Tem certos discos que marcam tanto a vida da gente, que a cada ouvida nos remete à época, além de evocar exclamações do tipo: “caralho, isso é muito muito muito bom, como é que não se faz algo assim hoje em dia?”
Tenho vários discos “marcantes”, mas o Damned, Damned, Damned, do The Damned (quanta redundância!) é o au concour. Foi o primeiro disco punk lançado. Vamos começar por aí, tudo bem, tem uns que defendem os Ramones, mas argumento que o primeiro dos da brothers foi lançado como disco de rock e, depois, tachado de punk. O Damned, não. Banda punk desde o começo. Foram expulsos da Anarchy Tour pelas outras bandas (Clash, Pistols e Heartbreakers), além de outras histórias bizarras que os curiosos poderão ler no livro Light at the End of the Tunnel.
Voltando ao LP, quando ouvi minha vida mudou, literalmente. Não conseguia mais ouvir meus discos do Led, Lynard Skynard e Deep Purple. Meu relacionamento com meus colegas de escola esfriou, eles não conseguiam ver a importância daquela nova música. Meu jeito de vestir, meu corte de cabelo, minha visão de futuro – tudo foi modificado com as músicas do Damned, Damned, Damned. Isso sem ouvir, logo pela capa, uma foto gigantesca dos quatro músicos com os rostos sujos de torta de chantili, jogados na cara deles pela Judy Nylon e Pat Palladin, duas punquettes que tiveram o crédito da façanha anotado na contracapa do disco.
Quando digo punk, não me refiro ao estereotipo do casaco de couro e moicano. Não, nessa época o sentido da palavra ainda não havia sido padronizado pela mídia e absorvida por um monte de adolescentes burros. O baixista, à época, hoje guitarrista, Captain Sensible era uma árvore da natal ambulante, cada vez com uma fantasia diferente. No disco, aparece vestido de enfermeira, na foto da contracapa. O vocalista, Dave Vanium acha que é um vampiro e se veste e comporta como tal. Isso, muito antes de qualquer gótico ver a luz do dia (ou da noite, he he he). Rat Scabies, o batera, parecia um Keith Moon ensandecido, se é possível isso. O cara tocava tão bem, tinha um estilo tão próprio, que foi sondado pelo Jimmy Page para substituir o John Bonham. Muitas vezes, tocava com um rato morto pendurado pelo rabo à frente do bumbo. E, finalmente, o mais normal, visualmente, nas guitarras, o Brian James, fã dos New York Dolls e que, após sair do Damned, fundou o Lords of the New Church, com o Stiv Bators, dos Dead Boys.
Mas vamos ao disco, música por música, que ouvi mais uma vez hoje e quero compartilhar com vocês:
Lado 1:
· Neat Neat Neat. Baixo que morro de inveja cada vez que ouço. Tão simples, tão poderoso, resume a música. O refrão “she can’t afford no cânon, she can’t afford no gun at all” não diz muita coisa, mais é lindo.
· Fan Club. Música gélida sobre um astro de rock que odeia os fãs, não entende porque se sacrificam tanto para vê-lo tocar. Muito punk isso, na sua melhor essência em desmistificar o estrelato dos roqueiros e trazer a música para o nível do publico. O gemido do Dave Vanium de entediado resume tudo.
· Born to Kill. O mosh deve ter começado com essa música.
· Stab Your Back. Música composta pelo batera. Keith Moon, morra de inveja. O Rat não usava o chimbal, só os pratos. E tem ainda o riso medonho no meio da música. Menos de um minuto de pura alegria cantando apunhale suas costas!
· Feel the Pain. O inferno é gelado. Ouça a música e confira. A dor é fria, a agonia é branca.
Lado 2:
· New Rose. Clássico punk. Primeiro compacto punk, lançado em 1976.
· Fish. Música de amor, onde o cara quer passar a mensagem que se a mina ficar com ele, nunca vai cheirar um peixe, ou seja, não vai entrar numa fria. Que idéia!
· See Her Tonite. Nenhuma música traduz mais a alegria e expectativa de ver a pessoa amada do que essa. Um must para começos de namoro.
· 1 Of The 2. Damned, no seu melhor.
