segunda-feira, março 26, 2007

Adeus, Ric!

A verdadeira perda, aquela que dói, que deixa um vazio, a gente sente aos poucos. Quando registramos o fato, talvez não percebamos o quão grande o impacto vai ser. Dizemos “que pena” e tentamos seguir em frente. Mas lentamente, o vacum se abre, aquela noção do nada se sedimenta e a percepção de sua inexistência se instala. A alma vagarosamente destila a tristeza. Triste por perder um amigo, uma pessoa especial na minha vida, uma parte de minha própria história.

Olho em volta e tudo que vejo é Ric Novaes. A Rosa, minha esposa, foi o Ric que nos apresentou e deu força para a união. Dez anos atrás! Na minha estante, livros do Irvin Welsh. Foi o Ric que me mostrou os primeiros livros daquele que viria a ser meu escritor favorito. O Estadão falando de Carl Craig, dou risada. O Ric já tinha me apresentado a esse fantástico produtor no século passado! Abro a geladeira, lá no congelador, uma garrafa de Absolute Ruby Red, obra do Ric. Amigos me ligam para conversarmos sobre sua ida. A maioria, foram amizades facilitadas pela presença do Ric.

Como que conheci o Ric Novaes? Nem me lembro. Deve ter tido algo a ver com a tchurma. Talvez por ele ter sido empresário do Escola de Escândalo. Vivemos muitas aventuras juntas, muitas histórias para contar que nunca serão contadas, mas que ficam se repetindo na minha cabeça. Como o dia que quase apanhamos em Copacabana por ficar olhando para a mulher invisível. Ou quando decidimos fazer uma trilha em Teresópolis e desistimos nos primeiros 100 metros, voltando à cidade para beber e tocar violão. Ou as idas para festas do Ocho em Alto Paraíso, dirigindo por mais de 3 horas para chegar, festejando a noite toda, um banho de cachoeira para acordar e mais 3 horas para voltar para casa. Ou quando fiz o concurso para o Banco Central, que subimos na laje de seu prédio na 410 sul e matamos uma garrafa de uísque. Naquele momento, ambos sentimos que estávamos deixando uma boa parte de nossos sonhos para trás entrando no serviço público. Ele no Itamaraty, eu no BCB.

Os grandes amigos são assim, não precisamos estar em contato o tempo todo, mas sempre sabemos o que o outro anda aprontando. Mesmo em continentes separados, ele no Vietnã, Polônia, Espanha ou Portugal, eu em Brasília, o convívio era divertido. Ele me apresentando músicas novas, estórias surreais que haviam acontecido tendo ele como personagem central, livros, pessoas, iching. Fazia a consulta habitual sobre “negócios sérios”. Como é que pago imposto de renda? Como que abro uma conta bancária? Conhece algum advogado? Como pago parcela atrasadas do cartão de crédito?

Tinha um tempo em que saíamos toda segunda-feira. Eu me referia a esses dias de heads-down-no-nonsence-mindless-Mondays. Minhas terças eram uma ressaca infernal por causa deles! Foi numa dessa que acabei namorando a Rosa. Um de nossos primeiros beijos foi na casa do Ric. Quando estávamos brigados, ele armou com nós dois uma ida no Café da Rua 8 e, propositadamente, não foi. Fizemos as pazes. Valeu, Ric!

Ric Novaes faleceu na madrugada desse domingo. Descanse em paz, amigo! Sua falta será sentida, boas lembranças não pararão de serem revividas.

"How frighteningly few are the persons whose death would spoil our appetite and make the world seem empty."
--Eric Hoffer


Valeu, Ric!

16 comentários:

Anônimo disse...

André,

Tive a mesma reação. A minha ficha está caindo, lentamente. Ainda não me dei conta da extenssão dessa tragédia. A cada hora que passa vou caindo na real, e o nó na garganta aperta.

Realmente, essa é uma perda muito grande para se assimilar em apenas um dia. Temos que tragar esse abacaxi indigesto roendo pelas beiradas.

Tenho uma foto dele aqui, com a minha cadela (que tambem se foi). Espero que os dois estejam juntos, como nessa foto, num lugar melhor que o nosso:

http://renkenfren.multiply.com/photos/photo/5/71

Anônimo disse...

