O ano era 1988 ou 1989, não me lembro bem. Sei que estávamos na Bahia fazendo divulgação do terceiro disco. Já havia má vontade da gravadora, eles não acreditavam muito no disco. Por outro lado, não tinham se preocupado em acompanhar as gravações, deixaram correr livre e, quando receberam o produto, não sabiam muito bem o que fazer. Teve ainda o problema de quererem postergar o lançamento. Convidaram o Naldo, nosso empresário na época para um almoço, e propuseram outra data de lançamento, lá para frente. A gente, louco para voltar à estrada, rejeitou. O impasse foi criado e a EMI fez um trabalho meia-boca.
Mas, como ia dizendo, estávamos na Bahia, Salvador, onde a Plebe tinha um monte de contatos fora gravadora, com músicos e roqueiros locais. Já era véspera de carnaval, os baianos já estavam pensando nas festas, quando alguém sugeriu da Plebe Rude tocar em cima de um trio elétrico no dia antes da abertura oficial das festas do Rei Momo. Aceitamos na hora! Foi uma das experiências mais intensas da minha carreira. Mas o problema foi viabilizar a coisa, pois significava ficar uma semana a mais em Salvador, quem ira pagar por isso? Negociamos com a EMI e eles aceitaram na hora. Claro, seria uma promoção e tanta do disco.
Ficamos num hotel ao lado da Praça Castro Alves. Um tédio só, pois estávamos sem grana e matávamos o tempo fazendo nada no hotel. Tipo: chamar a atenção de alguém em alguma janela no prédio na frente, quando a pessoa olhava a gente escancarava a cortina e eles tinham a visão do Gutje mostrando a bunda. Não foi uma espera muito agradável, pois as tensões intrabanda não andavam lá muito sociáveis, com tensões internas.
Finalmente chegou o dia. Fomos até a garagem do trio elétrico do Tiéte Vip’s e subimos. O veículo começou a se movimentar. O plano era o seguinte: o Tiéte ia tocando até o Farol da Barra, quando o trio iria estacionar e a Plebe tocaria. E assim foi. Enquanto nos movimentávamos pelas ruas de Salvador, o povo ia seguindo, dançando – alegria popular. Se a música é um dos ópios do povo, que eles aproveitem! Somente Karl Marx mesmo para achar que o povo não precisa de um “ópio” para sobreviver. Paramos, finalmente (não agüentava mais axé!), em frente ao farol. Havia um mar de pessoas em nossa volta. O trio elétrico uma pequena ilha no meio da multidão, a atenção de todos. E começamos a tocar. E todos deliraram! Punk rock de Brasília abrindo oficialmente o carnaval baiano! Isso, meus amigos, foi história!
Pena que não foi registrado como deveria. A gravadora não fez os contatos na imprensa. A Bizz soltou uma notinha (que o Philippe garante que vai estar no site – no ar em breve). No bis, fizemos um jam com o Tiéte Vip’s em cima de Até Quando, com batucada na parte do meio. Foi sensacional. O rock de atitude, de protesto, não pode ficar isolado em guetos. Temos que nos mesclar, aparecer, influenciar – sem perder as raízes e razão de ser, claro. Foi lindo. O ponto alto foi uma versão pessadona de Plebiscito e os baianos batendo a cabeça. Axé para vocês.
quinta-feira, janeiro 05, 2006
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22 comentários:
parece que foi onten
Divino, eu não lembro de ter mostrado minha bunda
Fala, Alemão! Parece mesmo, né? E cadê as fotos? Procurei a internet toda e não achei nada!
A Plebe não tem nd documentado (fotos e video)sobre isso , não?
A parte mais comica dessa aventura deve ter sido o gutje fazendo bunda lelê pras baianas. hahahahah
Eu lembro, ha ha ha!
Na Bizz, apareceu uma foto, portanto tinha alguém lá clicando. Vou tentar achar quem era.
Tinha foto na Bizz sim, só que foi tirada do alto de algum prédio e pegou a banda de costas, só quem dava pra perceber na foto era o Philippe.
legal, o meu comentario surgiu esse texto explicando tudo, vcs tocaram forró tb? tinha fã da plebe na plateia tb ou nem os fãs sabiam q vcs ia tocar?
Lembro-me do show que a Plebe fez aqui em SP do lançamento desse 3º disco. Foi no Dama Xoc, não havia muita gente e fiquei embasbacado com o pano de fundo do palco que reproduzia a capa do disco, feito pelo grupo Tupi não dá (acho que era isso). O show foi muito bom, mas lembro que ninguém entendeu quando vcs tocaram Repente, que foi ótima!
Lembro-me também de um show no Projeto SP, no meio da turnê de Nunca Fomos, o show foi junto com Biquini Cavadão. Local estava atéw cheio e a Plebe fez um showzaço! Se não me engano esse foi a última vez que vi Fred... faz tempo...
A EMI sacaneou legal a Plebe nesse último disco.
