Faço minhas as palavras dos leitores deste blog. Pelo menos no que têm em comum. Acho importante homenagens, pois registram o agradecimento de pessoas influenciadas pelo artista homenageado. É uma forma de demonstrar gratidão pela obra, do carinho pelo falecido. E o Renato tem uma obra fantástica. Morria de inveja – no bom sentido da palavra – de como pegava qualquer música medíocre e conseguia transformar numa obra prima, simplesmente cantando por cima. O cara era um gênio, e sofria como os melhores gênios.
Acho que o grande deslize foi a falta de pesquisa dos produtores. Poderiam ter escolhido bandas e músicos que realmente conviveram com o Renato ou que foram fortemente influenciados pelo cara. Cadê os Paralamas? Poderiam ter negociado uma trégua entre os ex-legionários com a família Manfredini. Só isso teria dado um salto quântico na qualidade do programa. Poderiam ter ouvido os fãs, quem que eles gostariam que tivessem lá? Mas, como sempre, foi tomado a via mais curta, a mais rápida, a mais barata. Entendo o porquê, isso não é uma crítica. O mercado vive um de seus piores momentos e isso força esse tipo de atitude.
Não que não estivesse bem organizado, estava. Mas, nos bastidores, não havia clima de homenagem, mas sim de fabricação de produto para vender às massas. No camarim, músicos que não se falavam de um lado, executivos da EMI/Multishow do outro. Não houve aquele necessário papo comunitário antes do show: gente, estamos aqui para prestar uma homenagem a um cara muito legal, então vamos despir dos estrelatos e bocas e olhares e vamos fazer o máximo para passar um recado legal para as milhares de pessoas que vão ver esse show. Acho que, na noite inteira, não ouvi ninguém falar do Renato. Nenhuma palavra póstuma, nenhuma referência ou oração. Só cifrões nos olhos de todos.
Sobre os artistas, alguns comentários. Charlie Brown Jr. até que tocou direitinho, mas é o típico artista que o Renato nunca teria nem no mesmo palco. O cara é declaradamente homofóbico, prega a violência e o desrespeito. O Russo abominava pessoas assim. O Paulo Ricardo foi o mais comédia. Tentou vir vestido com uma camisa igual a do Renato sem conseguir, acho que sua personal-styler vacilou. Aquela barba por fazer, aquela voz sussurrada, me fizeram rolar de rir. O cara tá perdido, vejo nos seus olhos. Aquela louca que não sei o nome me assusta! Caramba, é assim que os MPBistas vêem os roqueiros? Coisa doida! Um dia vamos nos vingar, vão chamar a Plebe para homenagear o Caetano ou o Milton e, daí, vou imitar um sambista – ou pelo menos o que acho que um sambista faz. Biquini foi legal, o mais peitudo, soube retrabalhar um clássico. Titãs uma bola fora, nisso discordo de vocês. Não entendo aquele Toni Belloto. Ele e a mulher fazem propaganda de tudo, de café à Sonrisal, passando por campanhas politicamente corretas e instituições financeiras. São o próprio casal-classe-média-me-dei-bem-na-vida padrão. E no show vem com aquela posse de revolucionário. Porra, já vi esse guitarrista na ilha Caras (em fotos, claro)! Eles nunca tiveram nada a ver com a Legião, sempre morreram de inveja da facilidade do Renato colocar suas emoções tão abertamente nas suas canções. Duvido que numa homenagem séria tivessem sido sequer cogitados. Cidade Negra foi a bola preta da noite, sem trocadilhos. Eles fazem qualquer e todas as homenagens possíveis. Péssima versão de uma música importantíssima. São a verdadeira banda genérica, tucana, em cima do muro. Tudo vai, tudo vale. Deviam entrar para o PT.
Se ninguém notou, e eu acho que não porque na TV eu também não consegui ler, na minha camisa, uma homenagem aos químicos. Ao contrário do Renato, eu adorava química! Foi minha segunda opção no vestibular. Quando me lembro da dificuldade que foi a gente participar, de termos da abrir mão do Txotxa, acho que a energia com que tocamos foi resultado disso. Uma pena mesmo terem cortado a reação do público quando a gente entrou. Cantaram Até Quando, pediram Plebe! Foi emocionante e eu agradeço a todos que lá estiveram presentes.
sexta-feira, março 31, 2006
O Porquê do Sumiço.
Sábado à noite, dois Smirnoffs Ice e uma Lasanha. Assisto uma cópia pirata de Sin City, imagem e som fora de sincronia – faça uma nota mental para adquirir uma original, esse filme vale à pena. Durmo. Quando estou no REM pesado, perturbado pela cena onde o Marv corta as pernas e braços do Kevin e deixa o cachorro comer ele, tecendo considerações filosóficas do que faz um Hobbit virar um bandido-canibal, a Ana começa a chorar no berço. Com o susto, pulo da cama, alcanço o bebê e o entrego para a Rosa, para mamar. Daí começo a ficar tonto, o coração batendo acelerado, e aquela cena do início do Sin City, quando o John Hartigan tem um enfarte, fica voltando, nítida em frente dos meus olhos. Traço um plano: tenho que sentar e baixar a cabeça para a pressão voltar. O lugar mais perto é o banheiro, para onde me dirijo. Consigo chegar, a tonteira aumentado, o coração batendo mais forte e o personagem do Bruce Willis na minha cabeça. Sento no vazo, vou baixar a cabeça e....... acordo no chão. Desmaiei. Com a queda, bato a boca direto no trilho da porta do box, que quebra. Levanto-me e, cambaleando, chego à cama. Gosto de sangue na boca. Galo na cabeça. Nariz pulsando de dor. Rosa chega e me obriga a ir para o pronto socorro. Carlos, meu cunhado ninja, me leva.
