente, teriam vergonha e passariam a estudar seus instrumentos. Convenhamos, nenhum deles era um músico de gabarito. Qualquer pessoa que passe dos primeiros acordes descobre que os Ramones foram muito mais atitude do que música. Isso é digno de admiração. No entanto, analisem quantas músicas deles são feitas em cima da mesma seqüência de acordes.

Um grande abraço,
Claudio Lopes

Anônimo disse...

mas e a entrevista, saiu em revista? na tv?

eu nao tenho certeza, mas acho que vi imagens desse show do ramones, acho que o de sao paulo, que a mtv passou tempos depois

acho que o c.j. ramone, nessa vinda do ramones, tocou um dia antes num show com bandas que estavam "prontas" pra entrar no "esquema". Raimundos era uma delas, acho que o planet hemp tambem

o c.j. cantou acompanhado de outros caras a clássica "Strength to endure".

se eu tiver errado, isso foi em 96, numa outra vinda do ramones

Anônimo disse...

mas isso foi em 92 mesmo, ou 93?

Anônimo disse...

Nossa! Esta semana está "quente" mesmo, hein?
O que me chamou muito a atenção foi o post sobre o Jello Biafra. Como já ficou para trás, resolvi escrever neste mesmo, ok?
André, Estou curioso para saber como você conseguiu estabelecer contato com o Jello- pra mim, no Brasil, só o João Gordo e os integrantes da banda gaúcha Pupilas Dilatadas tinham contato com ele.
A história em que o Jello dormiu na casa do Renato Russo também é muito interessante... Jamais imaginaria isso... Mas e o Negrete, que declarou em um CD da Legião ser fã dos Dead Kennedys? Ele não teve o prazer de conhecer o Jello?

André Mueller disse...

Vamos por partes:
1. Quem me apresentou para o Jello foi o André Barsinski, autor do livro Barulho. O Jello estava no Brasil, a convite do André para divulgar o livro. O André falou da Plebe e da Rock It! e parece que passamos pelo crivo do Jello.
2. Nem o Negrete, nem o Jander, fãs declarados dos DKs, foram conhecer o cara.
3. A entrevista com o Johnny saiu em 1992 no Globo. O Philippe vai colocar ela no site.
4. Na verdade, de acordo com o Dee Dee, foram músicos de estúdio que gravaram End of the Century e Brain Drain. Inclusive, nos outros discos, em impresso miúdo, consta o nome de um guitarrista que não é o Johnny que é o cara que gravou várias guitarras para o cara.
5. Jello pode ter afinidade com os Ratos, por tocar hardcore, mas se declarou fã de Escola de Escandalos!

Anônimo disse...

Obrigado, André, por responder!

Anônimo disse...

escola de escandalos é? nunca ouvi falar dessa banda, pelo que dizem o crucificados pelo sistema ainda hoje é um dos discos de hardcore preferido do jello, sobre essa historia dos ramones não terem tocado em alguns discos, confesso que não sabia e fiquei chocado, agora eu li uma entrevista do proprio johnny dando a entender que eles estavam quase mandando o phil spector tomar no cu de tão perfeccionista que o cara era na gravação do end of century, porque tanta irritação se eles nem gravaram o disco? vai entender esse povo do rock.

Anônimo disse...

Na verdade o Dee Dee viaja muito em algumas partes no livro e como o próprio Tommy disse "não se sabe qual Dee Dee estava ali". O end of the century eu acredito q mt coisa foi gravada por outros musicos ja q o Phill Spector era mt exigente e mixou tanto que o resultado final do album ficou horrível.. agora sobre o Walter Lure q foi o guitarrista Johnny Thunders & The Heartbreakers ele apenas gravou os solos dos album Pleasant dreams, Too Tough To Die e Animal Boy.. os outros cds dizem q Daniel Rey q era produto e guitarrista gravou a parte dos solos. Johnny e Joey nunca se deram bem..

Anônimo disse...

No DVD end of the century um dos produtores do disco falou q Phill Spector mandou johnny repitir 50 vezes o primeiro acorde de Rock 'N' Roll High School!

Anônimo disse...

Q mentira cabeluda!!!