Enquanto os economistas acadêmicos e analisadores de mercado ficam queimando neurônios tentando entender o nosso cenário macroeconômico, gostaria de propor a observação do seguinte modelo.
Imaginem um prédio residencial, com vários apartamentos, todos ocupados por famílias que vivem suas vidas rotineiras. Eles compram seus alimentos, muito deles, especialmente bebidas, embalados em latas de alumínio. Após beberem o conteúdo, a lata é jogada no lixo. Então vem o catador de lixo, o arqueólogo do asfalto, o sem-teto/sem-grana que tem como ganha-pão vender o achado no lixo alheio para fábricas de reciclagem. Nesse mercado, o filé é a lata de alumínio.
O porteiro do prédio vê aquele vagabundo remexendo no lixo, sente pena e deixa. Um dia se aproxima e, conversa vai, conversa vem, descobre o quanto pode se ganhar com as latas de alumínio. Desde esse dia, nenhuma mais apareceu nos containeres, pois o porteiro, que tem acesso primeiro ao lixo do que o catador, recolheu todas.
A ação do porteiro não passou despercebida. Logo as empregadas aprendem que é possível ganhar um bom trocado com as latinhas e passam a retirá-las dos lixos dos apartamentos antes de irem para a lixeira. Assim, cortam o fluxo de latas do porteiro.
As patroas observam aquelas latas no quarto de empregada e perguntam para que tudo aquilo. Fazem o cálculo, e decidem que o dinheiro será bem vindo para complementar a renda familiar. Agora foram prejudicados o catador (que está roubando, pois não consegue mais latas para vender), o porteiro (que dorme no turno noturno, pois não tem mais complemento extra para o café), a empregada (que xinga a patroa e cospe no feijão que prepara).
Logo, a fábrica de latas decide que não quer mais recomprar e imprime em cada uma: devolução obrigatória. A família classe média também dançou, júnior vai ter que cortar a academia, papai vai ter que beber uísque nacional. A corporação sempre vence.
quarta-feira, fevereiro 01, 2006
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