Ainda bem que as multinacionais estão indo à falência... só há gente burra trabalhando nelas (principalmente no Dep. de marketing e imprensa).
O pano de fundo do terceiro disco foi, realmente, pintado pelo pessoal do Tupi Não Dá. Lembro desse show no Dama Xoc, Repente foi muito mal recebida, mas era divertidíssima de tocar.
No dia do trio elétrico, acho que o próprio pessoal do trio soltou uma nota nos jornais avisando que a gente ia abrir o carnaval baiano. Nem isso a gravadora fez.
André, pelo bem da discussão, aqui vai:
Com certeza, você sabe muito mais (e há muito mais tempo) sobre punk rock do que eu. Mas, sei lá, não concordo muito com os seus argumentos. Você diz que os Sex Pistols acabaram porque o Sid Vicious, o Paul Cook e o Steve Jones quiseram virar músicos de verdade. De acordo com algumas coisas que li e alguns documentários que assisti, pareceu-me que a história não foi bem assim. O Malcom McLaren era um cara cheio de idéias, conceitos, mas isso nem sempre ia de acordo com o que os integrantes da banda pensavam. No final, o Johnny Rotten (ou John Lydon) já tava bem puto, inclusive, com o Malcom McLaren.
Além disso, apesar de concordar que explosão do punk se deu muito por conta do próprio McLaren, acho que tudo foi um processo, que começou em Nova York, e os Sex Pistols, de certa forma, significaram o estopim, o climax disso. Mas não sei se isso os faz ficar mais importantes do que as bandas restantes. Ele tiveram um papel importante na história, sim, mas não sei se foram os protagonistas.
Lendo aquele livro "Mate-me Por Favor", que conta a história do punk novaiorquino, eu pude ver o quanto o Malcom McLaren "sugou" idéias do punk americano e, por capricho do destino (e competência, também), estas idéias acabaram dando certo somente na Inglaterra. Nos EUA, os New York Dolls não se deram bem com ele como empresário porque achavam meio ridículo, entre outras coisas, o fato de ficarem usando roupas vermelhas, com bandeira da URSS atrás do palco. Os New York Dolls não se deram muito bem com o McLaren, na minha opinião, não por estarem inseridos no sistema, mas por serem mais velhos e acharem meio ridiculas aquelas imposições de marketing do Malcon McLaren. Além disso, eram uma banda "glam", por essência (e não punks, como se convencionou chamar depois), e os caras eram doidões demais (Johnny Thunders e Jerry Nolan eram mega junkies) para seguirem estes tipos de regras. Querendo ou não, os Sex Pistols eram bem moleques quando o McLarem os arregimentou para montar uma banda. Na minha opinião, é como se as coisas acontecessem no momento certo, com as pessoas certas.
Aliás, para mim, uma prova disso é que, desde o fim dos Pistols, o Malcom McLaren nunca mais conseguiu emplacar nada relevante. Gravou alguns discos, apoiado na popularidade que ganhou na explosão do punk, mas nunca mais decolou. Se eles fosse tão genial, teria emplacado diversos artistas ao longo dos anos. E olha que ele tentou algumas vezes...
Na minha opinião, os Sex Pistols eram uma espécie de bomba feita para explodir rapidamente e não deixar mais muitos rastros depois de seu fim. É uma banda que, vendo de longe, dá para ver que não duraria muito tempo.
Em relação à herança extra-musical que a banda deixou, concordo que foi muito importante. Inclusive, por terem feito, pela primeira vez, tudo pelo avesso e terem se dado bem. Neste ponto, é uma banda importantíssima, mas, mesmo assim, acho que eles estavam inseridos num processo que começou antes deles (com Stooges e MC5) e foi aprimorado depois (com Dead Kennedys e Minor Treat e, depois, pelos selos independentes americanos do 80's e 90's, por exemplo).
parte 1
André, com certeza, você sabe muito mais (e há muito mais tempo) sobre punk rock do que eu. Mas, sei lá, não concordo muito com os seus argumentos. Você diz que os Sex Pistols acabaram porque o Sid Vicious, o Paul Cook e o Steve Jones quiseram virar músicos de verdade. De acordo com algumas coisas que li e alguns documentários que assisti, pareceu-me que a história não foi bem assim. O Malcom McLaren era um cara cheio de idéias, conceitos, mas isso nem sempre ia de acordo com o que os integrantes da banda pensavam. No final, o Johnny Rotten (ou John Lydon) já tava bem puto, inclusive, com o Malcom McLaren.
Além disso, apesar de concordar que explosão do punk se deu muito por conta do próprio McLaren, acho que tudo foi um processo, que começou em Nova York, e os Sex Pistols, de certa forma, significaram o estopim, o climax disso. Mas não sei se isso os faz ficar mais importantes do que as bandas restantes. Ele tiveram um papel importante na história, sim, mas não sei se foram os protagonistas.