O resto já sabem. O médico de plantão ignora meus machucados – a razão pela qual eu fui! – e se concentra em saber o porquê do desmaio. Não aceita a explicação de que eu levantei muito rápido, faz uma série de exames e, baseado numa anomalia demonstrado no resultado do eletrocardiograma, me interna na UTI para ficar em observação, com suspeita de infarto. Me colocam numa cadeira de rodas, apesar de eu insistir estar bem, em poder andar. Digo para o técnico hospitalar que me empurra que é impossível ser um ataque cardíaco. Eu malho, corro, me alimento bem e não senti dor nenhuma no peito quando desmaiei. Sua resposta: tá vendo, por isso que não vale a pena fazer nada disso, se cuidar, seu coração pode te matar a qualquer hora.
Chego na UTI, confiscam minhas roupas, meu celular e minha carteira. Sou confinado à uma cama, com tubos entrando nos braços, medicamentos bombeados para dentro do corpo, um computador monitorando meus sinais vitais e um tubo de oxigênio no nariz, apesar de protestar, afirmando que posso respirar. Todos meus outros companheiros de quarto estão moribundos. O do meu lado, um senhor de 84, fala inconsciente com pessoas que não estão lá. Assustador. Chamo o enfermeiro e pergunto se não dá para sedar o senhor. Impossível, ele pode morrer, é a resposta. Tenho que ficar agüentando esse papo com o além. No teto, bem em cima da minha cama, um mosquito. Ele voa bem perto do meu rosto, zombando de mim, sabendo que não posso fazer movimentos bruscos para matá-lo. Juro para mim mesmo, quando sair, esmagar o máximo de seus irmãos e primos quanto puder.
E todo esse tempo, minha família fica sem notícias. Ninguém explica o que está acontencendo. Só lá pelas 16 horas do domingo é que a cunhada do meu irmão, que é cardiologista, consegue que me liberem. Levam-me para outro hospital e lá confirmam: não foi infarto coisa nenhuma! Sinto-me usado e explorado. E o pior: a conta vai ser alta!
Ainda estou com a boca arrebentada, a barba crescida, pois dói para raspar. Estou pensando num jeito de não pagar o pronto-socorro. Mais uma vez, a gente se sente abandonado pelo governo, que na hora de cobrar impostos está presente, mas é ineficiente em fornecer a contra-partida em termos de boa saúde pública, educação e segurança. Por isso o sumiço. Mas estou de volta!
O resto já sabem. O médico de plantão ignora meus machucados – a razão pela qual eu fui! – e se concentra em saber o porquê do desmaio. Não aceita a explicação de que eu levantei muito rápido, faz uma série de exames e, baseado numa anomalia demonstrado no resultado do eletrocardiograma, me interna na UTI para ficar em observação, com suspeita de infarto. Me colocam numa cadeira de rodas, apesar de eu insistir estar bem, em poder andar. Digo para o técnico hospitalar que me empurra que é impossível ser um ataque cardíaco. Eu malho, corro, me alimento bem e não senti dor nenhuma no peito quando desmaiei. Sua resposta: tá vendo, por isso que não vale a pena fazer nada disso, se cuidar, seu coração pode te matar a qualquer hora.
Chego na UTI, confiscam minhas roupas, meu celular e minha carteira. Sou confinado à uma cama, com tubos entrando nos braços, medicamentos bombeados para dentro do corpo, um computador monitorando meus sinais vitais e um tubo de oxigênio no nariz, apesar de protestar, afirmando que posso respirar. Todos meus outros companheiros de quarto estão moribundos. O do meu lado, um senhor de 84, fala inconsciente com pessoas que não estão lá. Assustador. Chamo o enfermeiro e pergunto se não dá para sedar o senhor. Impossível, ele pode morrer, é a resposta. Tenho que ficar agüentando esse papo com o além. No teto, bem em cima da minha cama, um mosquito. Ele voa bem perto do meu rosto, zombando de mim, sabendo que não posso fazer movimentos bruscos para matá-lo. Juro para mim mesmo, quando sair, esmagar o máximo de seus irmãos e primos quanto puder.
E todo esse tempo, minha família fica sem notícias. Ninguém explica o que está acontencendo. Só lá pelas 16 horas do domingo é que a cunhada do meu irmão, que é cardiologista, consegue que me liberem. Levam-me para outro hospital e lá confirmam: não foi infarto coisa nenhuma! Sinto-me usado e explorado. E o pior: a conta vai ser alta!
Ainda estou com a boca arrebentada, a barba crescida, pois dói para raspar. Estou pensando num jeito de não pagar o pronto-socorro. Mais uma vez, a gente se sente abandonado pelo governo, que na hora de cobrar impostos está presente, mas é ineficiente em fornecer a contra-partida em termos de boa saúde pública, educação e segurança. Por isso o sumiço. Mas estou de volta!
terça-feira, março 28, 2006
Estamos ainda no ar!
Gente, desculpe a desaparecida, mas fui vítima de um acontecimento kafkiano, que depois vou contar em mais detalhes. Resumindo, machuquei o rosto e me internaram na UTI, de onde minha família não conseguia me tirar. Quem leu O Processo, do Franz Kafka, sabe o que senti.
E o Multishow, ontem? Alguém viu? Vou deixar os leitores darem a opinião primeiro, antes de eu falar minhas ácidas observações. O Renato se sentiu homenageado? As bandas fizeram jus ao guru-dos-oprimidos?
E o Multishow, ontem? Alguém viu? Vou deixar os leitores darem a opinião primeiro, antes de eu falar minhas ácidas observações. O Renato se sentiu homenageado? As bandas fizeram jus ao guru-dos-oprimidos?
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