quinta-feira, janeiro 05, 2006

Plebe abre carnaval baiano.

O ano era 1988 ou 1989, não me lembro bem. Sei que estávamos na Bahia fazendo divulgação do terceiro disco. Já havia má vontade da gravadora, eles não acreditavam muito no disco. Por outro lado, não tinham se preocupado em acompanhar as gravações, deixaram correr livre e, quando receberam o produto, não sabiam muito bem o que fazer. Teve ainda o problema de quererem postergar o lançamento. Convidaram o Naldo, nosso empresário na época para um almoço, e propuseram outra data de lançamento, lá para frente. A gente, louco para voltar à estrada, rejeitou. O impasse foi criado e a EMI fez um trabalho meia-boca.

Mas, como ia dizendo, estávamos na Bahia, Salvador, onde a Plebe tinha um monte de contatos fora gravadora, com músicos e roqueiros locais. Já era véspera de carnaval, os baianos já estavam pensando nas festas, quando alguém sugeriu da Plebe Rude tocar em cima de um trio elétrico no dia antes da abertura oficial das festas do Rei Momo. Aceitamos na hora! Foi uma das experiências mais intensas da minha carreira. Mas o problema foi viabilizar a coisa, pois significava ficar uma semana a mais em Salvador, quem ira pagar por isso? Negociamos com a EMI e eles aceitaram na hora. Claro, seria uma promoção e tanta do disco.

Ficamos num hotel ao lado da Praça Castro Alves. Um tédio só, pois estávamos sem grana e matávamos o tempo fazendo nada no hotel. Tipo: chamar a atenção de alguém em alguma janela no prédio na frente, quando a pessoa olhava a gente escancarava a cortina e eles tinham a visão do Gutje mostrando a bunda. Não foi uma espera muito agradável, pois as tensões intrabanda não andavam lá muito sociáveis, com tensões internas.

Finalmente chegou o dia. Fomos até a garagem do trio elétrico do Tiéte Vip’s e subimos. O veículo começou a se movimentar. O plano era o seguinte: o Tiéte ia tocando até o Farol da Barra, quando o trio iria estacionar e a Plebe tocaria. E assim foi. Enquanto nos movimentávamos pelas ruas de Salvador, o povo ia seguindo, dançando – alegria popular. Se a música é um dos ópios do povo, que eles aproveitem! Somente Karl Marx mesmo para achar que o povo não precisa de um “ópio” para sobreviver. Paramos, finalmente (não agüentava mais axé!), em frente ao farol. Havia um mar de pessoas em nossa volta. O trio elétrico uma pequena ilha no meio da multidão, a atenção de todos. E começamos a tocar. E todos deliraram! Punk rock de Brasília abrindo oficialmente o carnaval baiano! Isso, meus amigos, foi história!

Pena que não foi registrado como deveria. A gravadora não fez os contatos na imprensa. A Bizz soltou uma notinha (que o Philippe garante que vai estar no site – no ar em breve). No bis, fizemos um jam com o Tiéte Vip’s em cima de Até Quando, com batucada na parte do meio. Foi sensacional. O rock de atitude, de protesto, não pode ficar isolado em guetos. Temos que nos mesclar, aparecer, influenciar – sem perder as raízes e razão de ser, claro. Foi lindo. O ponto alto foi uma versão pessadona de Plebiscito e os baianos batendo a cabeça. Axé para vocês.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

McLaren, o Rei dos Reis!


Acabei de ler England’s Dreaming – Anarchy, Sex Pistols, Punk Rock and Beyond, do Jon Savage, livro que conta a história do surgimento do punk, concentrando-se nos Sex Pistols. O autor vai fundo em suas considerações, chegando a um nível até acadêmico nas considerações históricas e sociais. São mais de 500 páginas. Se você souber ler bem inglês, recomendo – e muito.

