terça-feira, março 07, 2006

O Jabá Nosso de Cada Dia.


Imaginem o seguinte cenário: gerentes de supermercados fazem uma reunião na qual decidem que somente venderão pão daquelas fábricas que pagarem uma certa quantia para que sua marca seja comercializada nas redes. Para tornar vantajoso o pagamento, os supermercados limitarão o estoque de pão a duas marcas – justamente aquelas que pagarem a tarifa imposta. Você vai ao supermercado e quer comprar pão integral marca Raiz, por exemplo. Não tem, pois quem fabrica Raiz não quis pagar a tarifa. Mas tem pão branco Pullman e Pullmenos. Pô, mas você queria integral e da Raiz! Tem que levar Pullman ou Pullmenos. Vai para outro supermercado, só tem essas duas marcas. Isso se repete em todos os supermercados de sua cidade, do seu estado, do país inteiro! As fábricas que entraram no esquema agora não se preocupam com a qualidade de seus produtos, pois o mercado é praticamente só deles. O consumidor sai perdendo, comendo pão ruim e caro.

Jabá é isso. Limita a opção do consumidor, que no caso das rádios é o ouvinte. Um leitor do blog escreveu: já reparou que quando você muda de estação está tocando a mesma música noutra estação? Estatisticamente, isso é muito fácil de acontecer, tendo em vista que as playlists das rádios, a lista das músicas que podem tocar, é de aproximadamente vinte. Ou seja, num mesmo dia, ficam rodando as mesmas vinte músicas em todas as rádios comerciais.

Rádio, no mundo todo, é concessão governamental. Só que aqui no Brasil é usado como premiação para políticos. Reparem que sempre por trás de uma estação de rádio, tem um político. Rádio também é cultura. Com o esquema do jabá rolando, que limita a opção e variedade musical transmitida, o papel cultural não está sendo representado. O que o ministro Gil está fazendo sobre isso? Nada! Não chega a ser estranho, quando se descobre que ele foi um dos beneficiados pelo filtro jabazento que ocorreu nos anos 80s. Vejam o que revela o André Midani, que deixou a indústria fonográfica há cerca de três anos e em 2003 denunciou publicamente os mecanismos do jabá, em recente entrevista ao JB:

- Eu paguei jabá para Gilberto Gil tocar nas rádios e pagaria de novo. Não me arrependo porque muitos desses artistas que hoje são os pilares da música brasileira talvez tivessem demorado muito mais para acontecer, ou talvez não tivessem acontecido com tanta luminosidade se não tivessem tido, no meio de outras opções promocionais, o jabá - afirma Midani.

Quer dizer, se as regras de mercado e gosto popular agissem, talvez Gil não seria um dos “pilares da MPB”, talvez seria o Tom Zé. Aliais, Tom Zé para ministro da cultura já!

O jabá também serviu para matar a figura do DJ de rádio. Lembram-se como era? O DJ vasculhava lojas, garimpava acervos de gravadoras e tocava no seu programa aquilo que gostava. Cada programa tinha a cara do respectivo DJ e os ouvintes se identificavam de acordo com o estilo tocado. Hoje não, o DJ é meramente um tocador de discos, de acordo com uma playlist determinada por uma diretoria que não entende nada de música, só de contabilidade. Do jeito que está estruturado, nunca mais teremos um Maurício Valadares, um Kid Vinil, um programa HellRadio ou Novas Tendências do José Roberto Marr.

Eu acho que jabá é tão sério, que fere tão gravemente as leis de mercados, que caracteriza dumping econômico, concentração de mercado e assim sendo, deveria ser caso do CADE, do ministério da Fazenda, e não da Cultura. Ainda mais quando o Ministro Gil dá uma declaração assim sobre o tema: "A criminalização dele é que eu me pergunto como será. Onde estabelecer uma dimensão claramente criminosa?"

Fácil, ministro! Veja como é feito na Europa, nos EUA, no Chile, onde um caso comprovado de jabá gera multas milionárias aos envolvidos!

As gravadoras são burras em ficar pagando jabá. Isso incentiva até a pirataria, que concentra as suas ações nas faixas executadas nas rádios. Se deixassem correr solto, a segmentação musical prevaleceria, e seria mais difícil, num mercado segmentado, saber o que piratear. Sem a camisa de força do jabá, do controle da radiodifusão pelas estações, poderiam arriscar mais.

Parece que a praga passou para o meio artístico em geral. Na Veja desta semana, denúncia do esquema do Ratinho sobre cobrar para entrevistar o Lula e falar bem dele. Quer dizer, a opinião de alguém como ele, figura pública, influente junto ao povão, está a venda. É o jabá político! Tudo por dinheiro! Todos tem seu preço!

Isso tem que acabar! Mas não vejo nada acontecendo no futuro próximo. Só a qualidade de nossa música piorando.

23 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom texto. Parabéns! Concordo com tudo o que foi dito.

