quarta-feira, janeiro 24, 2007

A Gravação de Nunca Fomos Tão Brasileiros

Devido ao sucesso do Concreto Já Rachou, passamos a maior parte do ano de 1986 na estrada, ou fazendo shows, ou divulgando o disco. A convivência de pessoas tão diferentes por tanto tempo, sob pressão, tendo que cumprir horários e, ainda, o gosto doce, mas nocivo, do sucesso, começaram a mexer com as relações internas dos músicos. Coisas pequenas irritavam. Ainda conseguíamos rir juntos, mas não estávamos mais atuando como equipe, mas sim como quatro indivíduos.

Foi assim que chegamos de novo ao estúdio A da EMI para gravar o segundo disco. A pressão era enorme, todos queriam um outro Concreto Já Rachou. Acontece que não tivemos tempo nenhum de compor músicas novas, não havia espaço na nossa agenda na estrada de ensaiarmos, de atuarmos juntos criativamente. Mas a gravadora queria o disco, então o jeito foi gravar as músicas compostas em Brasília que não entraram no Concreto. Não que elas fossem ruins, mas eram antigas e a vivência dos últimos meses da Plebe as tornaram distantes e pertencentes à outra época.

As idéias novas, três para ser exato, foram apresentadas à pressa e pouco exploradas. O Philippe trouxe A Ida, que considero a sua melhor e mais íntima letra até hoje. Música sensacional, diferente, com pegada e emoção, mas que chegou de forma bem crua ao estúdio, precisando de uma atenção grande de um produtor que não houve – mais sobre isso no final do texto. O que salvou a música e deu o grandor que ela necessitava foi a orquestração do Jaques Morelenbaum, mais uma vez participando de um disco da Plebe. É impressionante como ela evoluiu na estrada. Hoje a tocamos com mais segurança e com uma pegada melhor do que está registrado no Nunca Fomos Tão Brasileiros. Ela foi, naturalmente, escolhida como carro chefe do disco.

O Jander trouxe a pegada esquisita, porém muito Plebe, de Nada. Não tínhamos letra, então aproveitamos uma de uma música bem antiga, de quando a Plebe era só eu e o Philippe. Castanholas deram o toque mágico à canção, que, por ser de difícil assimilação, não agradou aos ouvidos cada vez mais pop dos radialistas. No entanto, virou cult entre os plebeus.

Mas cult mesmo virou Mentiras Por Enquanto. Essa foi composta pelo Philippe e eu numa noite de chuva após assistir um vídeo de Rude Boy do Clash. Fala do turbilhão de emoções que estávamos passando: uma mistura de alegria pelo sucesso, medo do futuro, saudades de Brasília, expectativa de um disco novo que não tinha músicas novas. Adoro quando essa química funciona entre a gente. Até hoje tem gente que nos shows grita: Mentiras!

Tudo certo para gravar, convocamos a mesma dupla campeã do Concreto para fazer a produção. Acontece que o Hebert não era o mesmo, não estava com o foco no disco. Muita coisa estava acontecendo em sua vida: havia levado uma chifrada da Paula Toller, descobrira o álcool, estava cotado para produzir o Gilberto Gil, os Paralamas estavam mudando o estilo – não havia espaço em sua mente perturbada para a Plebe Rude. Na verdade, e isso está claro para quem ouve o disco, não houve uma produção efetiva. Músicas fortes como Consumo e 48 saíram tímidas e insossas no vinil. A falta de produção foi tanta que o Renato exigiu que seu nome aparecesse na capa, e lá está, podem conferir, pois foi ele que conduziu todos os trabalhos, porém como técnico, não produtor.

Fico pensando que, se tivéssemos nos situado e percebido a situação, poderíamos trocar de produtor, o que seria um alívio até para o Hebert. Poderíamos ter trabalhado com outro, tipo Liminha ou Sussekind, e o resultado poderia ser outro.

Considero a capa de Nunca Fomos como uma de nossas melhores. Sua produção foi comandada pela Fernanda, mulher do Dado, junto comigo. As fotos eram de amigos de Brasília, Nicolau El-mor o principal. O quadro da capa especialmente pintado por um artista de Brasília, está hoje inapropriadamente nas mãos de nosso empresário de então, o Arnaldo Bortolom Rosa (que, se estiver lendo, por favor devolva!).

Para mim a gravação do disco foi bastante tumultuada. Como tinha trancado minha matrícula na UnB no último semestre de arquitetura, havia alcançado os dois anos limites para voltar e completar o curso, ou ser jubilado. Então dividia meu tempo entre gravar no Rio e estudar em Brasília. Gastei tudo que havia ganho na turnê do Concreto com viagens de avião. Não raro eu gravar de noite, pegar o avião de manhãzinha, assistir aula, voltar de tarde para mais uma sessão nos estúdios da EMI. Viajava para os shows com régua T e canetas nanquim e ficar trabalhando no quarto de hotel! Mais uma vez, se tivéssemos tido a clareza da situação, teríamos esperado um pouco, parado, conversado, ensaiado mais, composto outras músicas e, daí sim, entrar para gravar.