O que ficou claro para mim é o seguinte: a banda definitiva punk, quem inventou isso tudo, quem teve a idéia foi os Sex Pistols. Tudo bem, você pode falar: prefiro Clash, gosto de Ramones, mas te digo logo que está sendo míope. Está pensando só musicalmente. Os Pistols foram tudo, menos uma banda típica de rock n roll. Pelo contrário, foram concebidos pelo Malcom McLaren para destruir o rock n roll. Nunca tinha dado muita bola para esse empresário, mas ele e sua mulher, hoje a famosa estilista Viviene Westwood, pesquisaram sobre anarquistas, situacionistas e outros que nadam contra a maré para fazer a banda. Foram anos refinando o conceito. Primeiro ele tentou aplicar no New York Dolls, mas eles estavam muito inseridos no sistema para poderem ser uma ferramenta destrutiva da indústria musical. Foi quando voltou para Londres e montou os Pistols.

O John Lydon, quando sai da banda após a maravilhosa turnê americana por cidades por onde não passam grandes bandas, diz que sai porquê a banda se tornou uma típica banda de rock, coisa que não era para ser. O Clash, Ramones e outros queriam ser considerados músicos sérios, dar shows, gravar discos. Os Pistols não. Queriam ser uma ameaça – e durante muito tempo foram. Quando chegaram nos EUA, só para se ter uma idéia, foi montado um esquema imenso para que não conseguissem passar a sua mensagem para a população. Rádios, TVs e até a Casa Branca de Carter se empenharam nisso – e não é teoria da conspiração, está documentado.

O que a banda conseguiu fazer em 1977 na Inglaterra está muito além do que qualquer outra banda de rock tenha feito. Eles aterrorizaram uma nação! Eram banidos de se apresentar em qualquer lugar. Eram perseguidos. Mudaram o jeito de uma geração inteira pensar. Forçaram as gravadoras a se reinventar. Abriram as comportas para os selos independentes, para a música alternativa. O conceito foi além de musical, envolvendo roupas, fotografia, literatura, arte. Deram o golpe em duas gravadoras, saindo com dinheiro de rescisão de contrato na mão. Hoje, sou fã do Malcom McLaren, ele tinha a visão! Cash from Caos! Pena que no final, o Steve Jones, Paul Cook e Sid Vicious decidiram assumir que eram músicos e a banda teve o fim que mereceu.

terça-feira, janeiro 03, 2006

R ao Contrário nos Céus Cariocas

O Rio Rende-se ao Conceito!

Então o Rio se rendeu à Plebe Rude logo nos primeiros segundos de 2006. Quem estava na praia de Copacabana conferiu; quem não estava viu as fotos nos jornais no dia seguinte. Tentando escrever o nome da cidade no céu por meio de fogos de artifício, o “R” saiu ao contrário! Começaram bem. Achei sensacional esse erro/acerto. É um presságio que este ano será sensacional para a banda.

A última coisa que vi antes de sair de Brasília foi o prédio do INSS pegando fogo. Como desenhou o Caruso, o Rio tem queima de fogos, Brasília tem queima de arquivo. E pergunto para o motorista do táxi: será que alguém se machucou? Ele responde: que nada, ainda são oito da manhã, funcionário público nenhum está no trabalho a essa hora!

Melhor frase de 2005 – “Ele é muito bom, faz um trabalho social de importância. Espero que faça mais, fique bem ocupado e se mantenha longe dos estúdios” – Henry Rollins se referindo ao Bono Vox.

Melhor show da Plebe em 2005 – A dobradinha no Teatro Odisséia, Rio de Janeiro.

Bandas de 2005 – Kaiser Cheifs, Franz Ferdinand, Matanza, Clor (Cloooooooor!!!)

Show que marcou – Flaming Lips, no Claro que é Rock.

Melhor programa de televisão – Os documentários sobre o punk e outro chamado Surplus, traduzido para Sucata.

Em fim, que 2006 seja exponencialmente extraordinário para todos!