Grande abraço,
Eduardo Reis.

André Mueller disse...

Raul, matéria paga, quando pega e comprovada, mancha a reputação do jornal ou revista. Já no meio de comunicação rádio, isso não acontece. Credibilidade não é importante para as estações. Não sei se seus exemplos são jabá ou não, mas são condenáveis do mesmo jeito.

Anônimo disse...

andré, esse é um tema muito bom para o blog, e aliás você deveria, de alguma forma, sempre falar sobre isso.

sobre o jabá nas rádios brasileiras, o que eu acho pior é o fato de música ruim, lixo americano, ficar tocando sem parar aqui.

eu não escuto rádio praticamente, e pra mim rádio já era. Internet e mp3 são a salvação. Graças a isso desde o ano 2000 venho conhecendo mais e mais bandas, as quais nunca uma radio, a mtv, e as gravadoras iriam me deixar conhecer!

a mtv ainda tem seu espaço pra "bandas novas". Nas radios há rarissimos programas que se destinam a isso...

andré, você que é do meio, me diga qual é a diferença de uma gravadora pagar o jabá pra tocar na rádio ou passar o clipe na mtv, para uma divulgação de um disco novo de uma banda? existe diferença? por mais que a divulgação seja honesta, é quase a mesma coisa, não?

jabá pra mim é quando a gravadora bota a banda pra tocar em certo programa da globo, ou manda a banda pra uma certa entrevista ou matéria inutil na mtv, além das radios...é tudo falcatrua

eu nao acredito em disk mtv, nem em top 10 de radio nenhuma

realmente a musica "minha renda" tem tudo a ver com isso. As vezes nao é so o publico que fica desprovido de opções, as proprias bandas começam a fazer discos horriveis ou inuteis

F3rnando disse...

Sem mais. Perfeito.

Anônimo disse...

Falando em jabá me vem a rádio cidade a minha cabeça. Graças a Deus, faliu... e quem sabe agora, o disco da Plebe sai...

Anônimo disse...

FABIANO O QUE HOUVE COM A RÁDIO CIDADE, ELA ERA A RADIO ROCK AÍ DO RIO GRUPO 89 FM SÃO PAULO OU EU ESTOU ENGANADO ????

ME FALE

Anônimo disse...

o grupo bandeirantes comprou a 89 fm de SP nao foi?

agora nao sei se isso teve influencia na do rio

o grupo bandeirantes comprou tb a radio brasil 2000. Essa radio eu acho que nao tinha jabá, era uma radio boa, mas acabou-se

Anônimo disse...

Não quero parecer pessimista, mas não acredito no fim do jabá, mas sim no fim das rádios. A internet chegou para acabar de vez com esses executivos de merda que existem nas grandes gravadoras. Aqui em SP, a Brasil 2000 já era - e ela não trabalhava com jabá, pelo menos não como as outras.
A 89 FM tá indo promesmo caminho, mas no caso dela o jabá está tão na cara que, ao tocar uma música de arquivo, por exemplo, The Cure, ela escolhe a música de trabalho de 1979, Boys Don't Cry. É realmente de chorar.
A cara de pau do jabá é tão grande em emissoras como MTV e Multishow que em seus programas de parada sempre a a tal faixa plus ou faixa extra que é um clipe que entra após o nº 1 da parada. Quer mais jabá explícito que isso?
Mas enfim, tenho na minha cabeça que o mesmo estrago que a internet fez com as grandes gravadoras - que es~tão todas quebrando, a mesma coisa acontecerá com as rádios. Essa é nossa vingança! É ou não é fantástico saber que a EMI teve que despedir 2000 funcionários, que a Warner que ocupava 3 andares de um prédio hoje tem apenas duas salinhas... isso é lindo. É a vitória do mercado independente. É o caminho natural.
Hoje eu não preciso de rádio ou MTV pra me dizer o que é bom. A internet me dá o que exatamente procuro.
A morte do jabá será natural. E a paciência é a grande virtude do homem.
Viva a Plebe!!!

Anônimo disse...

BRASIL 2000 ERA BACANA MAIS SEMPRE ROLOU UMA JABAZINHO DE LEVE , GOSTAVA MUITO DO TATOLA (VOCAL DO NÃO RELIGIÃO) ALGUÉM LEMBRA ????

89 SEMPRE FOI UMA LASTIMA JABÁ ATRÁ DE JABÁ

André Mueller disse...

Paulo, sábias palavras, como sempre. A vingança será essa mesma! E será linda!

Anônimo disse...

Nao defendendo a radio cidade, mas, sem ela, como fica a divulgaçao do novo cd da plebe?
E se fosse tocar a musica de trabalho do novo cd na Cidade, nao teria que rolar um jabá?
Houve jabá p. tocarem o primeiro disco da plebe, que vendeu 100mil?

Anônimo disse...