O disco foi lançado numa época muito infeliz: o maldito plano Cruzado II, quando o Sarney, mais uma vez, enganou a nação e provocou um recesso sem precedentes àquela década. As vendas de todos os artistas caíram, shows se tornaram mais raros e o disco não teve os holofotes que merecia.

Saímos dos estúdios direto para a estrada, com pouco ensaio e exaustos pelos meses que passamos dentro da EMI trabalhando no disco. Isso trouxe muitas conseqüências para a banda, que cada vez mais se polarizava.

Dito isso, preciso reconhecer que é um puta disco, favorito de muitos plebeus e que tem muitas músicas que gostaria de ressuscitar, tipo a já mencionada 48, Nunca Fomos Tão Brasileiros e Nova Era Techno.

13 comentários:

Anônimo disse...

Mr X chegou a exercer a profissão de arquiteto ??? Estágio , é lógico , deve ter feito.... Perguntei isso pq exerci uma profissão dessa área ( técnico deedificações )....é legal , mas desde o estágio só furada desde pistola na cara , processos e etc e tal

CA®I0CA disse...

0 CONCRETO É NOTA 10 MAIS O MEU PREFERIDO É O NUNCA FOMOS ... A GRANDE MÚSICA DA PLEBE É CÓDIGOS, FALANDO NA MÚSICA NUNCA FOMOS TÃO BRASILEIRO NO SHOW DO BB EM 2000,VCS TOCARAM ELA NO BIS COM O JANDER COMEÇANDO COM 1,2,3 E MANDANDO A LETRA, INESQUECÍVEL

Anônimo disse...

Seria bom, realmente, se pudessem incluir essas músicas no setlist. Para mim, em especial, "NUNCA FOMOS TÃO BRASILEIROS".
No show do Olimpo, aqui no RJ, 2001 ou 2002 (não me recordo), vcs tocaram e foi muito bacana!
Não me atrevo a escolher um dos dois discos, já que ambos são muito bons.
O concreto ... eu tive que comprar dois. O LP não saía da vitrola. Certa vez, num descuido meu, o LP caiu de bico no chão e quebrou! Temporariamente, fiquei sem ouvir Até quando esperar e Proteção (Lado A) e Minha Renda (Lado B). As outras músicas, cuidando para não detonar a agulha da vitrola do meu pai, conseguia ouvir.
Ainda assim, tenho o LP quebrado guardado até hoje!
E os shows, André, quando teremos, principalmente no Rio?

Anônimo disse...

Eu adoro esse disco...Eu tenho um cd e ele vem com um extra de Proteção....como vinha nas cassetes da época..rs...no vinil tem essa música extra??É uma versão de Proteção mais Swingada..rs..com a introdução acústica..bem legal!

Anônimo disse...

Há muito tempo atrás ouvi dizer que a faixa "Nunca fomos tão Brasileiros" fora feita a partir de uma crítica negativa da vocalista da Siouxsie and the Banshees; que, quando perguntada sobre o que tinha achado do som da Plebe, que abriu o show da
Siouxsie em Santos em 86, ela respondeu que achou o som provinciano demais.

Isso é verdade ?

André Mueller disse...

A música NFTB não teve esse viés, mas se encaixa. O Philippe bolou o título a partir de um filme chamado Nunca Fomos Tão Felizes (acho). A Siouxsie até que elogiou a gente, mas meteu pau no Ira.

Anônimo disse...

É notório que tenho como ídolos muita gente da "Tchurma", mas o que mais me chamou atenção e que muito admirei e admiro até hoje foi a determinação de Mr. X em terminar a faculdade de arquitetura. Isso, de certa forma, me serviu como exemplo, pois, um cara com a história que tem e o que estava vivendo naquela época (a euforia do grande sucesso), não abriu mão de ter seu porto seguro.
Pra mim, a maior de todas as determinações.
Nunca Fomos tem suas falhas, mas é um puta disco!

Anônimo disse...

André,

Esse desgaste que voce descreveu acontece com quase todas as bandas. Não é só o cansaço da estrada e o saco cheio da cara dos colegas. Não se trata apenas de misturar amizade com negocios.

Quando a grana começa a entrar, quando existem perpectivas de fama, isso cria uma "febre do ouro" e a politica dentro da banda começa a ficar tensa.

Para que a banda não acabe em briga e porrada, para que a politica dentro da banda seja saudável e democratica, o bom carater das pessoas é fundamental.

Pelo menosos membros da Plebe não eram mau carater, pois não rolavam golpes pilantras entre voces (se existiu, com uma certa pessoa que voce sabe quem é, isso não foi tão grave assim).

Já em outras bandas, o sucesso pode subir a cabeça e o membro mau carater, ou estrelinha de maior destaque, logo esse dá o golpe nos outros, para poder dominar tudo sozinho.

Há pessoas mau carater que são especialistas em criar intrigas, picuinhas e brigas dentro da banda. Com a desculpa do "profissionalismo", fazem uma pressão destrutiva nos outros, fazem o ambiente ficar insuportavel.