Lendo aquele livro "Mate-me Por Favor", que conta a história do punk novaiorquino, eu pude ver o quanto o Malcom McLaren "sugou" idéias do punk americano e, por capricho do destino (e competência, também), estas idéias acabaram dando certo somente na Inglaterra. Nos EUA, os New York Dolls não se deram bem com ele como empresário porque achavam meio ridículo, entre outras coisas, o fato de ficarem usando roupas vermelhas, com bandeira da URSS atrás do palco. Os New York Dolls não se deram muito bem com o McLaren, na minha opinião, não por estarem inseridos no sistema, mas por serem mais velhos e acharem meio ridiculas aquelas imposições de marketing do Malcon McLaren. Além disso, eram uma banda "glam", por essência (e não punks, como se convencionou chamar depois), e os caras eram doidões demais (Johnny Thunders e Jerry Nolan eram mega junkies) para seguirem estes tipos de regras.
parte 2
Querendo ou não, os Sex Pistols eram bem moleques quando o McLarem os arregimentou para montar uma banda. Na minha opinião, é como se as coisas acontecessem no momento certo, com as pessoas certas.
Aliás, para mim, uma prova disso é que, desde o fim dos Pistols, o Malcom McLaren nunca mais conseguiu emplacar nada relevante. Gravou alguns discos, apoiado na popularidade que ganhou na explosão do punk, mas nunca mais decolou. Se eles fosse tão genial, teria emplacado diversos artistas ao longo dos anos. E olha que ele tentou algumas vezes...
Na minha opinião, os Sex Pistols eram uma espécie de bomba feita para explodir rapidamente e não deixar mais muitos rastros depois de seu fim. É uma banda que, vendo de longe, dá para ver que não duraria muito tempo.
Em relação à herança extra-musical que a banda deixou, concordo que foi muito importante. Inclusive, por terem feito, pela primeira vez, tudo pelo avesso e terem se dado bem. Neste ponto, é uma banda importantíssima, mas, mesmo assim, acho que eles estavam inseridos num processo que começou antes deles (com Stooges e MC5) e foi aprimorado depois (com Dead Kennedys e Minor Treat e, depois, pelos selos independentes americanos do 80's e 90's, por exemplo).
Pedro G,
Em primeiro lugar, é muito legal debater musica com alguém tão entendido no assunto. Concordo substancialmente com o que escreveu. Eu também pensava muito nessa linha, até ter uma visão maior do trabalho do Malcom, de como ele planejou os Pistols, como atuou e o seu trabalho pós-Pistols.
Só para você ter uma idéia, além dos Sex Pistols, veja o que o velho McLaren tem em seu currículo:
- após a dissolução da banda, viajou pela África com o produtor Trevor Horn, resultando num album multi-étinco chamado Duck Rock e foi responsável pela difusão do scratching pela Europa.
- com o disco seguinte, Soweto, nome de uma favela da África do Sul, ele levou o groove de lá para o mundo. Paul Simon ouviu e fez aquele disco dele.
- hoje trabalha com mídia, é solicitado por grandes companhias como a Coca-Cola, Nike e Minute-Maid para criar estratégias de marketing. Cobra caro.
- vai filmar a história do Peter Grant, empresário do Led Zeppelin, com todas as cenas bizarras do livro Hammer of the Gods - diz que quer acabar com a reputação do Jimmy Page e cia.
Musicalmente, a herança Pistols é excelente. Em termos de guerrilha artística-social, a indústria aprendeu e nunca mais será pega de surpresa, infelizmente.
Ah, e tem mais: o McLaren achou que o New York Dolls seriam seu Sex Pistols, estava errado, logo desistiu quando percebeu que eles queriam mesmo é ser os Rolling Stones. Adorou o que viu em NY, cabia como uma luva para o seu conceito. Convidou Richard Hell para ser vocalista dos Pistols - á época, ainda não tinha encontrado o Sr. Lydon.
Em entrevista recente, um deprimido Richard Hell falou que se arrepende muito de ter recusado a proposta, que a decisão é hoje ponto de frustração para ele.
Falou e disse.
O que o Gutje está fazendo da vida?
E onde está o Ameba?
Esse negócio de mostrar a bunda, não sei, não...
To achando que o gutje quer voltar...
Será que é o Gutje mesmo? Pode ser alguém usando o nome dele...
André, vou "usar" teu blog para fazer propaganda do livro "O diário da Turma" do Paulo Marchetti. É do caralho, comprem! Creio já ter lido umas dez vezes. Não deve ter sido nada fácil escolher um dos muitos (todos difíceis) formatos possíveis e realizá-los.
Clap, clap, clap.
Um abraço...
Aliás, algum outro "Paulo Marchetti" bem que podia mergulhar de cabeça num projeto do rock de São Paulo, igualmente cheio de muitas histórias pra contar.
Já o rock carioca, hmmm... Não, deixa pra lá.
Abraços...
Caralho neguinho é cheio de preconceito com a Cidade Maravilhosa, deve ser dor de corno por nao mora aqui...
Pessoal, só avisando que o site oficial da Plebe rude voltou!
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