Pessoal,

Talvez o André possa explicar melhor, mas até onde sei (uns 10 anos trabalhando em majors, mas na área de TI, OK!), os artistas nunca levaram mais de 10% da receita bruta de cada unidade da obra. É assim com livros, também. Nojento. Dá até ância.

Músico ganha é fazendo shows...

- Estou certo, Lombardi?
- Okêêi, patrão, e se o artista não ganha, quem ganha é a carta, e a carta é sua, Silvio!!!

Anônimo disse...

O que aconteceu com a rádio cidade RJ não sei... Só sei que para o bem dos meus ouvidos aquela porcaria saiu do ar... AInda bem,, pq iria ficar muito puto se eles não tocassem uma música nova da PLEBE...

Anônimo disse...

è, mas a radio cidade era a unica que iria tocar a plebe,...

Anônimo disse...

O que aconteceu com a Brasil 2000?? Ela acabou? Acho estranho pois no site parece que está tudo funcionando normalmente...

Aqui em São Paulo pelo menos ainda existe a Kiss, essa nem tem como fazer jabá, pois só toca rock clássico, até o começo dos anos 90

Anônimo disse...

Perfeito o texto Mr.x
agora,estamos vendo seu blog todo enfeitado,bonito,com textos muito interessantes feitos pelo sr,só que queremos saber qdo sai o novo cd,tendo em vista q passou o carnaval,certo?

Abraços

Anônimo disse...

em Fortaleza tem essa Oi FM tb, e ela entrou aqui no lugar da radio rock, filiada da 89 FM de SP, que nao durou nem 1 ano por aqui

como eu disse antes, a brasil 2000 foi comprada pelo grupo bandeirantes, e a 89 FM tambem

a internet é a salvacao da gente. E as gravadoras estao se lascando

Anônimo disse...

Pessoal, pra quem mora no Rio, o único programa dedicado ao Rock, com o fim da rádio Cidade, é o "Machine Head", que é transmitido pela Tribuna FM(88,5), de segunda a sexta, das 20 até a meia-noite. Com certeza eles tocariam a música da Plebe Rude, eles atendem a pedidos, basta que eles tenham a música ou que você a envie. Por exemplo, eu pedi para que tocassem uma música do Cólera, que tocassem "Águia Filhote" e vão tocar. Eu já pedi Garotos Podres, Motorhead e Dead Kennedys e eles tocaram.

Quem mora no Rio nunca ouviu essa rádio? Nunca ouviu esse programa? Quando tocarem Cólera, eu passo por aqui pra avisar e, sem sombra de dúvidas, tocariam qualquer música da Plebe Rude.

Mas, como disse, é um programa dedicado ao Rock, e, por isso, também toca músicas bem diferentes das músicas das bandas que eu citei aí em cima. Pra ser mais claro, toca músicas de bandas comerciais.

Isso por enquanto, pois o programa é feito de pedidos, e se mais pessoas fizerem como eu e pedirem músicas de bandas que pouco ou nada são executadas nas grandes rádios, mais eles tocarão e a programação melhorará.

Esta é a comunidade do programa, para quem quiser saber mais informações e fazer pedidos: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7274675

F3rnando disse...

Ainda na seara "Jabá", eu queria lançar uma pergunta pro André e pros outros colegas transeuntes aqui do blog: "Quem diabo é Jay Vaquer, de onde saiu esse cara?!" Ele é o pior jabá desde o Dr. Silvana & Cia!

Anônimo disse...

ESSE JAY GAY É UM CARA QUE A JOVEM PAM TOCAVA NO HORÁRIO DA MANHÃ NOS PROGRAMAS DE NOTICIAS ENCHERAM TANTO A PORRA DO SACO QUE AS OUTRAS RÁDIOS ACABARAM GANHANDO UNS TROCO PARA TOCAR SE NÃO ME ENGANO TEM ATÉ CLIPE NA MTV

F3rnando disse...

Cícero, têm e toca no Top 10, 20, 30, 40, 50 Brasil. Nunca vi um disco desse sujeito, nunca vi entrevista dele em canto nenhum, nem notícia dele tocando nessas casas milionarias alugadas. Mas isso é problema dele, o meu é querer ver uma banda independente que eu sei que tem clipe bacana passar no lugar desse pulha, e ela não passar pq a gravadora dele pagou jabá e o independente legal não pagou e não passa.

Anônimo disse...

Por isso, mesmo que no ouço mais rádio, além do que aqui na minha Cidade tem muita propaganda no rádio...saco.
Eu pego CD e ouço o que eu quero ou baixo na internet.
"O jabá é o grande mal da música"


abraço.

Anônimo disse...

CARA,
GOSTEI DE SEU BLOG E GOSTARIA DE ENTRAR EM CONTATO COM VOCÊ... DESDE JÁ DEIXO MEU E-MAIL... PORQUE ESTOU A FIM DE ENTREVISTAR VOCÊ...

JANKO
jankomoura@yahoo.com.br