A politica dentro de uma banda é algo muito sério. Isso deve ser muito bem trabalhado em acordos, regras e contratos por escrito.

Quando os contratos são apenas verbais, as pessoas precisam ter muita honestidade e bom carater, caso contrario o pilantra dirá uma coisa e fará outra.

A politica dentro de uma banda nada mais é do que dividir o poder de tomar decisões. Mas sempre tem aquele membro egocentrico, narcisista e inflexivel, que quer dominar e liderar mais do que os outros. O usurpador sempre quer tomar as decisões e mandar sozinho, como se fosse o dono da banda e da verdade.

Quando isso acontece, a banda sempre acaba em briga e porrada. Ainda bem que voce e o Phillipe tem bom carater e sabem dividir bem o poder. Me parece que voces tomam boas decisões, sem brigar. Se o Phillipe fosse mau carater e usurpador, a Plebe hoje não existiria mais.

Anônimo disse...

Paulo,

Essa determinação do André, nos estudos, isso é genético (coisa de alemão) e vem da familia.

Quem deu o exemplo para o Andréfoi o pai dele, o velho Muller, que foi um respeitado professor da UnB.

Ao contrario do que diz o apelido do irmão Bernardo (o "bananão", da Escola de Escandalos), esse tambem foi um cara que deu muito duro nos estudos. O Bernardo virou doutor. O cara estudou horrores, com uma determinação inabalável.

Eu diria até que o André, apesar de tudo, apesar de ter se formado viajando para lá e para cá, apesar de ter depois passado no concurso que quis, apesar de nunca ter dado nenhum desgosto para os pais, esse foi o mais vagabundo da familia.

Anônimo disse...

às vezes rolam umas situações tão escrotas que, puta merda, só mesmo matando na porrada. e o que tem de gente maluca que, vestida de "pessoa de caráter", de "pessoa do bem" e que fica só envenenando a cabecinha oca de quem é impressionável é um negócio que mesmo, só matando na porrada. tenho uma banda que formei com mais dois caras. e ainda tenho que aturar perdedor homérico e notório vir querer dar uma de autoridade onde SEQUER FOI CHAMADO. e o pior, usando de ardis da pior espécie que, puta que pariu, só matando na porrada. por essas e outras, admiro quem manda toda a corja tomar no meio do rabo. quem quer viver de estrelismo rock de fundo de quintal, que se foda. mas não com o MEU MATERIAL, não com as músicas que EU CRIEI. é tão escroto que chego ao ponto de mandar todo mundo à merda pq sei que tenho o triplo do material de qualidade até melhor, mas esses manés ficam numas de querer brigar por micharia. caras, a parada é revoltante! e um dia irei de usar os dentes dos traíras como troféu.

Anônimo disse...

VAGABUNDO ACHA QUE VC É MANÉ SÓ PQ VC FAZ AS COISAS SOZINHO, MAS SÓ ANDA SÓ QUEM REALMENTE SE GARANTE. OUVIU GURU DE METAL DE MERDA!

Anônimo disse...

Bem, está aí, acima, um exemplo do que eu falei anteriormente.

Acredito que todos esses problemas de relacionamento politico são causados pela falta de formalidades empresariais, principalmente no que diz respeito a contrato escrito.

Todo pilantra se apresenta como "pessoa de bem", "pessoa de carater". Então se combinar as coisas verbalmente, se combinar de fazer uma banda, isso vai acabar em merda.

Quando a coisa anda, o pilantra logo sequestra o barco e te joga no mar. Voce acaba gastando tempo, trabalho e dinheiro para fazer o nome de um traíra.

É preciso haver uma certa formalidade empresarial. É preciso haver a registro de propriedade da marca, registros de direitos autorais das musicas, o contrato social da banda, os contratos dos shows, o contrato da gravadoras... O bom é ter um advogado que oriente.

A coisa começa por aí, na area do direito, e depois é que passa para a contabilidade, que deve ser formal tambem, com tudo explicadinho no papel, para que empresario nem pilantra nenhum passe a perna.

Para o pessoal do rock, os musicos da banda, isso pode parecer burocracia, mas não é. Toda empresa de sucesso precisa lidar com direito contratual e finanças.

Não pode ser tudo na "brodagem" verbal. Negocios não se mistura com amizade. O ódio explode, dá vontade de matar na porrada, exatamente quando é o "amigo" que te trai.

O contrato é algo muito importante por isso, pois, nos negocios, "amigo de cú é rola". Quem é honesto mesmo assina contrato. E o primeiro contrato é o social, entre a banda.

Existe aquele contrato do qual todos os membros são sócios, com direitos e deveres iguais ou pré determinados. Existe tambem aquele que o dono de tudo é uma pessoa só, que contrata os musicos para gravar, tocar, ensaiar...

Cada caso é um caso, e é por aí que tudo começa. Por exemplo, se estivesse tudo combinado por escrito, não seria necessario discutir no blog, pois as leis do contrato mostraria quem está realmente certo ou errado.

Anônimo disse...

se o guru metal pensar em vuduzar, meu nome será varg virkenes. e não falo mais nada.