E aí André, primeira vez no seu blog, material inestimável da Plebe. Hoje fiquei triste por me despedir de um amigo. Conheço o Ric desde 84 e a lembrança que eu tenho dele é das madrugadas jogando Dungeons and Dragons e bebendo and burning some green stuff.
Sorriso fácil, sinceridade no olhar e o melhor no papel do DESTINO do Dungeons and Dragons.

Mr.Spacely is not dead!
Life goes on!

Abraço

André Mueller disse...

Amém!

Anônimo disse...

Não resisti e resolvi escrever de novo. Falta algo importante a dizer, esse agora é o recado definitivo que quero passar:

A única coisa boa que fica é a lição de que a vida, seja nossa ou dos outros, isso é sempre muito importante. Devemos deixar as besteiras de lado e viver bem. Para que isso aconteça, é preciso valorizar bastante os amigos que ainda podemos ver (mesmo que seja através de blog).

Por isso gosto de escrever aqui. André X, assim como muitos outros amigos, assim como foi o Ric, esse é uma figura admirável, que também me influenciou bastante. Não vou esperar ele morrer para dizer isso.

Portanto, não adianta lamentar. O jeito é usar, da melhor maneira possivel, tudo aquilo que o Ric deixou. Uma parte do Ric vai seguir adiante através de nós. O melhor a se fazer então é seguir bem.

André Mueller disse...

Valeu, Milton. Acho que todos fazemos parte de uma grande rede, uma teia. Quando um mexe, todos mexem. Quando um falta, a rede se refigura. Vamos mexer bastante para sacudir essa rede, antes que outro faça falta.

Anônimo disse...

Abro o blog hoje de manhã e logo tomo um soco na cara. Não tenho nem palavras. O que fica em minhas lembranças é um cara gente finíssima, só consigo lembrar dele dando risadas e de bem com a vida e de um capote preto que sempre usava.
Isso é que é surpresa!
Mas certamente ele está bem e junto dos bons.

Administrador disse...

E aí André !!!
Fico feliz em saber da história de vcs juntos. Não eramos da mesma geração, mas já conhecia o Ric há uns 12 anos, e nos últimos tempos estavamos muito próximos, guardadas as proporcões, e fico muito feliz com isso, poder estar ao lado dele nesse momento.
Queria ter convivido com ele em outras épocas com vc mesmo e outros tantos o fizeram, mas o pouco que fiz foi dimais. O suficiente para estar sentindo muito a falta dele agora, de saber que não vou ver mais aquele sorriso no rosto dele.
Um grande abraço a todos os amigos e admiradores do Ricnaldo.
Ernani Pelúcio

André Mueller disse...

Valeu, Ernani. É uma perda muito grande mesmo. Mas tenho certeza que ele gostaria que a gente tocasse em frente, continuasse a fazer coisas que fariam "aquele sorriso" voltar.

Anônimo disse...

Raramente eu coloco algum comentário no blog do André, mas o Ric merece ser lembrado e comentado. Eu me lembro exatamente do dia em que conheci o Ric. Foi em 1994, numa boate daqui de Brasília, e eu estava procurando uma carona para ir a uma festa no Lago Norte. De repente o Ric apareceu com um amigo meu, e já veio conversando comigo, como se me conhecesse há um tempão, falando um monte de coisas engraçadas. Ric acabou nos levando até a festa no seu Fusca branco, e essa noite foi uma das mais divertidas que tive (e quem conheceu o Ric sabe que isso é possível).

Ric vivia com um exagero e uma intensidade invejáveis. Houve um tempo em que qualquer coisa que a gente fazia com o Ric era sinal de sucesso. Todas as baladas, todas as viagens, almoços, shows etc... tudo era divertido! O cara era tão diferente que só ele poderia assumir um posto do Itamaraty no Vietnã, trabalhar na embaixada durante o dia e a noite ser DJ de uma boate chamada Apocalipse Now! Só o Ric mesmo!

Só o Ric para fazer uma festa “exclusiva” de aniversário, para mim e para a Luanna, com a presença do Robert Smith (essa noite foi incrível).
Só o Ric para me aproximar do André, e me lembro que foram várias noites divertidas e cheias de acontecimentos, até a gente começar a namorar. Teve uma noite em que eu ia me encontrar com umas amigas. Era um encontro só de meninas, e o Ric apareceu com o André, só para tornar a nossa noite mais divertida e especial.
Adeus, Ric.
Valeu por tudo que você fez! Valeu pelo André e pela Ana.