· So Messed Up. Adoro ouvir essa, seguida do Stupid Girl, dos Rolling Stones. Para aquela menina que você acha asquerosa, chata, insuportável. Tem uma hora que pergunta: “eu poderia a matar, mas acho que vocês ainda considerariam isso um crime – ou não?”.
· I Feel Alright. Cover dos Stooges. Única música do LP que não consigo mais ouvir. Quando chega nela, tiro o disco. Tudo bem, à época, dizer que gostava dos Stooges, mas a versão não acrescenta nada à original e as outras músicas são tão mais significativas que essa passa batida.
quarta-feira, julho 26, 2006
segunda-feira, julho 24, 2006
Cena, que cena?
Estava procurando no Soul Seek o primeiro disco do Suede, aquele que tem Animal Nitrate. Não sei porque razão, quando a banda estourou no circuito independente inglês eu até que gostei, mas acabei vendendo todos os CD-Singles na Rock It!, minha loja/selo que tinha com o Dado, sem ficar com nenhum para mim. Daí o tempo foi passando e me esqueci totalmente disso.
Quando os resultados apareceram, qual a minha surpresa de encontrar um arquivo disponibilizando os 100 melhores compactos independentes de 1976 a 1998. Devo dizer que o sujeito acertou 90%, coisa fina mesmo esse apanhado. Começa com Final Solution do Pere Ubu e termina com Monkey on Your Back, do Clinic. Nisso passa pelo Damned, Joy Division, Elvis Costello, Primal Scream, Blur, Pixies, Belle and Sebastian e vários outros. Divertido ir ouvindo na ordem temporal e ver como a cena independente evoluiu no período.
O que chama a atenção mesmo é que todas essas bandas saíram do independente e são reconhecidas mundialmente. Daí a questão: porque a cena independente brasileira não consegue atingir o grande público? Porque ficamos presos no que toca nas rádios, do que passa na MTV? O roqueiro é preguiçoso, ou não há onde procurar coisas novas?
Temos hoje a Tratorre, a Outra Coisa, selos como o Monstro, o Senhor F e festivais alternativos. Mas não vejo ninguém capitalizando com isso. Vejo sempre uma cena mambembe, restrita a poucos curiosos. Gostaria muito de ver uma cena independente que fizesse o main-stream, estações de rádio, TVs e gravadoras, suarem. De ver gente correndo atrás da novidade, enchendo showzinhos, comprando músicas (físicas ou virtuais).
Será que algum dia um maluco irá disponibilizar um artigo com os melhores compactos de rock independente brasileiro de alguma década? E será que, quando isso acontecer, vamos ouvir e conhecer todas as bandas que lá estão?
É um sonho.
Quando os resultados apareceram, qual a minha surpresa de encontrar um arquivo disponibilizando os 100 melhores compactos independentes de 1976 a 1998. Devo dizer que o sujeito acertou 90%, coisa fina mesmo esse apanhado. Começa com Final Solution do Pere Ubu e termina com Monkey on Your Back, do Clinic. Nisso passa pelo Damned, Joy Division, Elvis Costello, Primal Scream, Blur, Pixies, Belle and Sebastian e vários outros. Divertido ir ouvindo na ordem temporal e ver como a cena independente evoluiu no período.
O que chama a atenção mesmo é que todas essas bandas saíram do independente e são reconhecidas mundialmente. Daí a questão: porque a cena independente brasileira não consegue atingir o grande público? Porque ficamos presos no que toca nas rádios, do que passa na MTV? O roqueiro é preguiçoso, ou não há onde procurar coisas novas?
Temos hoje a Tratorre, a Outra Coisa, selos como o Monstro, o Senhor F e festivais alternativos. Mas não vejo ninguém capitalizando com isso. Vejo sempre uma cena mambembe, restrita a poucos curiosos. Gostaria muito de ver uma cena independente que fizesse o main-stream, estações de rádio, TVs e gravadoras, suarem. De ver gente correndo atrás da novidade, enchendo showzinhos, comprando músicas (físicas ou virtuais).
Será que algum dia um maluco irá disponibilizar um artigo com os melhores compactos de rock independente brasileiro de alguma década? E será que, quando isso acontecer, vamos ouvir e conhecer todas as bandas que lá estão?
É um sonho.
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