Gérson estava se ensaboando quando viu o delito. Seu coração parece que parou instantaneamente no peito, voltando a funcionar, microssegundos depois, numa velocidade ímpar. A percepção do pentelho ruivo no sabonete o deixou um pouco tonto. A realização de que a cor daquele fio de cabelo era a mesma que o seu amigo Jorjão ostentava na sua cabeleira o deixou furioso. O flagrante só podia significar uma coisa: sua mulher o estava traindo – e justamente com o Jorgão!
Saiu puto do banho, batendo com força a porta do box. Que piranha, que vagabunda! Queria matá-la no momento em que a Marilda passou por ele no corredor, dirigindo-se ao banheiro. Vou tomar um banho para ficar bem cheirosa para meu amor, diz ela. Gérson não consegue reagir, os níveis de adrenalina e endorfina no seu sistema nervoso o deixaram paralisado de raiva. Melhor ir tomar um café na cozinha e esperar a putona sair do banheiro antes de acabar com tudo, pensa ele.
Gérson está sentado na mesinha da copa, copo de café na mão, planejando sua separação. Passa a mão na cabeça, tentando acalmar os chifres. De repente ouve um grito. Segundos depois aparece a Marilda, ensopada, embrulhada numa toalha lilás, bufando. Ela estica a mão na sua direção, quase esfregando o sabonete que segura acusadoramente em sua face.
O que significa isso, Gérson? De quem é esse pentelho?
Ele mal pode acreditar no cinismo da criatura. É do seu amante Jorjão, sua puta!
O quê?!?! Que cara-de-pau! Esse pentelho é da Joana, a empregada! Mesma cor dos cabelos. Logo com a empregada, Gérson?!!? Vou levar tudo, viu? Tudo! E sai chorando.
Duas semanas depois, estão separados, ela ficou com o apartamento, ele se mudou para um apart-hotel. Cada um ressentido com o outro. Como pode ter feito isso comigo? É o que ambos perguntam.
Meses antes, na fábrica de cosméticos do Boticário, Ximenes observa a produção de sabonetes na linha de montagem. O controle de qualidade é de sua responsabilidade. Para não contaminar o produto, está vestido como um funcionário de usina nuclear: roupão de borracha, luvas e botas de látex, e o cabelo preso numa espécie de toca. Mas algo o está incomodando, está com coceira no saco. Só pode ser daquela neguinha com a qual dormi depois do forró, pensa ele. Aproveitando que ninguém está olhando, abre o zipper do macacão, enfia a mão e dá uma coçada. Que alívio! Só que um pentelho despercebidamente flutua pelo ar e cai num sabonete recém saído do forno.
Vamos logo, ô Pomarola! É seu amigo José o chamando, avisando que o turno da tarde chegou ao fim. Ximenes, mais conhecido como Pomarola, por causa dos cabelos ruivos, desliga a máquina da linha de montagem e parte para o vestiário.
Todos sabemos onde foi parar o sabonete premiado.
quarta-feira, junho 01, 2005
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Um comentário:
Se esse pentelho caiu no sabonete do Gérson e da Marilda, vai ver foi o destino que se encarregou de trazer à tona algo ainda não revelado.
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