Saudade
Rosa

Anônimo disse...

Pô André, não tive a oportunidade de conhecer o Ric, mas sinto que perdi algo. Mas bons amigos são assim... para toda eternidade.

Viva Ric Novaes

Anônimo disse...

Caros André e Rosa,

Desculpe escrever de novo, estou impregnando o blog, mas ultimamente estive muito proximo do Ric e agora estou com um terrivel nó de escoteiro na garganta. Preciso afrouxar essa gravata, preciso desabafar em algum lugar.

Tambem tenho certeza que o Ric, seja lá onde estiver, ainda gosta de ver voces tocando a bola para frente, todos saudáveis e felizes.

O sorriso dele estará sempre presente no bem estar, no sucesso, no amor, na existencia da Ana e em tudo de bom que voces possam viver. Ainda agora, quando li o comentário da Rosa, vi o Ric sorrindo.

Sei que é inevitável, queria eu poder seguir os meus próprios conselhos, mas sentir dor, tristeza e sofrimento pela perda do Ric é inútil, sei que não é isso que ele quer.

Anônimo disse...

Oi André,

É... Em geral a gente fica esperando que o tempo passe. Desta vez, não. Eu sinto uma urgência estranha. É tudo para ontem. Beijos.

monco disse...

André

Aqui no Rio sentimos e choramos essa terrível perda desde a madrugada de sábado para domingo.

Eu e meus amigos Eduardo Christoph e Diogo Reis produzimos uma festa por aqui. O Ric foi uma das pessoas que mais deu força e nos incentivou desde o início.

Fizemos uma homenagem ao Ric no nosso site. Tem uma foto bem bonita lá:

www.moo.com.br

Quem viu esse momento não esquece. O Ric com asinhas de anjo tocando no terraço da X-Demente. Mais uma entre as milhares de histórias que cada um de nós guarda dessa pessoa adorável, desse grande amigo.

Que saudade do Ric.
Abraços para todos que sentiram essa enorme perda.

Bruno Guinle

Anônimo disse...

Querido Andre,

Acabo de saber, através do meu irmão Gustavo, quem me apresentou o Ric e aliás me apresentou todos os amigos que tenho e fiz em BSB.

Caso haja retorno, espero que o RIC venha a ser tão importante quanto o foi nesta vida, nos momentos em que vivemos juntos. Para mim fica a lembrança de um cara BOM no sentido exato da palavra. Engraçado e bom !!!

Saudades de todos, beijos.

GiGi (Alba ReGiGina) Baiana.

Anônimo disse...

Ricardo Novaes, também conhecido como Mr.Spacely. Foi
Dj durante 10 anos. Será sempre um exemplo de
profissional. Com uma grande bagagem musical, Ric,
como era conhecido, rapidamente conseguiu destaque
pelo seu telento. Aproveitando sua carreira como
diplomata, foi buscar mais experiência em outros
lugares, como Japão, Vietnã, Espanha, Portugal.
Conseguiu, por conta de seu talento, consolidar uma
carreira profissional bem sucedida. De volta ao Brasil
foi para o Rio de Janeiro, sua cidade natal. Lá
continuou fazendo as pessoas felizes com sua música.
Mas o que não se pode deixar de falar era de outro
talento dele – o de juntar as pessoas. Além do lado
musical, talvez esse seja o maior talento de Ric:
conseguir juntar os amigos em torno de alguma coisa. A
falta do Dj será sentida, mas a falta do amigo será
insubstituível. Ric, você estará sempre em nossos
corações.

Guilherme Tavares P. Mendes.

taci disse...

Oi André, alguns anos depois, estamos fazendo uma homenagem para o Ric para o site deepbeep.com.br Vamos postar 2 sets dele acompanhados de depoimentos de amigos. Cheguei até seu site pesquisando para a intro do post e gostaria de convidá-los todos a participar com um depoimento. Meu e-mail é taciana.abreu@nobullshit.com.br Estamos fechando o post esta semana, espero que veja este comentário a tempo! Bjos, Taciana